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Sunday, September 4, 2011

EVANGELHO SEGUNDO S. METEUROS: O Baptismo de G.C.

Naquele tempo, havia muita gente que aguardava o Mexias, mas uns aguardavam mais do que outros, pois estavam em lugares de nomeação política e receavam perder o tachito. Entre estes, estava Jurão Artista que passava tardes inteiras a perorar sobre o Reino do C.E.U. (Clube Europa Unida). 
As suas palavras eram duras, pois exortavam à conversão a uma moeda que havia de encarecer a vida a todos os já pobres habitantes da Ajudeia. Assim falava ele, a quem tivesse pachorra para o ouvir:
- Em verdade verdadinha vos digo, ò polidores de esquinas, coçadores da micose e outros parasitas inúteis, que se aproxima um tempo em que haveis de querer um creditozito para pagar a  pocilga onde viveis e ter de pagar tais juros que mais valeria atarem uma mó  pescoço e saltar para um rio um pouco mais profundo que este, que leva pouca água! 
- Mas ò Profeta - atreveu-se um dos seus ouvintes a interromper - que culpa temos nós? nem sequer ninguém nos perguntou se queríamos ou não aderir a essa moeda!
-Isso é que é falar, Borrabotas - atalhou logo Simião, assim chamado por ter cara de símio avantajado- e o tratado de Maistriste? e o Tratado de Lixoa? alguém nos pediu opinião sobre isso?
- CALEM-SE, RELES CONTRIBUINTES - Ouviu-se alguém dizer, autoritário, no meio da pequena multidão que viera trocar os seus escudos pela nova moeda, ficando assim doravante desprotegidos. 
O  vozeirão era de G.C. que avançava, majestoso, para a margem do rio - FICAI SABENDO QUE AQUI O JURÃO ARTISTA SABE MAIS DE CONTABILIDADE CRIATIVA DO QUE VÓS SABEIS CONTAR PELOS DEDOS.
Ora isto intimidou e muito, os indigentes que para ali estavam, pois nenhum deles fazia a mínima ideia do que fosse a tal coisa criativa e todos receavam passar por ignorantes visto que grande parte deles nem pelos dedos sabiam contar. 
Vendo o efeito destas palavras, Jurão Artista que chegara a recear um motim, aproximou-se comovido de G.C. e, olhos no chão, perguntou-lhe:
-És tu o Mexias que se fez anunciar?
- Com a quantidade de inimigos que tenho, achas que eu me faço anunciar, ò tenrinho? -admoestou-o G.C. - Nada disso: vim aqui para me candidatar aos Financiamentos do C.E.U. Sabes de que falo, não sabes? aqueles que não é preciso prestar contas nem devolver nada. Estou a precisar de construir uma nova Mansão e comprar um Carrão digno do meu estatuto. Claro que ambos serão registados como gastos com a minha Empresa: a Mansão será a sua sede e o carrão o veículo da Empresa.
-Mais devagar, rapaz- aborreceu-se Jurão Artista- isto não é para todos, é para quem pode. Tens cartão laranja? cartão rosa? outro cartão?
Furioso, G.C. passou diante do nariz do interlocutor um cartão dourado.
- Era o que faltava que eu, que financio essas cores todas e ainda outras que desconheces, tivesse agora que ser confundido com a escumalha. Toca mas é a trabalhar, ò barbudo. Regista aí: nome da Empresa: «Eu, Me, Mim, Migo e C.ia a mim limitada». Actividade: mungir contribuintes internacionais. Sede: em minha casa. Já está? ainda bem. Arranja-me lá uma verba simpática que este é o meu baptismo nestas coisas de sugar o Estado: até aqui só tinha sugado pessoas e pequenas corporações!!!
E ouvindo isto, os cromos que por ali ainda estavam murmuraram uns para os outros:
- Mas que homem é este que não receia dizer em voz alta todas as trafulhices que faz? só alguém com muito poder ousa falar assim, pois que para os desgraçados a Justiça e o Fisco não só têm visão de águia, como também são campeões de velocidade. Já para estes, todas as Autoridades são cegas, surdas, mudas e tetraplégicas...'
Ouvindo estes rumores, G.C. riu-se e respondeu:
- Ficai sabendo que isto não é nada: esperai até ver os milagres que vou fazer com estas verbas!...


(continua no próximo Domingo)



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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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