Rubrica: os filmes da minha vida por Sir por Sir Frank Goethe Wally Wood
Todos os filmes ou séries de televisão que se dedicam a assassinos impenitentes têm, do outro lado da barricada, um profiler ou perito psicólogo, capaz de entrar na mente do criminoso e prever o seu passo seguinte, farejando mentalmente o seu trilho como um cão bem adestrado.
É uma visão ridícula, um conceito que nunca poderia andar a reboque da realidade, por dela estar completamente desatrelado!
Em comum, todas estas ficções têm o facto de endeusarem a suposta inteligência, instinto e coragem do criminoso. Vemos muitas vezes que o próprio profiler, suposto herói da história, chega a admirar aquele que persegue.
Deixo aqui algumas reflexões que desmontam a tão decantada tese do assassino inteligente.
a) Numa sociedade pacífica, onde ainda reine alguma confiança no próximo, não é necessário inteligência para atrair a confiança de alguém e de seguida fazer-lhe mal: basta ser-se canalha. Com isto quero dizer que um assassino em série não precisa de ser mais inteligente que um miúdo que puxa subitamente a cadeira onde o seu colega se sentaria, aproveitando a confiança do outro em algo que já não está lá para o fazer estatelar-se no chão.
b) o que é dito da inteligência na alínea anterior aplica-se também à coragem: o acto de assassinar alguém cujo único erro foi confiar em nós é uma das mais vis cobardias que eu posso conceber!
c) O instinto vem do mais profundo de cada um de nós, de uma zona obscura que nada tem a ver com a nossa individualidade ou a personalidade específicas.
Podemos, naturalmente, sentir-nos atraídos por essa poderosa força que mal compreendemos. Mas não faz sentido falar desse espectro a que alguns chamam - com alguma razão - memória colectiva, enquanto coisa PERSONALIZADA.
Podemos, naturalmente, sentir-nos atraídos por essa poderosa força que mal compreendemos. Mas não faz sentido falar desse espectro a que alguns chamam - com alguma razão - memória colectiva, enquanto coisa PERSONALIZADA.
Por outro lado, para contrabalançar, o profiler é uma espécie de assassino em negativo.
Ou seja, tem pelo menos as mesmas capacidades deste, compreende-lhe o impulso, a fantasia, os seus próprios desejos íntimos, só que não usa toda essa identificação que sente com o criminoso para matar e sim para caçá-lo. Isto também é um mito insustentável, por duas razões:
a) motivações diferentes conduzem a acções diferentes mas motivações semelhantes tendem a produzir resultados semelhantes
b) o profiler real, a existir, anda sempre atrás dos acontecimentos, não à frente deles - prevendo-os - como se vê nos filmes.
Ou seja, tem pelo menos as mesmas capacidades deste, compreende-lhe o impulso, a fantasia, os seus próprios desejos íntimos, só que não usa toda essa identificação que sente com o criminoso para matar e sim para caçá-lo. Isto também é um mito insustentável, por duas razões:
a) motivações diferentes conduzem a acções diferentes mas motivações semelhantes tendem a produzir resultados semelhantes
b) o profiler real, a existir, anda sempre atrás dos acontecimentos, não à frente deles - prevendo-os - como se vê nos filmes.
Isto porque o assassino - psicopata ou não - começa por ser, como todos nós, um enigma para si próprio: ele actua quase sempre mais em função das circunstâncias específicas (oportunidade e impulso), do que seguindo um padrão geométrico planeado e como tal decifrável.
A ideia que concebe este tipo de criminoso como alguém que possui inquietações estéticas (de Quincey comparou o assassínio uma das Belas-Artes) também não resiste a uma análise mais séria.
O desejo de escapar ao castigo que o acto implica é a única inquietação que ocupa o assassino: antes do acto, o criminoso que premedita considera a possibilidade de haver testemunhas, deixar provas ou deparar com outras circunstâncias inesperadas, das quais a possibilidade de inesperada resistência da vítima é das mais preocupantes.
Depois do crime, as preocupações são parecidas mas referentes ao passado: alguém terá visto? terá deixado provas? os cadáveres estarão bem escondidos?
Que estranho conceito de Arte andará por este tipo de inquietação? a de escapar impune? mas isso entra em contradição com outra ideia feita destes filmes: a vontade semi-inconsciente ou inconsciente de ser descoberto.
Se isso fosse verdade aliás, não haveria mérito nenhum no profiler, pois o rio aqui (o Killer) limitou-se a correr para o mar (a prisão).
Mas isto é falso por outra razão. Na verdade todos sentimos um certo fascínio pelo que nos aterroriza.
Os assassinos ainda incógnitos vivem como é óbvio aterrorizados pela perspectiva de serem descobertos, até porque construíram uma imagem social (a que estão bem apegados) de gente de bem.
Podem portanto sentir-se de alguma forma aliviados quando já não têm de esconder mais nada. Mas isso não quer dizer (muito pelo contrário) que quiseram ser descobertos.
Quer apenas dizer que a natureza humana é tão instável que procura adaptar-se sempre a cada nova situação, extraindo dela as vantagens que julga possíveis!
O desejo de escapar ao castigo que o acto implica é a única inquietação que ocupa o assassino: antes do acto, o criminoso que premedita considera a possibilidade de haver testemunhas, deixar provas ou deparar com outras circunstâncias inesperadas, das quais a possibilidade de inesperada resistência da vítima é das mais preocupantes.
Depois do crime, as preocupações são parecidas mas referentes ao passado: alguém terá visto? terá deixado provas? os cadáveres estarão bem escondidos?
Que estranho conceito de Arte andará por este tipo de inquietação? a de escapar impune? mas isso entra em contradição com outra ideia feita destes filmes: a vontade semi-inconsciente ou inconsciente de ser descoberto.
Se isso fosse verdade aliás, não haveria mérito nenhum no profiler, pois o rio aqui (o Killer) limitou-se a correr para o mar (a prisão).
Mas isto é falso por outra razão. Na verdade todos sentimos um certo fascínio pelo que nos aterroriza.
Os assassinos ainda incógnitos vivem como é óbvio aterrorizados pela perspectiva de serem descobertos, até porque construíram uma imagem social (a que estão bem apegados) de gente de bem.
Podem portanto sentir-se de alguma forma aliviados quando já não têm de esconder mais nada. Mas isso não quer dizer (muito pelo contrário) que quiseram ser descobertos.
Quer apenas dizer que a natureza humana é tão instável que procura adaptar-se sempre a cada nova situação, extraindo dela as vantagens que julga possíveis!
Bom Sábado, amigos, e até para a semana...
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