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Sunday, June 5, 2011

Livro IV - O Livro dos Jobs (e dos Boys)

Estando o Todo-Proprietário farto das queixinhas dos seus Boys, mandou chamá-los e mui passado da sua eleita mona, disse-lhes assim:
- Que mais quereis, ò ingratos? tudo vos tenho dado, mesmo recorrendo a sucessivos empréstimos que outros hão-de pagar por nós!| Carros, Guarda-Costas, Motoristas, Assessores, mais Tachões, Tachos e Tachitos para amigões, amigalhaços, amiguitos e amiguitas mas ainda quereis discutir comigo quem ocupa que cargo, e a quem colocar como número um, número dois e restantes posições na lista dos elegíveis. E fazeis birrinhas, e prometeis bater com a porta, como se alguém se incomodasse com isso! achais que não há quem vos substitua? olhai que se eu abrisse concurso público para os vossos lugares, com o desemprego que por aí grassa e com as mordomias de que disfrutáis, haveria uma fila de candidatos de norte a sul desta desgraçada terrinha! Não pondes os olhos naquele outro da velha Bíblia (o tal de Job) que, mesmo diante da verdadeira desgraça dizia «Ele tudo me deu, ele tudo me tirou, abençoado seja o Seu Santo nome»?
Os boys ouviram-no algo incomodados com estas reflexões, mas logo um, de nome Gandhalata, lhe falou assim:
- Em verdade verdadinha te previno que tudo o que nos dizes, ò Todo-Pretencioso, nos entra pelo ouvido esquerdo a cem e nos sai pelo ouvido direito, a duzentos. Não te recordarás tu, porventura, que todas as benesses de que disfrutamos são a justa paga por todo o apoio que te temos dado e que tudo o que nós possuímos tu superas em dobro, triplo, quadruplo ou até mais, se te comparamos com o mais teso de nós? Não te reconhecemos, ò falso Demiurgo, nem moral, nem idoneidade, nem poder para nos atirares à cara com o que quer que seja, até porque as verbas que utilizas para satisfazer os nossos parcos apetites são tão tuas como nossas, ou seja, foste pedi-las a um outro Deus, esse sim, senhor de todos nós! quanto a ti, fica sabendo que a qualquer momento podemos, se isso nos servir, apear-te do teu altar e «coser» outro deusito mais a nosso jeito! estamos conversados?
Fumegando pelos ouvidos, o Todo-Partidário levantou-se, punhos no ar, e falou assim:
- Ah, ingratos! ficai sabendo que ainda vos posso tramar a todos, a todos mesmo, entendido? basta-me denunciar-vos aos que andam a pagar os vossos luxos, com juros astronómicos, para vos ver reduzidos à mais hedionda miséria! e que fareis então, vós, seus incapazes, que jamais soubesteis ganhar o vosso pão honestamente, hein? a maioria de vós nem um emprego de porteiro encontraria, pois ninguém de bom senso vos confiaria a guarda de coisa nenhuma, ò patifes!
A esta ofensiva diatribe, que mui inquietou alguns dos seus boys mais fieis, Cudejudas, novel seguidor de Gandhalata, venceu a sua costumeira apatia e falou assim:
- Entendo-te, ò Todo-Partidário, mas apoio quem antes de ti falou, porque bem sabes que para nos denunciares àqueles que tudo pagam, terias de te denunciar a ti também! E eu sei (todos sabemos, aliás) que não tens aquelas partes do corpo que te dariam força e firmeza para as defenderes. Como explicarias, aos pobres de espírito, que andaste a ajudar a sustentar os tantos vícios que nos acusas, se nessa matéria estás longe de ser um exemplo para quem quer que seja? nota que nós, apesar de tudo, somos os pequenos pastores de muitos rebanhos que tu, na tua pretensa Omni-Propriedade, já consideras como exclusivamente teus. Pois declara-nos essa guerra e verás para que pastos passaremos a conduzir o nosso gado!
Por causa destas sábias palavras gerou-se grande borburinho, e surgiram duas posições inconciliáveis: a dos que queriam manter os seus privilégios, por saberem que dificilmente teriam melhor e por isso apoiavam o actual cleptocrata, e a dos que já se viam promovidos a posto (ou pasto?) mais promissor, convertidos agora às ousadas posições de Gandhalata. 
Depois das habituais troca de insultos, acusações e insinuações, logo que algumas vozes começaram a enrouquecer, eis que se levanta da sua poltrona, o decano Eshcavacakeios para assim falar:
- Caros contachistas, tenho a lembrar-vos que não somos a única família que luta por estas mordomias e privilégios. Temos portanto duas opções: ou continuamos a esgadanhar-nos uns aos outros, quais gatos toldados pelo cio, entregando assim, de mão beijada, as nossas mordomias a outros, ou nos entendemos, de vez e, esquecendo o muito que nos separa, abraçamos o muito que cada um de nós já tem, tentando chegar aos acordos possíveis que nos assegurem o que já conquistámos! que dizeis?
E esta sábia intervenção recolheu os aplausos de todos, pois pior que deixar o Todo-Fingidor no seu Altar,  seria sempre permitir que outra «Famiglia» se aboletasse com os enormes recursos dauqela Santa Terrinha que, não sendo das mais ricas, ainda lhes permitia mesmo assim uma vidinha folgada, bem nutrida e melhor regada com a melhor «pinga» dessa grande vinha à beira mar plantada!

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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