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Thursday, June 30, 2011

As famílias endividadas por Lilith Lovelace.

Um novo fantasma ensombra a Europa e o Mundo: o fantasma das dívidas. À partida, este parece um fantasma familiar, caseiro, dos que periodicamente (regra geral pelo fim do mês) correm as casas e tugúrios dos menos afortunados, dando-lhes noites insones e dias de contínuas preocupações traduzíveis em carências muito concretas, do tipo : «e agora onde vou arranjar dinheiro para pagar os estudos da Vanessa, os remédios da avó Micas, a mercearia, os sapatos novos do Sandrinho?».
Não haja equívoco algum: este fantasma não é desses, dos que aparecem quando há falta de liquidez e desaparecem nos primeiros alvores do dia em que se recebe o salário, ou a devolução do IRS. O que há de novo neste fantasma é o facto de continuar a apavorar dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, não só as habituais famílias ditas carenciadas como as outras, as que até aqui se classificavam como desafogadas. 
Ou seja: o que há de novo neste fantasma é o risco da sua eternização pois nenhum dos exorcistas (leia-se economistas) chamados à liça sabe como erradicá-lo dos lares onde se instalou e todos, desgraçadamente,confessam a sua impotência básica perante os poderes da Trevas.
Como chegámos a este ponto? como pode haver assim um fantasma que tantos assusta com as contínuas subidas de taxas (as bancárias e as fiscais) e descidas de salários (para os pobres e remediados) e o movimento inverso para os outros, os abastados, grandes adeptos deste fantasma? já temos fantasmas classistas? 
Pois parece que sim, que temos: já há alguns anos atrás, perante a ofensiva que se desencadeou contra os «privilégios» dos trabalhadores, me parecia inevitável que esse movimento que tanto atacava os chamados direitos adquiridos, havia de resultar no benefício das «castigadas» élites. 
Quem se der ao trabalho de investigar como se foi cavando, nestes anos de chumbo, o enorme fosso entre os que tudo têm e os que já nada podem reclamar, não pôde deixar de compreender a quem beneficiou o fim dos ditos privilégios dos trabalhadores. 
E o que se mostrava, à grande maioria da população ainda não convencida das sucessivas «liberalizações» das leis laborais e das regras da concorrência (isto é, da entrega a alguns  privados de tudo o que era lucrativo no sector público), era que esse fantasma (ou monstro?) da dívida pública, não parava de crescer. Um dia, diziam-nos, esse monstro seria enorme e acabaria por nos devorar a todos. 
Mas ao mesmo tempo, quem dizia isto, não parava de fazer aprovar Leis que exigiam que o Monstro fosse alimentado: a desregulação dos sectores bancário e empresarial, as campanhas agressivas do crédito fácil, as benesses fiscais aos grandes responsáveis pelo endividamento público e privado (os Bancos, quem mais?).
Foi esse o terreno fértil dos monstros, miasmas e fantasmas que agora se passeiam, por muitos lares, em muitos países dos cinco continentes, assustando até ao pânico mortal muitas as famílias, sobretudo aquelas que já estavam bastante endividadas. 
Que fazer agora? estaremos condenados a aturar este fantasma que, como todos os outros, é produto de algumas mentes retorcidas? 
Um amigo que escreve obras de ficção, costuma dizer-me: tudo o que regula a nossa vida é ficcionado: a nossa identidade, as nossas memórias, as nossas amizades e amores. Porque haveria de ser diferente com a Economia? essa é uma das maiores ficções jamais concebidas pelo ser humano.
Não duvido que ele tenha razão (sei que a tem, aliás) mas o problema que se nos coloca é este: que ficção escolheremos para substituir esta que já tresanda?

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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