Naqueles tempos, vivendo o Reino Jádeu em sérias dificuldades, o Rei Erodes resolveu taxar todos os bens, depois de ter andado anos a fio a taxar só os pobrezinhos. Informado disso por um Anjo (assim se chamava o seu contacto no Mistério das Finanças), Jesó assim falou a Miraia:
- Mulher: trata de fazer as malas que eu vou ao banco transferir tudinho para um off-shore. Como aqui não deixo nem um tusto, temos de ir viver para lá, não vá também o Erodes deitar-me a unha por causa disto. Como lá devemos ficar sete anitos, vou precisar de pelo menos sete pares de peúgas e sete cuecas, que eu não sou obcecado pela limpeza mas também não quero cheirar pior que os outros...
E assim fizeram: em menos de meia-dúzia de horas, Miraia, Jesó e o pequeno G.C. estavam dali para fora.
Ah! levavam com eles um burro, por sinal chamado Polivalente pois fazia de tudo: cozinhava, dava o biberão ao crianço, mudava-lhe as fraldas, lavava a roupa, carregava com qualquer deles às costas, ajudava-os a sentar e muito mais coisas e fazia tudo isso sem salário e sem direito a vínculo, sem segurança social, sem qualquer direito!
*
A família passou uns anitos no Dáguito, paraíso fiscal de alguma alta finança, até que o mesmo Anjo mandou um email a Jesó dizendo: «podes vir pah: o Erodes já era! agora temos outro Erodes (falta de originalidade, a de quem dá os nomes aos nossos Reis) mas este protege os escroques como tu!»
E Jesó, que nunca se tinha adaptado àquela vida descansada mas inactiva e já começava a ter saudades dos seus negócios duvidosos, nem para trás olhou: é que no raio daquele País havia muita gente a querer «enrolar» os outros e eram muito poucos os outros que ainda se podiam enrolar!!!
*
Instalado com respectiva família numa santa terrinha de nome Razané, desde cedo o garoto deu nas vistas por opinar sobre tudo e sobre todos com a autoridade de quem reduz o mundo a uma monolítica visão baseada na economia.
É assim que, com a idade de doze anos, o vamos encontrar entre accionistas, empresários, economistas e outros Místicos da Religião do Mercado. Bom, na verdade quem o vai encontrar é a sua Mãe, que já o procurava aflitinha por tudo o que era recanto:
- Ah estás aqui, ò grande maroto! e eu a imaginar os piores filmes sobre o que poderia ter-te sucedido!
-Ora Mã, tenha calma - responde impertubável o garoto - que mal me podia acontecer?
-Sei lá: caíres a um poço, seres atropelado por um carro de bois, seres crucificado...pode acontecer tanta coisa!
- Ufff! só isso, Mã? cheguei a ter medo: pensei logo em coisas como ser roubado, ir à falência, ver os meus bens rematados em leilão ou, ainda pior: descobrirem que eu tenho «inside information» que me permite saber quais as empresas que estão a «dar» e quais as que se vão afundar antes que o Aminejhad, que é o Diabo, pisque um de seus olhinhos pequeninos, tique aliás nele muito frequente!
Os Doutores da Lei (isto é, a malta do carcanhol) muito se maravilharam por ver tal precocidade naquele fedelho que ainda nem acne tinha na cara: 'quem é este repolho que sabe mais destas coisas que o Grão Mestre da Nossa Ordem Oculta?' perguntavam-se entre si!
Perguntavam-se mas não tiveram resposta porque o G.C. já ia dali para fora, levado pelo braço pela mãe.
E este é o único episódio que se conhece dos tenros anos do Mexias, ou Profeta das Massas (as que sabemos).
A partir daqui, vamos encontrá-lo já adulto mas sempre fazendo «milagres». E cada milagre...
(continua no próximo Domingo)
A partir daqui, vamos encontrá-lo já adulto mas sempre fazendo «milagres». E cada milagre...
(continua no próximo Domingo)
Interessante alegoria.
ReplyDeleteEntretanto, umas espécies de burros entraram em risco de extinção, mas outros bem pelo contrário (cada vez mais poli que valentes)...
Pelo gizar, este evangelho promete agitar e aquecer as massas...