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Thursday, July 28, 2011

As famílias escapistas por Lilith Lovelace.

Que fazem as pessoas quando têm pela frente um daqueles problemas que parece insolúvel? 
Exceptuando uma muito reduzida minoria, que se atira de corpo inteiro para cima dos «cornos do touro», quase todos fazemos o mesmo: inventamos um problema mais pequeno e escondemo-nos atrás dele. 
Na maioria das vezes, o problema inventado é tão mesquinho e ridículo que só convence o seu criador: os outros, melhor ou pior, dão-se conta que o sujeito em causa está só a fugir de algo que ele (e às vezes só mesmo ele) considera  inominável .
A morte individual de cada um de nós é o exemplo extremo de como todos somos capazes de nos entreter diariamente com a vida, para não pensarmos no seu fim: vivemos como se não soubéssemos que vamos morrer e de certa forma, ainda bem que assim é pois a paralisia do medo da morte nada resolveria, só nos impedindo de desfrutar do que de bom a vida pudesse ainda ter para oferecer.
Há no entanto situações problemáticas menos extremas, não insolúveis, cuja resolução implicaria uma mudança de rotinas, esforço, concentração e um irredentismo que não está decerto ao alcance de todos. 
E outras que não exigiriam mais que alguma persistência, alguma coragem, algum amor-próprio.
Visto que humana sou e para humanos escrevo, não me vou dedicar aos grandes problemas metafísicos e também não sou das que sente grande prazer nos assuntos da morte e todas as existenciais questões que ela levanta. 
Terra-a-terra, quero apenas questionar-me sobre os grandes problemas solúveis a que quase todos continuamos a fugir. 
Perguntar porque hesitam tanto, tantos povos supostamente esclarecidos, em tomar o destino nas suas mãos, em lugar de os confiar aos mercenários da Alta Finança.
Porque neste ponto, já todos ou quase todos compreendemos a «natureza» da crise que vivemos: não é crise alguma mas um negócio altamente rentável para quem a produziu e agora a está a «gerir». 
Em País algum o sistema produtivo entrou em colapso. As transacções não deixaram de se fazer. As necessidades básicas não deixaram de existir, logo, continuaram a ter que ser satisfeitas, recorrendo ao mercado.
É certo que a emergência das novas potencias (os BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China) implicou maior pressão sobre as matérias primas e os recursos esgotáveis. Mas o essencial desta crise passou por outros processos de fabrico.
O capitalismo triunfante desde a queda do muro de Berlim, rasgou o contrato social e começou a olhar para a China como «glorioso modelo» da competição global: mão de obra escrava, processos de produção obsoletos e agressivos para com o meio ambiente (mas menos dispendiosos), em duas palavras: capitalismo selvagem!
Há anos que se pressentia e verificava a meteórica perda de direitos dos assalariados, a degradação dos serviços sociais e comunitários, a ruptura dos laços de solidariedade entre regiões.
Tal situação está a levar muitos países a verdadeiros confrontos civis. 
mas isto não preocupa os Senhores do Mundo (há até quem diga que esse é mesmo o seu objectivo último): eles bem sabem que quando a vítima não responde a uma agressão, alguém (que não o agressor) há-de pagar pelos maus-tratos (agressividade desviada?).
E é aqui que o Escapismo me revolve as tripas: custa-me que não se aponte hoje aos alvos certos porque sei que amanhã, sendo a situação ainda pior, sobretudo os tiros que acertarem hão-de duplamente falhar. 
Escapistas de todo o Mundo: não precisais de vos unir. A realidade, um dia, há-de fundir-nos a todos na mesma amálgama. Mas quanto mais não seja por razões egoístas (isto é, as vossas), não vos parece que já vai sendo altura de enfrentar a Besta?

1 comment:

  1. Muito bem Dr.ª Lilith. A grande família do planeta azul está cada vez mais disfuncional... a sofreguidão do lucro fácil, rápido e a qualquer custo, por um lado, e a crise de valores e de liderança política que redunda na falta de solidariedade (olhe-se para o caso europeu!!!), por outro, geram cada vez mais egoísmo e inveja. É pena que por necessidade de lutar para garantir a subsistência, os povos se esqueçam de lutar pelo direito a uma vida condigna.
    Valham contributos como o seu.

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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