Exceptuando uma muito reduzida minoria, que se atira de corpo inteiro para cima dos «cornos do touro», quase todos fazemos o mesmo: inventamos um problema mais pequeno e escondemo-nos atrás dele.
Na maioria das vezes, o problema inventado é tão mesquinho e ridículo que só convence o seu criador: os outros, melhor ou pior, dão-se conta que o sujeito em causa está só a fugir de algo que ele (e às vezes só mesmo ele) considera inominável .
A morte individual de cada um de nós é o exemplo extremo de como todos somos capazes de nos entreter diariamente com a vida, para não pensarmos no seu fim: vivemos como se não soubéssemos que vamos morrer e de certa forma, ainda bem que assim é pois a paralisia do medo da morte nada resolveria, só nos impedindo de desfrutar do que de bom a vida pudesse ainda ter para oferecer.
Há no entanto situações problemáticas menos extremas, não insolúveis, cuja resolução implicaria uma mudança de rotinas, esforço, concentração e um irredentismo que não está decerto ao alcance de todos.
E outras que não exigiriam mais que alguma persistência, alguma coragem, algum amor-próprio.
Visto que humana sou e para humanos escrevo, não me vou dedicar aos grandes problemas metafísicos e também não sou das que sente grande prazer nos assuntos da morte e todas as existenciais questões que ela levanta.
Terra-a-terra, quero apenas questionar-me sobre os grandes problemas solúveis a que quase todos continuamos a fugir.
Perguntar porque hesitam tanto, tantos povos supostamente esclarecidos, em tomar o destino nas suas mãos, em lugar de os confiar aos mercenários da Alta Finança.
Perguntar porque hesitam tanto, tantos povos supostamente esclarecidos, em tomar o destino nas suas mãos, em lugar de os confiar aos mercenários da Alta Finança.
Porque neste ponto, já todos ou quase todos compreendemos a «natureza» da crise que vivemos: não é crise alguma mas um negócio altamente rentável para quem a produziu e agora a está a «gerir».
Em País algum o sistema produtivo entrou em colapso. As transacções não deixaram de se fazer. As necessidades básicas não deixaram de existir, logo, continuaram a ter que ser satisfeitas, recorrendo ao mercado.
Em País algum o sistema produtivo entrou em colapso. As transacções não deixaram de se fazer. As necessidades básicas não deixaram de existir, logo, continuaram a ter que ser satisfeitas, recorrendo ao mercado.
É certo que a emergência das novas potencias (os BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China) implicou maior pressão sobre as matérias primas e os recursos esgotáveis. Mas o essencial desta crise passou por outros processos de fabrico.
O capitalismo triunfante desde a queda do muro de Berlim, rasgou o contrato social e começou a olhar para a China como «glorioso modelo» da competição global: mão de obra escrava, processos de produção obsoletos e agressivos para com o meio ambiente (mas menos dispendiosos), em duas palavras: capitalismo selvagem!
Há anos que se pressentia e verificava a meteórica perda de direitos dos assalariados, a degradação dos serviços sociais e comunitários, a ruptura dos laços de solidariedade entre regiões.
Tal situação está a levar muitos países a verdadeiros confrontos civis.
Tal situação está a levar muitos países a verdadeiros confrontos civis.
mas isto não preocupa os Senhores do Mundo (há até quem diga que esse é mesmo o seu objectivo último): eles bem sabem que quando a vítima não responde a uma agressão, alguém (que não o agressor) há-de pagar pelos maus-tratos (agressividade desviada?).
E é aqui que o Escapismo me revolve as tripas: custa-me que não se aponte hoje aos alvos certos porque sei que amanhã, sendo a situação ainda pior, sobretudo os tiros que acertarem hão-de duplamente falhar.
Escapistas de todo o Mundo: não precisais de vos unir. A realidade, um dia, há-de fundir-nos a todos na mesma amálgama. Mas quanto mais não seja por razões egoístas (isto é, as vossas), não vos parece que já vai sendo altura de enfrentar a Besta?
Muito bem Dr.ª Lilith. A grande família do planeta azul está cada vez mais disfuncional... a sofreguidão do lucro fácil, rápido e a qualquer custo, por um lado, e a crise de valores e de liderança política que redunda na falta de solidariedade (olhe-se para o caso europeu!!!), por outro, geram cada vez mais egoísmo e inveja. É pena que por necessidade de lutar para garantir a subsistência, os povos se esqueçam de lutar pelo direito a uma vida condigna.
ReplyDeleteValham contributos como o seu.