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Sunday, July 31, 2011

O livro do Profeta .Maquias

No oitavo mês do primeiro ano do reino de Numerário, o Profeta Maquias, filho de Barraquias e de quem não vem aqui agora ao caso, que eu não gosto de palavrões, dirigiu ao povo a palavra do $enhor mais ou menos nestes termos:
«Ficai sabendo, meus palonços que mui passado da mona anda o $enhor por causa do vosso incumprimento financeiro. Pois bem, vou-vos contar as minhas visões para que saibais bem o que vos espera se isto assim continua.

1ª visão: os cavaleiros

Vi um homem montado num cavalo vermelho entre as murtas de um fundo vale. Por trás dele havia cavalos ruços, cor de canela e brancos. Perguntei ao anjinho que estava comigo (era mesmo anjinho, o tipo): Mas donde veio este gado todo?
A isto ele encolheu os ombros mas o homem que estava montado a cavalo ouviu e sentiu-se ofendido. Disse então: 
- Pois fica sabendo, ò desbocado, que nós somos enviados do $enhor e acabamos de percorrer a Terra inteira. E posso dizer-te, ò ranhoso, que toda a Terra está em paz e repouso.
Ri-me às bandeiras despregadas e fixei o tipo com ar de censura, para que não pensasse que eu era totó! depois, com a minha lendária calma, ainda a rir-me, falei-lhe assim:
- E tu achas que eu não vejo as notícias, ò pázinho? desde quando esteve a TERRA INTEIRA em paz e repouso? olha, desampara-me a loja porque tu e o teu gado estão a violar  propriedade privada, tá? ou fazes já isso ou aqui o meu anjinho corre contigo !!!
O homem olhou para o meu anjinho que por sua vez contemplava a cena com cara de basbaque e desafiou:
- Quem, esse? nem vinte cromos como vocês os dois juntos! venham cá se forem homens e blá blá blá, blá blá blá...
E o gajo não se calava, só por ter um cavalo da Ferrari (era vermelho, lembram-se?). Estava tão farto de o ouvir que pisquei um olho ao anjinho, que era um sinal secreto entre nós!
Então o anjinho, com uma expressão de criança feliz,  levou dois dedos à boca e emitiu um assobio tão longo e prolongado que os cavalos e o cavaleiro desandaram dali num ápice. Eu também fugi, que o assobio daquele anjinho é como a voz esganiçada da minha mulher quando se zanga: não se aguenta!

2ª visão: os quatro chifres e os quatro artífices

Depois ergui os olhos e vi quatro chifres. Não, não foram dois encornados que vi: foram mesmo quatro chifres, por sinal bem rijos. Perguntei ao anjinho o que significava aquilo. Ele sorriu com cara de idiota e voltou a encolher os ombros. Aproximei-me um pouco mais e vi uma placa de latão junto a eles que dizia: « ESTES SÃO OS CHIFRES QUE DISPERSARAM JÁDEU - Inaugurada por Sua Excelência o Primeiro e Único etc...». 
Mal tinha lido isto vi surgirem quatro artífices, todos com caparro de Stalone na fase em que tomava testosterona. 
Antes que eu perguntasse quem eram, o mais encorpado deles disse-me:
- Não olhes para mim com cara de embriaguez que eu não sou nenhuma ânfora de vinho: viemos para destruir estes chifres que ontem serrámos das cabeças do Grande Bode e da Grande Cabra.
E mais não disseram nem mesmo depois de eu os ter bombardeado com mil e duas perguntas. Tive mesmo de me ir embora porque o mais encorpado já se estava a passar com a minha curiosidade! 

3ª visão: o cordel de medir

Então levantei os olhos e tive mais uma visão: Era um homem muito bem vestido e engravatado que tinha na mão um cordel de medir. Perguntei-lhe:
- Olha lá, ò moina: andas a medir o quê, na minha propriedade? 
O tipo encarou-me e disse com frieza: 
- Vai passar por aqui a nova auto-estrada.
- Oh oh - fiquei logo indisposto - isso é que era bom! com a miséria de compensações que dão? só por cima do meu cadáver!
-Isso pode-se arranjar - disse o homem com voz firme e assustadora - refiro-me ao teu cadáver, não à tua indemnização. 
Fiz o tal sinal ao Anjinho e ele assobiou como na primeira visão. Resultado: eu cavei dali para fora num ápice, o janota lá continuou a medir as minhas terras. Concluí então que só podia ser político: ERA SURDO AOS SONS EMITIDOS PELOS ANJINHOS!

Dito isto Maquias pegou no seu bordão e deu de frosques. O povo, como sempre, ficou a murmurar. Bem, quase todos murmuravam porque Gargantias  tinha goela aberta e uma voz de trombone, portanto todos (até Maquias que se afastava) o ouviram dizer:
- Aquilo ou é da droga que anda a tomar, ou do sol que apanha no deserto ou então lá descobriu o que a mulher anda a fazer quando ele se arma em eremita, coitado!



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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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