Número de visitas da Blogosfrega

Friday, December 31, 2010

O capitalismo off-shore explicado pelos pequenitos



Já não jogo Monopoly com o Carlitos há seis semanas. Tantas vezes humilhado pelo filhito da minha vizinha nesse jogo, tentei então fazer valer os meus direitos de adulto sabido. Assim, quando passei na casa de partida, em vez de duas, tirei quatro notas de cem. O miúdo fez logo cara feia. Envergonhado, ripostei como pude:
    -As duas notas a mais são o meu bónus de banqueiro
    -Atão também vou já tilal o meu bónus!!!- Tentei impedi-lo mas ele foi mais rápido.
    Em dada altura, ao calhar na casa do polícia, recusei-me a ir para a cadeia. O garoto, atento como sempre, voltou a pôr os pontos nos ii: -Polque não foste pala a cadeia? -Porque sou banqueiro... -Olha-me este! Então, quando calhal na mesma casa, também não vou pleso...
O jogo continuou e, em dada altura, peguei na caixa das notas do Banco e fi-la desaparecer. Ele não se deixou enrolar:
-Eiii...onde está o dinheilo todo?
-Meti-o num off-shore- respondi, todo orgulhoso.
-O que é isso?
-É um lugar secreto onde se põe o dinheiro...
-Mas o dinheilo era do banco...- protestou o puto já a perder a paciência.
-Bom, como eu estou a fazer de banqueiro...
-Com dinheilo que não é teu?
-Os banqueiros também fazem isso com dinheiro que não é deles.
-Qual banqueilo, qual calapuça: Tu és é um ganda batoteilo, nunca mais blinco contigo...- dito isto, saiu da sala batendo a porta e não aceitando mais explicações.
Ah, se a maioria dos adultos mostrasse tanta dignidade...

Saturday, December 25, 2010

O capitalismo off-shore explicado aos adultos



Confusa anda a populaça, sem perceber patavina da actual crise financeira. Ninguém parece saber ou querer explicar-lhe, nem que seja pela rama, a natureza do monstro*. Em parte, isto justifica-se pelo facto de este monstro, não possuir verdadeiramente uma natureza. Como todas as outras, a besta foi fabricada para dar lucro aos seus inventores e treinada para comer, entretanto, tudo o que encontre pelo caminho. Depois do capitalismo mercantilista, do capitalismo industrial, do capitalismo especulativo e do capitalismo electrónico, entrámos numa nova era, a dos capitalistas que transferem grande parte do que abocanham para zonas ignotas do Universo, enquanto continuam a deglutir, deste lado, quantidades astronómicas de recursos humanos e materiais. A hiperbole é menos tonta do que parece porque um off-shore tem isto em comum com um buraco negro: não se conhece exactamente a substância de que é feito, mas sabe-se que «suga» qualquer corpo com «massa» que dele se aproxime. O seu poder de atracção é tão grande que pode engolir sistemas solares e galáxias inteiras. E do que cai dentro dessa enorme goela, não volta a haver notícias (e muito menos recursos nos tribunais). Aqui reside, aliás, o grande enigma do desfecho desta crise. Nos últimos tempos, os Aladinos da Alta Finança, em lugar de fazer aparecer coisas (estradas, escolas, hospitais, sei lá, o que a comunidade achasse útil...) especializaram-se em fazê-las desaparecer, pelo menos dos nossos pobres universos visitáveis. Falta saber se, aquilo que fizeram desaparecer, ainda se encontra no lugar onde eles supõem que o depositaram. Insondável é qualquer buraco negro, por muito branco ou transparente que se diga. Portanto, muito me espantaria se um grande número de devotos alimentadores desta Força Negra não viesse, nalgum ponto, a sentir-se séria e injustamente lesado (por esquema semelhante ao que já pululava pela banca dita séria).
Exagero?!? vejamos: de onde vieram os génios que gerem os off-shores senão da banca dita séria?. Gente que foi capaz de dar golpadas no zé-ninguém contando-lhe a estória do capuchinho vermelho, não estará também suficientemente habilitada para abocanhar as carnes dos seus pares que (eles bem o sabem) engordaram à custa de carcassas alheias?.
Portanto, se um dia vires um político ou quadro administrativo (público ou privado já é tudo o mesmo, repara como esses macacos saltam de um galho para o para outro), a gritar «aqui d'el Rei, vamos já acabar com as off-shores», nota que não foi por se banhar no grande lago dos princípios éticos, mas porque ele também já está a arder. E ainda o sinal que, de um tubarão, se transformou num tenro jaquinzinho frito pronto a ser triturado e deglutido, espinhas e cabeça incluídos.
Os meus onze dedos adivinham isto: alguns responsáveis pela actual crise acabarão devorados pelo mesmo monstro que ajudaram a criar e proteger. E poucas coisas são mais giras (e justas) do que ver o feiticeiro atacado pelos mesmos feitiços que lançou contra terceiros...


* e sobre este monstro, o Soba da tribo não faz pedagogia?

Saturday, December 18, 2010

Traficâncias

Já se desconfiava mas agora não restam dúvidas que a elite mafiosa do Kosovo, entre outras coisas corriqueiras como heroína e cocaína, traficou órgãos de prisioneiros sérvios. Quando nos recordamos dos bombardeamentos da Sérvia pela NATO, que tornaram possível a secessão do «protectorado», ficamos a perceber o que nós, à nossa muito humilde escala, andámos a ajudar a «protectorar». 
E depois, andam praí os judeus a dizer que holocausto só houve um e que ninguém mais, senão Mengele e seus pares, andou a fazer de outros seres humanos carne para bisturi.
Quem anda furioso com estas acusações é o tal Thaçi, tácito líder dos kosovares, ao que parece, por via do voto popular. Embora o homem não se recomende, assiste-lhe uma certa razão, porque agora se fala dele como se fosse o único cirurgião exportador de todo o Universo. 
Ora nós, portugueses, que à escala europeia arduamente conquistámos um estatuto semelhante ao dos kosovares albaneses, também por cá temos Mengeles e Thaçis. Os mais moderados não se cansam de repetir que o estado precisa de emagrecer, sugerindo cortar aqui e ali. Note-se que não falam de liposucção, mas de cortes em áreas sensíveis. Os mais impiedosos não perderam tempo e já começaram mesmo a cortar enquanto tentam vender, ao preço da China, a dívida pública que eles andaram a contrair em privado. Aconselho portanto os homens deste país a usar cinto de castidade com fechadura reforçada: nunca se sabe o que (e onde) os nossos cirurgiões-mafiosos vão cortar a seguir. Sabe-se sim, que têm uma enorme tendência para privatizar tudo o que é grande e produtivo. Os tempos não vão pois, para exibicionismos...

Friday, December 17, 2010

Anúncio de Abertura de caça ao político

Há quem suponha que o fim último deste blogue é lançar os políticos aos cães. É falso: eu sou dos que defendem que devemos lançar os cães aos políticos. Não de qualquer maneira, como veremos. Em primeiro lugar, há que considerar que os cães, embora considerados os melhores amigos do homem, não sabem identificar bem o alvo. Ainda não sabem, por exemplo, porque é que nos últimos meses, têm de comer os restos dos restos ou mesmo de rapar o tacho. Falo só dos mais felizardos, os que a crise ainda não converteu em sem-abrigo. Há portanto que dar-lhes, primeiro, a devida formação: deixá-los cheirar bem os bichos, mostrar-lhes as fuças, as promessas, as traições. E explicar-lhes como o facto de tais energúmenos tratarem os seus donos abaixo de cão, levou a uma drástica queda do nível de qualidade de vida dos próprios cães. Há que ensinar-lhes que um político, como qualquer outro animal, necessita de sair da toca, quanto mais não seja para beber e caçar. Os lugares onde bebem, todos os conhecem, os lugares onde caçam também estão bem assinalados. Se os leões caçam antílopes e as raposas coelhos, os políticos costumam caçar votos e os sítios por onde andam até costumam ser anunciados com antecedência. É certo que, os políticos, ao contrário de outras feras mais corajosas, trazem sabujos para lhes proteger o coiro. Mas também é verdade que, se esses cães de guarda não conseguem evitar que, durante a caça ao voto, uma velhinha afectada por amnésia os beije ou uma peixeira do Bolhão os presenteie com um linguado dos clássicos, não estariam em condições de evitar outro tipo de aproximações...digamos mais íntimas. 
Há relativamente pouco tempo, em Itália, um tipo que nos foi apresentado como louco, agrediu Burlasconni com uma miniatura da Catedral de Milão. Muitos perguntaram o porquê daquele acto. Outros o porquê daquele alvo. Outros ainda, intrigaram-se com a escolha da Catedral de Milão. Eu digo que é fácil censurar o trabalho de alguém, sobretudo quando é bem feito, e mais fácil ainda fazê-lo passar por obra de um louco. Mas já repararam que a referida catedral é bem pontiaguda e que o homem «papou» dezenas de seguranças com o estratagema do presente que queria dar ao padrinho?. Depois do lance em que a bota do jornalista iraquiano  passou ao lado das fuças de Bush, desta vez apeteceu-me gritar «GOOOOLO». O segredo de todas as vitórias, portanto, é continuar a visar a baliza, ou goal, que em inglês quer dizer objectivo....

Wednesday, December 15, 2010

As Piadas do Cara-de-pau




Não sei que diabo (ou assessor que é quase a mesma coisa) se lembrou de pôr o Soba da nação tuga a tentar ser engraçado. Por muito menos já foram mortos, após aturadas torturas, muitos conselheiros extremosos de respeitáveis soberanos. Há certas coisas que são contra-natura: uma pedra ser arremessada ao ar e não descer, a água correr para o topo das montanhas, o fogo provocar frio, fazer o Cara-de-pau sorrir sem parecer que está a esganar-se. E se já o seu sorriso é improvável, imaginem agora a dificuldade de pô-lo a fazer rir os portugueses (refiro-me aos que não têm de lhe arreganhar a taxa para comer ). 
Se Einstein tivesse vivido tempo suficiente, teria provado, com equações e fórmulas matemáticas, certas impossibilidades físicas aplicáveis a todos os universos, como a de se poder ser Cara-de-Pau e conseguir rir ou fazer rir alguém.
Comer mal, dormir pior, trabalhar como um escravo são tudo coisas a que, em certo grau, todos nos habituámos. Ter que ouvir piadas ditas pelo Cara de Pau é sofrimento que integra outra dimensão de coisas, porque há limites para as torturas que um pobre cidadão pode suportar. Já vi maior bonomia em certas múmias do que na face crispada da pobre criatura enquanto pronunciava sílaba a sílaba, a anedota que o fizeram decorar. O seu riso gutural, no final da piada faria gelar de repulsa o próprio Drácula. Esperemos que este tipo de episódio não se repita. Se ele já era insuportável quando dizia, com ar sério, que tudo corria pelo melhor, como o aguentaríamos se começasse a rir-se, agora, estando à mostra o lindo serviço que ele com tanto gosto andou a fazer e a ajudar a fazer?

O último a saber ou a canção do bandido


Na colorida expressão popular, o último a saber é sempre o corno. Nos tempos que correm, o último a saber é o actual primeiro ministro deste sobanato, a fazer fé no que o próprio amiúde confessa. Desde o primeiríssimo dia do seu primeiro mandato, Zé Escrocas nos vem dando contas da sua fundamental ignorância. Adaptando a máxima de Sócrates, do verdadeiro, ele só sabe que nada soube. Não ter a mínima ideia do défice deixado pelo seu antecessor (desculpa para violar a sua promessa de não aumentar impostos), foi a primeira de uma série de confissões do género. Desde aí, já ouvimos várias versões desta canção rasca. Últimas variações: a alegada tentativa da P.T, para comprar a T.V.I., as escalas em Portugal de prisioneiros para Guantanamo e a crise financeira internacional. Em todos estes casos, Escrocas nada sabia nem se achava na obrigação de saber. Quanto à crise financeira, chegou mesmo a dizer que o mundo mudara em quinze dias. Pudera!. Desde Copérnico sabemos que o Mundo não pára quieto, um segundo que seja. A dona Alzirinha, que é mulher a dias do meu vizinho, já tinha ouvido falar, seis meses antes, da crise do «supraime», o tal da «bolha», que estoirou, lá nas Américas e andava preocupada quanto ao que fazer com as suas magras poupanças. Mas Escrocas, apesar da sua legião de assessores, andaria a estudar dossiês mais importantes do que o da crise. Parece que mesmo depois de ter ouvido uns zunzuns, sobre um tal crash, ainda andou meio-ano a dizer que o nosso caso era diferente do de outros países, menos dotados de bons decisores. Depois vieram os ataques especulativos e o homem lá continuou a dizer que estavamos bem acima da linha de água e portanto nunca nos veríamos tão gregos como os gregos. Mesmo depois de termos começado a pagar juros mais elevados que países em processo de resgate, o discurso não mudou: não havia crise. A crise que não havia já cá estava, claro, alapada em grande parte dos lares do país mas, pelos vistos, o homem continua alheado do facto. Desesperados, muitos nossos concidadãos finalmente concluíram que tinham um P.M. mitómano (palavra fina para designar um vulgar aldrabão). Podemos, com boa-fé encontrar outra explicação para tanto vazio informativo naquele atormentado cérebro, até porque um Chefe que diz não andar informado é como um segurança de discoteca de aspecto lingrinhas: todos lhe passam por cima.
Até hoje, nunca vi ninguém que colocasse outras hipóteses senão a tendência de Escrocas para as galgas mas a verdade é que o indivíduo pode sofrer de doença mental degenerativa grave, a ponto de se esquecer de toda a informação que recebe. Nesse caso, não estará a mentir pois acontece-lhe viver num estado de permanente apagão. Uma branca falo-á esquecer em cinco minutos o que está a ouvir agora. Mais quatro minutos e, pimba, outra branca apaga-lhe do cérebro o nome dos compinchas. Mais três e zás: varreu-se-lhe o nome do partido de que é suposto líder. Mais dois e lá vai pelo esgoto o nome do país de que é putativo governante. Mais um, puff!!! tudo desaparece, só fica ele e um imenso espelho. Um destes dias ainda teremos de o ouvir dizer que não sabia que era chefe de governo; que jamais alguém lhe facultou informação oficial que lhe assegurasse ser, efectivamente ele, o chefe de governo...»

Mensagens populares

Blogosfrega

Followers

About Me

My photo
Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

Labels