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Saturday, July 9, 2011

Charlie Chaplin - Os filmes da minha vida por Sir Frankie Goethe Wally Wood

Façamos a seguinte experiência: coloquemos um garoto de 5 anos e outro de 15 a ver um velho filme do «Charlot». 
Quase que aposto que o garoto, vai escangalhar-se a rir com as cenas burlescas do grande Chaplin, vai seguir a história com interesse (mesmo se não sabe ler as legendas) e depois do fim do filme há-de regressar ao tema com as frases que começam sempre por «...e aquela parte em que o Charlot...». 
O jovem de 15 anos, aposto, vai achar o filme uma seca, não vai entender porque raio aquela gente faz questão de não falar, não vai «curtir» nada aquela música do tempo da «idade da pedra» mas sobretudo vai achar que aqueles olhos arregalados de Chaplin e das suas meninas, quando expressam amor, timidez ou até infelicidade, são uma expressão exagerada das emoções, tipo,  «pouco realista».
À partida, isto parece querer dizer que o potencial público de Charlot se tornou então, em grande parte, a criançada. Bom, sabemos que alguns cinéfilos adoram Chaplin, mas os cinéfilos não serão eles (como aliás eu sou também) crianças envelhecidas?
Aqui porém (sem prejuízo do que de mim disse acima), tenho de recordar-vos o seguinte: é natural que uma criança, ainda não contaminada pela iconografia, pelo códigos estéticos e pela cultura de massas, olhe para Chaplin quase da mesma maneira que um adulto o fazia no tempo do próprio Chaplin.
Isto porque o «velho Charlie»,  quase sozinho, e de forma nada desajeitada, tirou uma coisa muito rara, da sua cartola: Uma nova Arte e uma nova linguagem para começar a trabalhá-la. Onde antes havia nada, Charlot abriu, com profissionalismo e genial intuição, uma mina cujas galerias não pararam de se multiplicar, todas partindo da mesma base comum, essa linguagem hoje é património do cinema, feita de iluminação, construção de cenários, e toda a «gíria» de Estúdio: takes, closes, mudanças de planos, montagens, sequências narrativas, etc, etc...
Quando hoje observo a filmografia de Chaplin, rio-me e comovo-me ainda como quando o vi pela primeira vez, em criança. Comovem-me aquelas caras ternurentas de olhos esbugalhados, que torcem as mãos como lenços, quando se angustiam, ou que piscam os olhos mais depressa, batendo as pestanas como asas quando se apaixonam, mas a verdade é que, ontem como hoje, dispensava as legendas para compreender, cena por cena, toda a narrativa visual. Sedutor por excelência, Charlot é um dos últimos heróis românticos cuja incontestável nobreza vem até do facto de não se levar muito a sério, nem ser, socialmente, muito mais que um marginal assumido. Uma bengala em lugar de pistola, uma esperteza aguçada quando se trata de fugir ou ajudar alguém, o vagabundo fez decerto chorar muitas senhoras com pedigree, enternecidas pelo seu cavalheirismo, pelos seus bons sentimentos, pela sua ternura para com as crianças, numa altura em que a vagabundagem andava, decerto, pelas ruas da Amargura.
Como pioneiro que foi neste domínio, é surpreendente verificar que mesmo quando a linguagem cinematográfica é ingénua, nunca deixa de ser eficaz, do ponto de vista da narrativa: das rábulas sempre hilariantes, (o caminhar à pinguim, fazendo girar a bengala,  colocar os cantos da sua própria boca para baixo, sublinhando a sua tristeza),  a que eu sempre preferi foi aquela em que, para espreitar por uma fechadura que estava um pouco acima do nível dos seus olhos, Charlot puxa pelos seus próprios suspensórios para cima, como querendo içar-se, a si mesmo, até ao nível do óculo. 
Talvez fosse esse, o gesto (que parece, à partida, tão insensato), que muitos detractores adultos da obra de Chaplin precisassem de executar para tentar aceder, por um momento que fosse, à genialidade do último descendente, em linhagem directa, do esplêndido D.Quixote!





Lets try something: we make a 5 and a 15 year old children see an old movie of Charlie Chaplin or «Charlot». 
I bet the five year old kid will lough with all the burlesque cenes of «Great Chaplin», will follow easily the story (even the ones that can't read subtitles) and than, after the end of the movie will be back to it, always with phrases that start  with the sentence: «...and that part ...». 
In other hand, the young of 15 years old will say the film sucks, and will not understand why de fu-k that people can't talk! 'cause it's not cool that sort of resident music of the  «stone age» era. But above all, generaly speaking, people of this age realy hate those very open eyes of Chaplin and company when they express basic feelings like love, timidity, unhappiness, they are an exagerated expression of emotions, kind of «not so realistic, ya know what I mean? .
So, it seems the potential fans of Charlot are, nowadays, little children. Well we know that also many cinema lovers worship Chaplin, but what are Cinema lovers (I'm included) more than a bunch of aged children?
Here I have to recall this (not trying to escape from what I said above): I find natural that a small child, not bombed yet by the mass-mídia and the «fast culture», can look at Chaplin in the same inocent way an adult would, in the times of Chaplin's earlier movies.
«Good old Charlie»,  on his own, in a not so clumsy way, took out something very rare out of his topper: A new Art and a new language to start working with! 
Where before there was nothing, Charlot did open, in a very professional and genius intuition, a mine full of galleries never stoped multiplying, all coming out of the common bases, that language today patrimony of the Cinema made of «lights», story-board, scenarios, and all the slang of Studio: takes, closes, zoom, composition, sequencies etc, etc...
Till today, whenever I see again the films of Chaplin, I lough and I get touched, like when I for the first time saw it, back in to my childhood. 
I'm still moved by those little gray figures that goggle their eyes, and twist their hands with anguish , or those eyelashes flaping like wings when someone is in Love.
A big Seducer, His Excelency Chaplin is one of the latest romantic heroes wich unquestionable nobility comes even from de fact of not taking himself to serious nor beeing socialy, much more than a real marginal. 
A cane instead of a pistol, a sharp cleverness when it comes to escape or help someone in trouble, the poor trump made, for sure, many old pedigree ladies cry, touched by his gentleman maners, his noble feelings, his committed kindness to children, all be all of that in a time to be a trump was (like still is) no card of visit.
As a pioneer, he was in this domain, it's surprising to see how eficient from the narrative point of view, specially when it looks like naive: from his most hilarious gags (his penguim, way of walking, the turning of the can, like a propeller,  the one I always loved the most is that in wich, to look trought a  spyglass that WAS A BIT ABOVE HIS EYES LEVEL, Chaplin pulls his own braces up, like wanting to hoist himself up . 
May be that's the gesture, that many adult detractors of Chaplin's work needed to execute to have acess - for a little moment beeing-  to the genious of the last descendent, (in direct line) of the splendid D. Quijote!

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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