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Thursday, March 31, 2011

A Família PIGS por Lilith Lovelace

Andam por aí cinco porquinhos que não sabem que as suas casas estão prestes a ser derrubadas por uns tantos lobos maus. São cinco sim, pois a Portugal, Itália, Grécia e Espanha, junta-se a Irlanda, para estragar o arranjinho. Agora, os amantes de siglas maldosas terão de decidir de colocam o novo I no início, no fim, ou entre qualquer das três letras do meio. Mas não será decerto disso que me vou ocupar, hoje. 
Vejamos caso a caso e comecemos pelo grego, que foi o primeiro porquinho a ver-se desabrigado por um daqueles sopros fabulosos dos mauzões da história. Como sempre acontece nestas circunstâncias, quando a palhota grega veio abaixo, os outros quatro porquinhos não se afligiram muito. Ah, disse-se: não tivesse construído uma casa tão frágil. E logo o porquinho português saiu a terreiro (estavam os quatro num chat, na net) dizendo: eu estou seguro, aqui, nesta casita de pau-a-pique. E eis que o Porquinho italiano logo acrescenta: se estás seguro numa casa de pau-a-pique, que direi eu na minha casita de barro cozido ao sol? Ah sim? exultou o porquinho espanhol- e então eu aqui, na minha casita de taipal? tem na mesma a estrutura de madeira, mais o barro, a prencher os espaços. O porquinho Irlandês nem se chegou a pronunciar pois, entretanto, já a sua casita de tijolo a sério, mas ligada com má argamassa, se desmoronava com grande fragor, enquanto os outros assim peroravam. E foi aí que os outros três pararam de teclar, mudos de terror, pois se até o porquinho irlandês, por todos apontados como o mais diligente dos porquinhos (parecia tão forte e esperto que até já havia quem o chamasse o tigre Celta) , estava agora exposto às intempéries e aos lobos, que seria deles? Começaram pois a tentar reforçar as suas casitas, com tudo o que tinham à mão. Um encostou toda a mobília à porta, outro colocou caibros a fazer de escoras, um terceiro, achando que a porta, feita de carvalho de Lei, aguentaria o embate, preocupou-se mais com o reforço das janelas, pregando-lhe barrotes com pregos caibrais. 
Se tivessem falado com o porquinho grego e com o porquinho irlandês, não se dariam a tanto trabalho inútil porque aqueles dois já sabiam que, com aquele tipo de lobos maus, a única protecção possível teria sido construírem juntos uma casa comum, mesmo que com quartos separados, usando os talentos específicos de cada porquinho, pois o grego era bom a fazer projectos mas mau construtor, o português era bom nas fundações, mas falhava nas paredes, o espanhol sabia levantar paredes mas não amassava bem o cimento, o italiano sabia fazer as cofragens mas não sabia armar ferro, e o irlandês sabia fazer e tecer ferro mas não não tinha (como se viu) um projecto digno desse nome. Assim, arriscam-se a ver, um dia destes, um ou mais lobos a entrar-lhes pela casa dentro, nem que seja pela chaminé. E cada um estará, nessa altura, isolado e encurralado, sem qualquer possibilidade de fuga, pois se a casa não cai, torna-se uma armadilha ainda pior que uma casa já caída. Moral da história: nenhum porquinho se devia rir, quando vê o presunto de um porquinho alheio no fumeiro. Em vez disso, deve-se juntar a outros porquinhos para que não terminem todos feitos à bifana... 

Wednesday, March 30, 2011

os ‘Razíadas’ por Luís de Cá , Mões (Beira Alta) Canto 2º, estr. 19 a 22

19-De seus bens expoliado o Lusitano
Para outras Terras, triste, já partia
Farto de tanto trato desumano
Doente p'la injustiça que sentia
Sua força oferece ao gaulês, ao hispano
Ao bretão, e a quem mais nele via
Qualidades que «o barão» só despreza
Por nada saber da real Nobreza

20-A classe dirigente e engravatada
Julgando-se o Sol que a vista cega
Não vê que a saga da gente, emigrada
Não difere do tempo em que era regra
«O salto» da fronteira, então fechada
Qu'a visão do futuro inda aconchega
O que sabe lutar por melhor vida
Longe dos seus e da Terra querida

21-Tão amante da Pátria se mostrava
O emigrante pobre mas excelente
Que assim podendo, aí tornava
E nela investindo o excedente
Nem de dar uma lição, ele cuidava
Aos vigaristas, à mísera gente
Que seus bens noutras bandas deposita
Enquanto o amor à Pátria, inda debita

22-Com sonoras trombetas apelando
Ora ao consumo, ora à poupança
-Jamais se vira tal desmando
Tanto passo de dança e contradança:
Abatei vinhas e logo mais plantando
Sempre aos mesmo vai enchendo a Pança
Pois que o maná que engorda os madraços
Por «Milagre» só cai, nalguns regaços...

Tuesday, March 29, 2011

Economia em autópsia: Por Esmeralda Preciosa da Cunha

Estou farta da conversa dos que querem mudar de «paradigma».
Já pensaram, porventura no preço que também custa uma mudança? Não? Então contratem uma empresa de mudanças para transferir os vossos tarecos de uma casa para outra e verão do que estou a falar! 
Antes de se mudar o «paradigma» ou o que quer que seja, deve-se ver se a avaria se passa mesmo com a «Máquina» em questão. Às vezes as pessoas pensam que uma máquina não funciona e deitam-na fora, antes de verem se a tinham ligado à corrente, ah ah ah.
Neste caso do «paradigma» talvez se passe o mesmo, será que é mesmo o «paradigma» que está estragado? E se acontecer, por hipótese, que já ninguém queira saber de «Paradigma» algum mas, tão somente, safar-se, nem que seja às costas de um «Paradigma» que ainda não existe?
Já perguntei a muitas pessoas que se consideram entendidas nisso de «Paradimas», que propõem, em lugar dos que existem!
Ficam de todas as cores (há gente de todas as cores a querer mudar «paradigmas» mas que não têm um, sequer, para substituir os muitos que já existem) e os que ainda dizem qualquer coisa, produzem alguns textos bonitos, ao nível das criancinhas que escrevem versos em que «flor» rima com «amor» e «pé» rima com «bué».
Eu cá não tenho problemas com «Paradigmas». Se houver tal coisa (eu sou das que só acredita no que vê) que dê a cara, como um Homem ou uma Mulher que os tenha (ovários e tomates) no sítio. Acho que quem anda aí a falar de novos Paradigmas sabe deles tanto quanto eu de fantasmas, que são coisas que também nunca vi.
O que eu quero é saber se o «Paradigma» que existe está a ser respeitado. Se sim, deixe-se estar, se não, castiguem-se os que o não respeitam. Porque se já não respeitam o fantasma que já cá está, também não vão respeitar os fantasmas que estão para vir!
E Mai'nada, como diria o meu amigo Rolando Campos e Relvas (que não publicou ontem por ter outros afazeres mas também porque a semana futebolística foi fraquinha)...  

Monday, March 28, 2011

O Livro do Juízes (ou do pouco juízo)

A sentença de Toleimão:

Ao fim destas aventuras e trabalhos, achando-se merecedor de algum bom trato, decidiu o Manda-Chuva desta história retemperar forças na Estalagem Divino Refúgio, tendo para o efeito encomendado lauta refeição de carnes biológicas (sem vestígios de nitrofuranos e quejandos) devidamente regada com o néctar da região, por sinal produtora de boa pinga. Depois de tantos deleites e iguarias , ainda antes do prelúdio que antecede a entrada das bailarinas desses exóticos países onde as mulheres não devem mostrar o rosto mas, caso mostrem arte, conquistam privilégios bamboleando o ventre ao léu, o Ser Supremo retirou-se para os Seus Aposentos e quase se sentiu passar pelas brasas quando ouviu novo alarido, desta vez sob a forma de gritos de mulheres, na praça ali em frente. Dignou-se então o Rei dos Reis a dar, mui asinha, um saltito lá baixo para ver o que se passava, (devidamente escoltado que nos dias que então corriam, nunca se sabia) quando maravilhado viu, de rojo, diante do Rei Toleimão, duas mulheres, em cena que, sem desrespeito para com as peixeiras, chamamos de grande peixeirada:
  • É meu!!! Vês os caracolinhos, como os meus? Os olhinhos, iguaizinhos aos meus? A boquinha pequenina como a minha? O nariz pequenino como o meu? Como é que tu, sua grande nariguda, podes dizer que o bebé é teu?
  • Ora!!!- gritou a outra de pronto- os bebés têm todos o nariz pequenino, e tudo pequenino, aliás. Lá porque tens cara de bebé, isso não quer dizer que todos os bebés do mundo sejam teus!
  • Bebé, eu? Ah, eu esgadanho-te toda, eu arranco-te os cabelos um por um. Olha que Eu sou muito mulher, ouviste? O teu marido que o diga!!!
  • O meu marido? Ele lá sabe o que é uma mulher a sério? Só se mete com garotas...
  • Basta- gritou Toleimão que já estava um tanto atrasado para a inauguração oficial do Templo da sua Santa Terrinha- Eu já não preciso de ouvir mais nada, já vi o filme todo...
    Fez-se um silêncio de cortar à faca e então, desembainhando a sua reluzente espada, o Rei aproximou-se da criancinha
  • Que vais fazer, ò nosso Rei? - Perguntaram muito a medo, as duas mulheres
  • Que vou fazer? Como sou um Rei justo e equitativo e, de facto, não tenho meios de saber qual de vós é a mãe biológica deste enfezado, vou cortá-lo ao meio para o dividirmos por ambas. Ah!!! E tragam-me duas tijelas que eu faço questão que o sangue também seja distribuído em partes iguais
Já a ralé, satisfeita com a oportunidade única de assistir ao esquartejamento em directo e ao vivo da pobre criancinha meneava a cabeça em sinal de aprovação à sentença, quando uma voz incógnita no meio da multidão, pôs uma mui pequena mas mui influente minoria daqueles grunhos a pensar, tal a acuidade da questão que colocou:
  • Mas- estarás tu bom da caixa dos parafusos ò nosso Rei? Um bebé não é nenhum bolo que se possa cortar às fatias para dividir pelos presentes...
  • Quem está de fora racha lenha – discordou uma das mulheres- o Rei sentenciou, está bem sentenciado Nunca ouviste dizer que palavra de Rei não volta atrás?
  • Não, o meu bebé não!!!- gritou a outra muito aflita- prefiro que a dêem à outra inteiro que a mim só metade. Tem piedade de mim, ò generoso Rei, que hoje em dia os funerais custam os olhos da cara dos vivos
  • B...BASTA!!! agora é que nem o dou a uma nem a outra!!! Como é que este bebé pode vir a ter um crescimento saudável e tornar-se um bom soldado nas minhas fileiras se ouvir, desde os primeiros dia da sua vida, vozes tão estridentes?
  • Soldado? Pois fica sabendo, seu autocrata, que filho meu não há-de ir à tropa: Era o que faltava que, na idade em que eles já não dão prejuízo e até começam a dar algum lucro, mo viesses buscar, só porque gostas de andar a brincar aos generais com os Soberanos da vizinhança
  • Ah agora não queres tomar conta dele, não é? Pois então eu também não quero, sua interesseira!!!
  • Caluda as duas!!!- gritou o Rei desesperado - como castigo pelas repetidas insolências, a partir de hoje, sem salário digno desse nome, condeno-vos a cuidar dos duzentos e cinquenta e seis fedelhos que as minhas concubinas deram à luz. Que dizes, primeiro ministro? Hã? Já são trezentas e sessenta e cinco? ...pois, é possível, sabes que é difícil um gajo andar actualizado nesse capítulo: até o nome das mães eu não sei de cor. São muitas, e muito barulhentas sabes?...
    E o povo, impressionado com aquela manifestação espontânea de Justiça, aplaudiu a magnificência do seu Grande Juíz Toleimão...

Sunday, March 27, 2011

E tudo o vento levou- filmes da minha vida por sir Frankie Goethe Wally Wood

Ah, o filme,  esse épico do cinema, cujo argumento  sempre me pareceu falacioso por inverter a ordem das coisas. Lembram-se? coitadinhos dos brancos sulistas e tal, que eram honestos esclavagistas e tal, tão mal compreendidos pelos malandros dos yankees que não tinham maneiras e tal. Foi um dos primeiros grandes filmes a cores mas o romance é tão a preto e branco que até os pretos sentem e agem como branquinhos submissos. Pois agora estão reunidas as condições para uma epopeia do género. A conversa que por aí se ouve, da parte de alguns privilegiados é semelhante: coitadinhos de nós e tal, que damos emprego aos malandros dos trabalhadores e tal, temos de acabar com os privilégios dessa gente que quer empregos seguros e tal, que querem educação gratuita e tal, hospitais públicos grátis e tal. Tudo se passa como se a «o jargão marxista da luta de classes» se tivesse invertido para se voltar agora contra os pobres e remediados, essa imensa mole de humanos que, por uma perversa manipulação, passam a ser os maus da fita. E no entanto, se procurarmos no dicionário o sentido da palavra privilégio, não há lugar a dúvidas: jamais os priviligiados podem ser, por definição, uma maioria, para mais tão esmagadora, pois o privilégio implica sempre «uma diferenciação de algo ou alguém, cujos direitos e deveres diferem da generalidade dos cidadãos». Como pois, continuar a sustentar, com tanta lata, que há privilégios exercidos por tanta gente contra uma muito escassa minoria de indivíduos?
O que é grave, é que este discurso foi tantas vezes repetido que se tornou verdadeiro para alguns opinadores da praça pública, sejam eles jornalistas, analistas ou outros escribas arregimentados. Como papagaios que sã,o de interesses bem identificáveis, mandaram os diccionários e a velha sabedoria às urtigas e aí estão eles, defendendo o indefensável, justificando o injustificável e zangando-se com os outros a pretexto do seu desalinhamento com o que eles cham o «politicamente correcto». Que eles nada sabem (ou nada querem saber) do que é correcto, já sabíamos nós. Que eles são contra o «relativismo Moral» dos outros também não é novidade. Novidade, novidade é julgarem-se uma élite só porque defendem as duvidosas élites contemporâneas. Porque até mesmo os seus Patrões os tratam como os sabujos que são: atiram-lhes um pau e e gritam: busca, busca. E eles lá vão, correndo e voltando com o pau na boca e rabinho a dar a dar...

Friday, March 25, 2011

CONSULTÓRIO DO SEXO: Pela Dra. M. Gustava de los Placeres y Morales

Prezadíssimos leitores:

A semana foi de emoções fortes, para quem gosta de sexo livre mas de resultados fracos: Uns foram encostados à Parede, outros arranjaram novos acessórios e brinquedos com que se entreter, havendo ainda «fogo-de-artifício» um pouco por todo o mundo. vamos às cartinhas...

Gustavita, fofa:

Acusaram-me de coito interrompido só porque saí de cena antes que me f-------. Mas cá eu sou assim: se não estou por cima, saio de baixo. Que sentido faz continuar «num filme» de que não gosto? É ou não verdade que nestas coisas os parceiros têm de estar de acordo? Queriam que eu fizesse fretes, em assuntos tão íntimos? não achas que eu tenho toda a razão?

Teixeira dos Prantos, São Tento.

Oh Teixeira,  Seu abusador:

Em primeiro lugar não gosto que me trate por tu, pois não lhe dei essa confiança. Depois, quanto ao resto, pergunto-lhe: enquanto esteve por cima quis saber se quem esteve por baixo, estava nessa situação voluntariamente? que eu saiba, os desgraçados e desgraçadas não tiveram escolha, pois estavam amarrados de pés e mãos. Pois eu penso que por isso, você devia ter ficado até ao fim, para levar onde todos nós andámos a levar, durante seis anos, por sua culpa. Estamos conversados?...

Maria Gustava de Los Placeres Y Morales.


Cara Dra:

Ista cá pelas Sirias também anda mau: não é que as escravas e escravos do meu harém dizem que eu já lhes ando em cima, há demasiado tempo? Como é que eu respondi? como fazia o vosso antigo senhor. Uns «safanões a tempo» não fazem mal a ninguém, ou fazem? Veja bem a ingratidão detsa gentinha: Eu que nunca lhes faltei com nada lá, nessa casa que afinal é a minha (pois que a herdei do meu saudoso papá que está no paraíso decerto servido por inúmeras virgens). Infelizmente os tempos mudaram: se no tempo dele, ninguém levantava a garimpa, agora todos se acham no direito de reclamar liberdade. por Alá; se isto continua assim, onde é que vamos parar?

Jáfez-el-Assado, Mamasco

Rapazola:

Nisto de coitos, as coitados e os coitados são os que não têm escolha, não você. Julga-se dono de alguma coisa, só porque o seu papá também foi? ainda para mais, julga-se dono de pessoas? eu digo-lhe que está enganado (esclarecendo que por aqui o termo «enganado» tem outro sentido que ninguém gosta de ver aplicado a si próprio). Você vai ver que quantos mais «safanões dá» mais abanado fica, no fim. 
Veja bem o que aconteceu aos seus colegas da Tunísia e do Egipto. Pelo que sei, este último ainda pode vir a ser julgado pelos «safanões» que andou a dar a quem só reclamou aquilo a que todas e todos devíamos ter direito: escolher um parceiro (a) que nos repeite. Vá por mim: saia de cima, antes que que «chova». Não se fie no clima desértico que quando as pessoas se juntam, os milagres são tantos que até o «clima» muda.

Maria Gustava de los Placeres Y Morales

Doutoirita:

Estamos (falo em nome de uma agência) zangados com a sua gente: não é que agora, com a queda do «azeiteiro» que nos punha todas as gajas e gajos à nossa disposição, vamos ter ficar um tempito à espera de quem o substitua? Só por causa disso e para que não julguem que isto fica assim, vamos fazer publicidade negativa ao Bordel Luso. Já começamos aliás, baixando-vos o «rating» para BBB que quer dizer Bordel Bastante Badalhoco. Afinal vocês integram a família PIGS. Com isto, talvez aprendam a ser mais eficientes e limpinhos. Quem não se sente não é filho de boa gente, ou não é assim?

Agência Ficht-a-Folha, Off Shore Buraco Negro

«Sôs» Agentes da Treta:

Baixaram-nos O Rating, Ratazanas? Pois e se nós, só por causa das tosses, vos dessemos um pontapé nesses traseiros gordos?. Não seria a primeira vez, como sabem. Olhem os Islandeses. Julgam que precisamos de vocês para quê? fartos de andar a ser F------ por gente sem qualificação andamos nós, ò seus badochas. Quanto aos chulecos que nos andam a pôr nas vossas mãos, posso garantir-vos: este caíu e partiu as fuças, o próximo arrisca-se a ficar sem tomates. isto se ele os tiver, coisa de que duvido. Porque não vão montar a vossa mãezinha lá do outro lado do Atlântico?. Já agora espero que o Dotoirita tenha sido gralha. Se não foi, eu digo-vos em que parte do corpo vos vou cornear...

Vossa castigadora: maria Gustava de los Placeres Y Morales

Thursday, March 24, 2011

A Família Humana (por Lilith Lovelace)

Quando vejo programas sobre a Natureza, sinto sempre uma estranha ambiguidade. Por um lado, as regras da cadeia alimentar são claras e nenhuma espécie (pertença ao grupo dos predadores, das presas, ou de ambos em simultâneo), parece ter dúvidas sobre o seu papel. Uns comem, outros são comidos, um terceiro grupo (a maioria)  tanto pode comer como ser comido. Em última análise todos acabam por ser comidos, pois claro, quanto mais não seja pelos vermes. 
A nenhuma aranha passa pela cabeça discutir o seu status: se vê um pássaro predador, ala, que se faz tarde. Se vê outro qualquer insecto preso na sua teia, também não tem estados de espírito sobre o assunto: há que enredá-lo e sugar-lhe a seiva. E isto pode extrapolar-se para os répteis como para os mamíferos. Na natureza, nenhuma criatura discute o que quer que seja, pois esse tempo pode ser precioso para não ser comido ou, em alternativa, para satisfazer o seu apetite antes que a presa fuja. Sempre me ri dos que pensam que a Natureza é justa. mas sempre me ri também dos que pensam que ela é injusta. 
Justiça e injustiça são conceitos humanos e não me parece que outras espécies dediquem muito tempo a esse assunto. Nesse sentido, as outras criaturas parecem-me mais sábias que os humanos. 
Só que nós, mamíferos ditos racionais, não somos como a outra bicharada. Não digo isto porque sinta que somos superiores mas porque construímos formas de vida que, de certa forma, nos afastam de outros seres. Mas, onde outros falam em racionalidade (ou superioridade) eu prefiro falar de Cultura, grafada assim, com  maiúscula. E o que é, então a Cultura senão um conjunto de regras (umas provisoriamente escritas, outras apenas determinadas pelo hábito) cuja finalidade última é evitar que nos exterminemos uns aos outros, com a óbvia finalidade da predação ou em defesa contra essa mesma predação, quando pratica contra nós pelos nossos semelhantes?. 
Tradições, Religiões, Artes, Ciências, podem diferir muito no objecto ou objectivo. Mas visam todas o mesmo que é ampliar a nossa margem de manobra num mundo que (desde cedo o aprendemos) muitas vezes se nos apresenta como hostil. Cada pequena conquista, numa destas áreas, é um passo dado na direcção da eliminação da nossas muitas incertezas, quanto ao futuro. Só que nenhuma destas áreas da actividade humana é «boa» por natureza. Como animais que (para o bem como para o mal) ainda somos, mesmo estas conquistas podem ser, a qualquer momento pervertidas e usadas com a finalidade oposta àquela pela qual foram criadas. 
Exemplos não faltam: o homem que inventou a lâmpada eléctrica (Thomas Edison) e tantas outras coisas úteis à Humanidade, inventou também a cadeira eléctrica. Tal como outro génio que viveu largas décadas antes (Guillotin inventor da guilhotina) alegou que o fazia por razões humanitárias (para abreviar o sofrimento dos condenados à morte). 
E é aqui que a palavra perversão faz todo o sentido, pois o que é um perverso senão aquele que serve o Mal (assim, grafado com maiúscula) supondo (ou fingindo) servir o Bem?
Amigos tenho uma péssima e (muito, muito) velha notícia para vós: o Inimigo (o nosso e o das nossas Culturas) vive dentro de cada um de nós. E não podemos estrangulá-lo porque isso equivale ao suicídio. Mas podemos neutralizá-lo ou (melhor ainda) sublimá-lo. Difícil? decerto que sim. Mas que glória existe nas  conquista fáceis?...

Wednesday, March 23, 2011

os ‘Razíadas’ por Luís de Cá , Mões (Beira Alta) Canto 2º, estr. 14 a 18

14- Atrás de falsos números se escondia
O falso e fingido mensageiro
C'oa embaixada que com ele comia
Enganando os seus, como ao povo inteiro
Enchiam-se os peitos de alegria
Acreditando ser bem verdadeiro
O Paraíso que a todos ele jura
Impondo-nos o jugo da usura

15- Não faltam aqui fogos de artifício
Os trémulos cometas imitando
Dos que fazem do engano seu ofício
O céu, a Terra e as ondas atroando 
E enquanto neste atroz exercício
As riquezas do País vão queimando
O povo contempla atordoado
O espectáculo qu'o traz aprisionado

16 – Mas eis que da Europa, duramente
brandem-se ameaças de castigo
Que a chanceler anda descontente
E no sulista déficit vê perigo
E enquanto na Grécia, a pobre gente
No especulador já vê o inimigo
Por cá, o idiota tonto, nada receia
Pois crê qu'o Mal só lavra em casa alheia

17-Seguem os caciques impingindo
Às gentes, o redobrado trabalho
Demagogos, vão sua teia urdindo
Roubando-nos o pão e o agasalho
Por seus postos de eleição, já temendo
A hipótese de um novo reviralho
Juntam a voz a quem contra eles reclama
Cuidando que, dessa forma, nos engana

18- Vêem-se já, em redor, ferver as praças
De gente, que infeliz concorre leda
Para atacar com vaias e ameaças
A canalha que de elite se arremeda
Que um dia, as promessas e as negaças
como o leite, que o calor azeda
Cheira mal, e esse odor que já cá está
É aquele que à boa gente, torna má

Tuesday, March 22, 2011

A Economia em Autópsia por Esmeralda Preciosa da Cunha

Caros e caras amigas:
Ando zangada com o Joaquim Silva e com outras pessoas que publicam aqui, na Blogosfrega. Todos eles apoiaram o «ajuntamento» de pessoas no 12 de Março. E todos eles gozaram comigo por eu estar contra. A opinião de outros não me incomoda mas fazia ideia diferente do dono deste blog, que sempre me pareceu uma pessoa educada.
Vejo agora que me enganei pois ele até aproveitou a minha doença para publicar aqui um texto sobre a Islândia, com o nome da minha rubrica. Se ao menos fosse um texto com pés e cabeça eu não me importava. Mas vi que ele defendia aqui uma espécie de Democracia que eu nunca tinha ouvido falar. O que é que ele quer afinal? Que o País se transforme na «Casa da Joana?». Eu cá estou contra! Não podem mandar todos, não é verdade? Eu, por exemplo, estou habituada a mandar, mas nem todos estamos. Há outros que estão habituados a carregar com coisas pesadas e eu também não quero roubar-lhes o emprego, pois não?
Já dizia a minha avó, que Deus lá tem: cada macaco no seu galho. Uns são feitos para mandar, outros para obedecer. Uns têm direito a vários motoristas e ajudas de custo, outros têm direito a andar a pé, que é muito bom para a saúde. Se fôssemos todos iguais, não eram cá precisas roupas de marca, nem Lamborghinis, nem Tavares Ricos e estávamos todos condenados a comer bifanas a nadar em óleo. Ora eu preferia estar morta a ter de engolir certas coisas. Nós não nascemos iguais: uns são bonitos como eu, outros feios como o Miguel Sousa Tavares, outros assim-assim como o Joaquim Silva. Essa é que é a verdade e quem não quer vê-la ou é cego ou mentiroso. E como mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo, é bom que os aldrabões deixam de querer correr connosco. Se querem correr, que se inscrevam nos Para-olímpicos, que é onde eles estão bem. Perceberam ou querem que eu faça um desenho?...

Vossa Esmeralda Preciosa da Cunha

Monday, March 21, 2011

Futeboys: pelo comentador Rolando Campos e Relvas

Cambada do pébola (tradução literal do inglês football)

Não tenho hoje grande motivação para escrever sobre o campeonato Nacional que está já bem entregue. Por isso foco-me na última jornada da Liga Europa, que correu de feição ás equipas nacionais envolvidas. Se repetirem a proeza na jornada que se aproxima (isso é que era doce) teremos 3 equipas em quatro o que assegurará que pelo menos uma delas irá à final. Eu cá sou contra os monopólios mas neste caso abro uma excepçãozinha, eh eh, eh...

Liga Europa: Ingleses, Russos, Franceses e outra potências que tremam: o país é pequeno mas se as regras forem iguais para todos, não temos medo de ninguém. Foram lindas as três festas nas quatro cidades portuguesas (Braga ,Porto, Lisboa e Paris eh eh eh). Alegria para os emigrantes que assim podem «melgar» à vontade os seus colegas franceses lá nas «usinas» e noutros locais de trabalho ou de estudo. Alegria para os bracarenses que fizeram tombar um gigante, para mais inglês. Alegria para os tripeiros que não precisaram de fazer das tripas coração para «arrumar» os russos. Alegria para todos que colocam o interesse nacional acima dos emblemas clubistas. Sempre são mais uns pontitos para o Ranking, o que no fim acaba por benificiar todos.

Eleições no Sporting: Nem o Pai se elege, nem os Leões almoçam. Em casa sem Patrão, muitos ralham e poucos têm razão. Perdoem-me as proverbiais distorções mas eu não tenho nenhum prazer no assunto. Os lagartos precisam mesmo de limpar a casa para podermos voltar a vê-los mexer.
Enquanto a situação se mantiver, só lhes vejo mexer a cauda, que está separada do resto do corpo. Para isso precisam de escolher, o quanto antes, um certo Líder que seja também o Líder certo. Não tenho preferências, só quero que o assunto se despache, caso contrário os moços arriscam-se a nem à Europa ir, o que não seria bom para ninguém. Bem sei que muitos adeptos, zangados já dizem: Agora Basten desta situação!!!

Treinadores & Transferências- Enquanto as duas equipas de Manchester (o City e o United) lutam por Mourinho, chegando-se à frente com propostas monetárias tentadoras, por cá a situação é inversa pois Domingos impacienta-se e oferece os seus préstimos ao Sporting, mesmo antes de saber quem será o Presidente do clube. Precipitação? Creio que sim, até porque o rapaz ainda não assegurou nada para o seu actual clube. E pode-se até pensar que, lutando Sporting e Braga pelos mesmos objectivos, não é lá grande ideia oferecer os seus préstimos ao «inimigo». Imagine-se que o Braga não consegue chegar lá e o Sporting sim. Já estou a ver o que as más línguas dirão sobre o assunto: « O rapaz não só é jeitoso como gosta de fazer jeitos», dirão os menos mauzinhos. E depois, fica outra pergunta no ar: Costinha, Couceiro, Domingos...O SCP já se tornou uma filial do FCP? 

Sunday, March 20, 2011

II- O Livro dos Juízes (ou do pouco Juízo)

Estavam Sonsão e de Larila em sossego postos num banco Público do Jardim Botânico de Cudezeus, ele, escondido atrás da sua formidável trunfa, ela, cismando no meio de convencer o noivo a deixar aquela vida de fora da lei mal pago e sempre com salários em atraso...
- Ah Sonsão, sabes? Às vezes penso que nunca vou poder amar mais ninguém, senão a ti...
- E porque dizes isso, Larila? – pergunta o fortalhaço babando-se de prazer narcisista.
- Porque tu partes os dentes de qualquer desgraçado que ouse chegar-se a menos de cinco braçadas...
- Vá lá, não exageres, há quase uma hora que não bato em ninguém...
- Tu nada fazes por mim: nem aos meus pais foste ainda apresentado...
- E porquê? porque tu fazes exigências absurdas ...
- É absurdo que cortes o cabelo para te apresentar ao papá e à mamã?
- Tu bem sabes porque razão eu me recuso a cortar os cabelos!...
- Oh, tu és um tangas! Mas a culpa não é só tua: tivéssemos tido um sistema de escolaridade obrigatória com um mínimo de qualidade e tu terias compreendido certas coisas básicas...
- Tais como? –perguntou o rapaz bufando para afastar a madeixa que lhe deixava entrever o olhar da amada
- ... Que a força física, por exemplo, pode depender da alimentação, do exercício físico, da carga genética, e até da motivação do momento mas do que nunca dependerá certamente, é de ter uma grande guedelha...
- Pois é mesmo da guedelha que vem a minha força, acredites ou não...
- Safa...tu tiveste algum trauma na infância, envolvendo a figura de um barbeiro, é por isso que não queres cortar o cabelo?
- O meu cabelo faz parte de mim: Ou me aceitas como um todo peludo e quentinho no inverno, ou me mandas dar uma curva pelo deserto...
- O que eu sei –disse ela fazendo beicinho- é que sou a única miúda da minha idade que nem sequer pode gabar-te o olhar ou a boca, porque nunca te vi a cara, andas atrás desses cabelos como certas mulheres atrás do véu. A diferença é que elas têm de, e tu gostas de...
- Lá estás tu...não vês que tudo o que sou o devo a estes cabelos?
- Não, não vejo. Aliás não vejo nada, nem olhar , nem boca, só um matagal de cabelo...
- Que curiosas, as mulheres: para que precisas de me ver a cara?...
- Ouve lá- retorquiu ela indignada- tu namorarias comigo se nunca me tivesses visto a cara?
- Não sei –respondeu ele de pronto- é um caso para pensar...
- Que horror –gritou ela- tu és um monstro!!!
- Nem por isso –respondeu ele- só um tipo com esta cara que todos acham tão engraçada, tão engraçada,  que se mijam a rir!!!
- Oh, mostra-me a tua cara, por favor!!!
- Ñão posso, já sabes...
- Oh, eu juro que te vou amar na mesma!!!
- Não me amarias: o amor é demasiado sério para resistir à galhofa!
- Mas porquê? é proibido rir-se quando se ama?
- Bom, proibido não é desde de que o casal se ria de terceiros –disse ele como quem já tivesse pensado muitas vezes no assunto- mas se tu te rires da minha cara, eu não vou achar graça nenhuma...
- Oh se tu preocupasses assim com o nosso futuro. Tu continuas a não ter ocupação que se veja, andas com marginais, metes-te em arruaças e pancadarias, só não és procurado pela polícia porque nunca ninguém te viu a cara...
- Claro-disse ele com orgulho- eu cá sou um resistente. Se todos fossem como eu, já tínhamos expulso os tipos, e neste momento estávamos a comer tâmaras nessas metrópoles cosmopolitas dos infiéis, com escravos e escravas sempre à disposição...
- Expulsá-los?- exclamou horrorizada-mas eles trouxeram a Lei e a Ordem que antes deles não tínhamos...
- Vês? tu não tens orgulho da tua nação, do teu povo, do teu Deus– disse o rapaz para quem a namorada era um zero em coisas de política- És uma deslumbrada com os esses estrangeiros depravados...
- Tu tens é inveja- atirou-lhe ela com desdém...
- Olá...-ameaçou-a com o olhar- tu andas metido com algum Gabireu?
- ...E se andasse? ...achas que te dizia?...
-  Deixa-te disso: andas ou não andas? –gritou por detrás dos cabelos...
- Achas? –atirou-lhe sem cerimónias- tomara eu! Esses pelo menos têm maneiras,  portam-se à mesa, cortam o cabelo e aparam a barba.
Antes que se dê uma lamentável cena de violência doméstica, o todo proprietário faz aparecer ali, como que por acaso, um amigo de Sonsão, pretexto que Larila usa para sair, de fininho mas com ar mui aborrecido, não sem antes ter lançado um ultimatum:
- Ou te livras dos teus amigos esquisitos, cortas o cabelo e arranjas um emprego decente ou está tudo acabado entre nós!!!
- E arranjo um emprego decente onde?- perguntou o fulano que não tinha a escola toda.
- Porque não no exército dos Gabireus? Parece que não pagam mal e prá pancada tens tu jeito...
- Nunca!!! Nunca ouviste? Prefiro alimentar-me de gafanhotos a trabalhar para o inimigo.- gritou Sonsão para que Keiradeus não tivesse dúvidas que ele se mantinha fiel.
- Oh tu arranjas sempre desculpas para não vergares a mola...mas desta vez vais ter de te decidir...
E lá saiu ela de cena, deixando o namorado a remoer. Keiradeus, chefe da guerrilha olhava em todas as direcções desconfiado, como a confirmar que ninguém os espiava.
- Olá, Sonsão, chateaste-te de novo com a Larila?
- Oh, é sempre o mesmo- disse o cabeludo fingindo indiferença- sabes como são as mulheres, se as deixarmos até o nosso visual querem gerir...
- Em verdade verdadinha te digo que isso não me interessa para nada- mudou de assunto o guerrilheiro – vim confiar-te mais uma missão contra os Gabireus...
- Sou todo ouvidos, eh eh, vamos cobrar mais um mês de imposto revolucionário?
- Eu disse contra os Gabireus, não contra os nossos, vê lá se ouves bem!...
E Sonsão lá afastou um pouco as repas do ouvido esquerdo, que era dos dois o que fazia menos cera:
- Para levarmos a bom termo esta missão é preciso que te deixes prender pelos inimigo...
- Oh, oh: era o que faltava, achas-me com cara de tótó?
- Não discutas: estamos a falar de uma operação de grande envergadura. Tens de te armar um desacato qualquer perto da esquadra de recrutamento de Bathapala
- Ah, dessa parte gosto mais...
- Depois tens de te deixar prender. Os tipos vão levar-te para os calabouços dessa mesma jurisdição, que ficam nas subcaves do Palácio onde vive Matabreus, o rei inimigo Nessa mesma noite, o carcereiro, que se chama Salvarréus, libertar-te-á para que cumpras a tua missão
- Eu vou matar Matabreus?- Perguntou excitado, o espadaúdo.
- Isso é coisa que só o saberás no momento. Toda a operação deve manter-se secreta, não vá algum descuidado abrir a boca.
- Hhhmmmm, passar uma noite debaixo de telha talvez não me mate. Mas gostava de partir para esta missão menos às escuras...
- Lamento mas isto é um trabalho de equipa, a segurança de muita gente depende do sigilo de todos.
- E se eu recusar a missão?- perguntou Sonsão parecendo hesitante.
- Se recusares a missão, serás um dos sorteados para, às sextas-feiras ser oferecido aos Gabireus como bode expiatório, quando se vêm vingar de ataques nossos...
- Falemos da recompensa...
- Se a missão for mal sucedida, arrancamos-te os pelos da cabeça um a um, se for bem sucedida, tens o futuro assegurado...
- Deixa-te de promessas vagas, quero números, estamos a falar de quanto dele?
- Isso também o carcereiro te dirá. Aceitas ou não aceitas os termos do pré-contrato?...
- Hmmm, não sei, não...- e depois num repente- está bem seja!
- Bravo, Sonsão: eu sempre soube que tu eras um verdadeiro patriota.
- Qual quê? dos que nas histórias da carochinha, preferem morrer a virar costas à luta? Não me insultes pá, eu não sou parvo: aceito mas é por achar que um dia sem aturar a Larila talvez me traga algum sossego.
aAqui a imagem fecha-se, reabrindo já com Sonsão partindo as cadeiras de uma esplanada enquanto os turistas fogem horrorizados. Quando, duas horas depois, vindos do quartel ali em frente, os polícias chegaram para o prender, encontraram-no rouco e extenuado junto a uma pilha de cadeiras e mesas destruídas, arfando como um cão.
 Levaram-no para as masmorras do tal palácio, descendo três subcaves abaixo da cave, e foi já na escuridão da cela, duas horas após a sua prisão que ouviu uma voz:
- Estás aí Sonsão?
- Sim, tu és Salvarréus?
- Sou. Ouve, aproxima-te da porta, vou libertar-te já!
- Já, dizes tu? Estou aqui a secar há duas horas...
- Eu sei, eu sei, o tempo escasseia. Ouve bem:vai haver um Baile de máscaras onde vão participar altas patentes do exército, esposas, filhos, o Rei e respectivas esposas, concubinas e filharada É a altura ideal para lhes limpares o sebo a todos.
- Eu??? Sozinho? O Keiradeus disse que se tratava de uma operação de grande envergadura, contando com a colaboração de vários resistentes...
- E é: este ataque já está a ser planeado desde a construção das fundações deste Palácio...
- Ah sim? Mas tu disseste que eu é que lhes vou limpar o sebo...
- E vais: basta que deites duas colunas do palácio abaixo:
- E como vou ter força para isso podes dizer-me?. Eu sou um tipo jovem e robusto mas também não exagerem...
- Oh, tu vais conseguir: os materiais são de terceira categoria, tão marados como a construção. Tudo de fachada, tás a ver?
- Como é que sabes?
- Como havia de ser? Fomos nós que infiltrámos os engenheiros e o empreiteiro desta obra. Tivemos de os ir buscar à costa Atlântica da Ibéria, mas valeu a pena...
- Hmmm, sendo assim, de facto qualquer espirro vira o palácio de cangalhas. Mas se o tecto que vai cair mata os outros que garantias tenho que não me mate a mim também?
- Bom, tu tens uma cabeça dura, mas, em todo o caso, não me parece que tenhas alternativa: ou isso ou vais amanhã presente ao juiz. Mas antes fazem-te uma bela carecada.
- Não!!! isso não!!!
- Então? Decide-te depressa que os últimos convidados estão a chegar ao salão nobre...
- o.k., o.k., liberta-me e eu faço o que vocês querem...
o carcereiro abre-lhe a porta e dá-lhe as últimas instruções:
- Não tem nada que saber, é subir até ao rés de chão, virar à direita no átrio, forçar a entrada e deitar as duas primeiras colunas que te aparecerem pela frente abaixo. 
E lá vai ele mui ligeiro e gaiato e, ao chegar ao rés-do-chão, em vez de se dirigir ao salão nobre tentou pisgar-se pela porta de serviço: em vão pois estava barricada por razões de segurança. Ao ver aproximar-se os soldados da ronda, decidiu tentar entrar despercebido no baile de máscaras mas aí o porteiro barrou-lhe o caminho:
- Aqui só se entra com convite meu senhor...
- Convite?
- Sim, aquele pedaço de argila que tem uns desenhos catitas. O deste ano é bem giro, com estrelinhas e espirais em alto relevo, sem isso não o posso deixar entrar...
Sonsão não esteve com meias medidas e aplicou-lhe o seu famoso soco martelo que tinha a particularidade de pôr qualquer um, porteiro ou não, a ver estrelinhas e espirais em 3D multimédia. Feito isto, ajudou o desmaiado porteiro a estender-se no chão com alguma compostura e entrou por ali adentro. Ao contrário do que esperava, ninguém reparou nele: os depravados dos Gabireus e das Gabiruas, disfarçados de coisas que não lembram ao Diabo, estavam demasiado ocupados a dançar, beber licores e comer figos secos A coisa mudou de figura porém quando:
- Alerta vermelho, alguém disfarçado de salgueiro ou de esfregona desancou o porteiro e introduziu-se na festa sem convite...
Se Sonsão continuasse a comportar-se como até aí, talvez não estranhasse aquela rara criatura entre zebras, chitas, panteras e outra bicharada nem sempre reconhecível, mas como, instintivamente, foi recuando acabou por chamar a atenção de um tipo disfarçado de macaco, um tal Jadeu, general reformado da sexta brigada de combate à corrupção:
- Eh!!! Tu aí, disfarçado de peruca...
O pobre Sonsão, julgando-se descoberto, saltou para uma balaustrada, desta para um cortinado, e , pendurado neste, voou à Tarzan sobre os convidados indo cair entre duas colunas O rei mandou vir os arqueiros que de imediato se ajoelharam alinhados para apontar, enquanto a multidão aguardava excitada o fim da caça. Então, Sonsão encostou as costas à base de uma coluna, amandou os pés, contra a outra e esticou-se o mais que pôde. Compreendendo as suas intenções, os papagaios e as araras entraram em pânico:
-. SOCORRO UM TERRORISTA SUICIDA...
- ACUDAM , UM FANÁTICO DE Yavé..
Por causa da gritaria e da desconcentração, os arqueiros falharam o tiro e tiveram de recarregar os arcos, mas nesse tempo já as duas colunas começavam a dar de si, com um fragor terrível, já as traves e nervuras da abóbada perdiam os apoios verticais e até os tarugos e as telhas começavam a cair pelos intervalos da vigas...

(continua no próximo domingo)

Saturday, March 19, 2011

O Navio (E La Nave Va): Filmes da minha vida por Sir Frankie Goethe Wally Wood


Sobre o filme, já muito se disse sem que o assunto se esgotasse. Sobre a realidade actual, que é em muitos pontos semelhante à obra prima Felliniana, está muito ainda por dizer, embora o assunto pareça esgotado. A partir do momento em que entramos todos num mesmo barco, pelo menos durante o tempo que durar a viagem, pouco importa a origem de cada um dos passageiros visto que só o destino nos une. O Capitão, suspeita-se, não parece saber grande coisa de navegação e os oficiais que o rodeiam apenas parecem interessados na «mercadoria» (refiro-me à não humana) e ao quinhão que há-de tocar a cada um deles, segundo um critério Piramidal cujo vértice parece afastar-se da base a olhos vistos. Os Passageiros, mais diversificados ainda que a fauna de um grande Zoológico, cruzam-se pelos lugares públicos do Navio mas não dedicam grande tempo uns aos outros, tão interessado cada um está na sua ilustre e própria pessoa. Os vários lugares também os conhecemos: O pior sítio do Navio é onde se queimam extraordinárias quantidades de energia para manter a coisa em andamento. Aí, gente rude e suja, transpira copiosamente, atirando constantemente achas para a fogueira. Uns pisos mais acima, Cavalheiros e Damas dançam ao som de «What a Wonderful World». Em redor da Nave e em toda a extensão do horizonte algumas nuvens ameaçam borrasca mas de início isto não preocupa ninguém ou quase ninguém. A própria ideia de Naufrágio é tão impopular entre passageiros que se tornou palavra tabu. Quem relembre essa possibilidade a outrém torna-se impopular senão mesmo pária. O Navio é Moderno, seguro, construído com os melhores materiais e tecnologias, asseguram muitos. Além disso, acrescentam outros, há muito muito tempo que navega sem que alguma vez se tenha afundado, apesar de umas tantas valentes tormentas. Aqui e ali foi havendo uma reparação, por causa de avarias relacionados com o fabrico, afinal não assim tão perfeito. Muitos creem mesmo que o Navio sabe auto-regenerar-se, sem qualquer intervenção humana.
E portanto ela vai, a Nave, mar dentro, sem se saber onde nos leva, mas com um secreto receio sobre as ousadias cada vez mais frequentes do Capitão que pouco parece saber do Real Poder do elemento onde navega.
Bom, no filme o Navio afunda-se sem remédio e (ao contrário do Titanic) ninguém se salva. Começamos por ver a água entrar e subir lentamente de nível, sem a histeria de outros filmes sobre naufrágios. Uma ou outra lágrima silenciosa rola pela face de um homem sensível, não pela vida que vai perder, mas pela que já perdeu há muito.
Alguém terá dito que o genial Realizador, sabendo-se mortal, fez embarcar no «Navio» toda a sua galeria de personagens, os belos e os feios, os sublimes e os grotescos, os ricos e os pobres, para os afundar, pouco antes de ele próprio se ir reunir a eles.
No outro navio, aquele que nos leva para ignoto destino, os oficiais continuam demasiado entretidos com outros afazeres para poderem ouvir o som da rebentação. Alguns membros da tripulação, mais experientes, começam a sobressaltar-se mas aguardam ordens. Os passageiros, na sua quase totalidade ainda dormem o sono dos incautos. Ouvem-se aqui e ali umas sirenes de alarme que o Capitão logo manda calar. Quem terá sido o patife que sonhou o filme desta obscura realidade tão menos interessante que a Obra Prima de Fellini?


The Ship (E La Nave Va): Films of my life by Sir Frankie Goethe Wally Wood



About the film, everything was already written but the subject is not out-of-print. About the reality we have, wich has much in common with Fellini's movie, there's still lots to say.

After the moment we get in the same boat, and during the time the journey lasts, doesn't matter from where the passengers came, just where they go to. The Captain doesn't seem to know much about navigation and the officers around him just care about the merchandise products (I don't mean the human ones) and how much profit wich one will have, according to the uneven rules of the hierarchy.
The passengers, more diverse than a big Zoo fauna, meet each other around the public places of the Ship but they do not give too much attention to their neighbors, so busy each one is with his own dear person. The several places of the Ship are also familiar: The worse of all is the corner where big amounts of energy are wasted to keep «the thing» moving. There, dirty and sweaty men,  feed the fire. Some floors above, a little crowd of Ladies and Gentlemen dance to the sound of the music «What a Wonderful World». Around the ship, some clouds start to darken the sky, but that doesn't seem to bother anyone or almost no one. The concept of sinking is so impopular among the passangers that the word became tabu. 
Whoever might recall the possibility that real quickly becomes impopular. It's a safe, modern ship, made of the best materials and tecnology, we were told. Besides, it's sailing for so long and it did never sink, in spite of so many storms. Of couse, sometimes had to be repaired, because of «small problems of design». Many believe the ship can regenerate itself, without any human action.

So the ship is now sailing across high tide, some of us started to fear the Captain audacity, specialy his desrepect for this big fource of Nature, the endless ocean.
Well, the ship of the movie sinks, and no one can be saved. We start to see the water slowly rising of level, without the histerical reactions of other catastrophe films. Silent tears come out of the open eyes of a sensitive man. He is crying not for the life he will lose, but for the life he lost already.
Someone said in this film Fellini filled «his ship» with all personal gallery of characters, the prety and the ugly, the grotesc and the sublime, the rich and the poor, just to make them sink little before he did go to join them.
In the other ship, the one is taking us to unknown harbour, the officers ar too busy to notice the sound of the raving see. Some more experienced members of the crew start to be inquiet, but they are still waiting for further instructions. Most of the passengers are still asleep. The Captain did put off the alarm sirens. I ask myself: who was the villain that did dream this dark reallity, so less interesting than the master piece of Fellini? 


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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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