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Wednesday, December 15, 2010

O último a saber ou a canção do bandido


Na colorida expressão popular, o último a saber é sempre o corno. Nos tempos que correm, o último a saber é o actual primeiro ministro deste sobanato, a fazer fé no que o próprio amiúde confessa. Desde o primeiríssimo dia do seu primeiro mandato, Zé Escrocas nos vem dando contas da sua fundamental ignorância. Adaptando a máxima de Sócrates, do verdadeiro, ele só sabe que nada soube. Não ter a mínima ideia do défice deixado pelo seu antecessor (desculpa para violar a sua promessa de não aumentar impostos), foi a primeira de uma série de confissões do género. Desde aí, já ouvimos várias versões desta canção rasca. Últimas variações: a alegada tentativa da P.T, para comprar a T.V.I., as escalas em Portugal de prisioneiros para Guantanamo e a crise financeira internacional. Em todos estes casos, Escrocas nada sabia nem se achava na obrigação de saber. Quanto à crise financeira, chegou mesmo a dizer que o mundo mudara em quinze dias. Pudera!. Desde Copérnico sabemos que o Mundo não pára quieto, um segundo que seja. A dona Alzirinha, que é mulher a dias do meu vizinho, já tinha ouvido falar, seis meses antes, da crise do «supraime», o tal da «bolha», que estoirou, lá nas Américas e andava preocupada quanto ao que fazer com as suas magras poupanças. Mas Escrocas, apesar da sua legião de assessores, andaria a estudar dossiês mais importantes do que o da crise. Parece que mesmo depois de ter ouvido uns zunzuns, sobre um tal crash, ainda andou meio-ano a dizer que o nosso caso era diferente do de outros países, menos dotados de bons decisores. Depois vieram os ataques especulativos e o homem lá continuou a dizer que estavamos bem acima da linha de água e portanto nunca nos veríamos tão gregos como os gregos. Mesmo depois de termos começado a pagar juros mais elevados que países em processo de resgate, o discurso não mudou: não havia crise. A crise que não havia já cá estava, claro, alapada em grande parte dos lares do país mas, pelos vistos, o homem continua alheado do facto. Desesperados, muitos nossos concidadãos finalmente concluíram que tinham um P.M. mitómano (palavra fina para designar um vulgar aldrabão). Podemos, com boa-fé encontrar outra explicação para tanto vazio informativo naquele atormentado cérebro, até porque um Chefe que diz não andar informado é como um segurança de discoteca de aspecto lingrinhas: todos lhe passam por cima.
Até hoje, nunca vi ninguém que colocasse outras hipóteses senão a tendência de Escrocas para as galgas mas a verdade é que o indivíduo pode sofrer de doença mental degenerativa grave, a ponto de se esquecer de toda a informação que recebe. Nesse caso, não estará a mentir pois acontece-lhe viver num estado de permanente apagão. Uma branca falo-á esquecer em cinco minutos o que está a ouvir agora. Mais quatro minutos e, pimba, outra branca apaga-lhe do cérebro o nome dos compinchas. Mais três e zás: varreu-se-lhe o nome do partido de que é suposto líder. Mais dois e lá vai pelo esgoto o nome do país de que é putativo governante. Mais um, puff!!! tudo desaparece, só fica ele e um imenso espelho. Um destes dias ainda teremos de o ouvir dizer que não sabia que era chefe de governo; que jamais alguém lhe facultou informação oficial que lhe assegurasse ser, efectivamente ele, o chefe de governo...»

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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