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Saturday, December 25, 2010

O capitalismo off-shore explicado aos adultos



Confusa anda a populaça, sem perceber patavina da actual crise financeira. Ninguém parece saber ou querer explicar-lhe, nem que seja pela rama, a natureza do monstro*. Em parte, isto justifica-se pelo facto de este monstro, não possuir verdadeiramente uma natureza. Como todas as outras, a besta foi fabricada para dar lucro aos seus inventores e treinada para comer, entretanto, tudo o que encontre pelo caminho. Depois do capitalismo mercantilista, do capitalismo industrial, do capitalismo especulativo e do capitalismo electrónico, entrámos numa nova era, a dos capitalistas que transferem grande parte do que abocanham para zonas ignotas do Universo, enquanto continuam a deglutir, deste lado, quantidades astronómicas de recursos humanos e materiais. A hiperbole é menos tonta do que parece porque um off-shore tem isto em comum com um buraco negro: não se conhece exactamente a substância de que é feito, mas sabe-se que «suga» qualquer corpo com «massa» que dele se aproxime. O seu poder de atracção é tão grande que pode engolir sistemas solares e galáxias inteiras. E do que cai dentro dessa enorme goela, não volta a haver notícias (e muito menos recursos nos tribunais). Aqui reside, aliás, o grande enigma do desfecho desta crise. Nos últimos tempos, os Aladinos da Alta Finança, em lugar de fazer aparecer coisas (estradas, escolas, hospitais, sei lá, o que a comunidade achasse útil...) especializaram-se em fazê-las desaparecer, pelo menos dos nossos pobres universos visitáveis. Falta saber se, aquilo que fizeram desaparecer, ainda se encontra no lugar onde eles supõem que o depositaram. Insondável é qualquer buraco negro, por muito branco ou transparente que se diga. Portanto, muito me espantaria se um grande número de devotos alimentadores desta Força Negra não viesse, nalgum ponto, a sentir-se séria e injustamente lesado (por esquema semelhante ao que já pululava pela banca dita séria).
Exagero?!? vejamos: de onde vieram os génios que gerem os off-shores senão da banca dita séria?. Gente que foi capaz de dar golpadas no zé-ninguém contando-lhe a estória do capuchinho vermelho, não estará também suficientemente habilitada para abocanhar as carnes dos seus pares que (eles bem o sabem) engordaram à custa de carcassas alheias?.
Portanto, se um dia vires um político ou quadro administrativo (público ou privado já é tudo o mesmo, repara como esses macacos saltam de um galho para o para outro), a gritar «aqui d'el Rei, vamos já acabar com as off-shores», nota que não foi por se banhar no grande lago dos princípios éticos, mas porque ele também já está a arder. E ainda o sinal que, de um tubarão, se transformou num tenro jaquinzinho frito pronto a ser triturado e deglutido, espinhas e cabeça incluídos.
Os meus onze dedos adivinham isto: alguns responsáveis pela actual crise acabarão devorados pelo mesmo monstro que ajudaram a criar e proteger. E poucas coisas são mais giras (e justas) do que ver o feiticeiro atacado pelos mesmos feitiços que lançou contra terceiros...


* e sobre este monstro, o Soba da tribo não faz pedagogia?

2 comments:

  1. ...GOSTEI !!!
    Entre metonímias que suavizam a tão dura realidade, há a clareza, a ironia e o sarcasmo que delas se subentendem!!
    PARABÉNS!!
    Vou parilhar o Blog!!

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  2. "Os meus onze dedos adivinham isto: alguns responsáveis pela actual crise acabarão devorados pelo mesmo monstro que ajudaram a criar e proteger. E poucas coisas são mais giras (e justas) do que ver o feiticeiro atacado pelos mesmos feitiços que lançou contra terceiros..." Gostei muiiiiiitooooo mesmo de tudo que li até agora, mas irresistivel para mim não pegar no final desta história..... que nessa então totalmente de acordo.... Brigada Joaquim abraço

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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