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Sunday, July 31, 2011

O livro do Profeta .Maquias

No oitavo mês do primeiro ano do reino de Numerário, o Profeta Maquias, filho de Barraquias e de quem não vem aqui agora ao caso, que eu não gosto de palavrões, dirigiu ao povo a palavra do $enhor mais ou menos nestes termos:
«Ficai sabendo, meus palonços que mui passado da mona anda o $enhor por causa do vosso incumprimento financeiro. Pois bem, vou-vos contar as minhas visões para que saibais bem o que vos espera se isto assim continua.

1ª visão: os cavaleiros

Vi um homem montado num cavalo vermelho entre as murtas de um fundo vale. Por trás dele havia cavalos ruços, cor de canela e brancos. Perguntei ao anjinho que estava comigo (era mesmo anjinho, o tipo): Mas donde veio este gado todo?
A isto ele encolheu os ombros mas o homem que estava montado a cavalo ouviu e sentiu-se ofendido. Disse então: 
- Pois fica sabendo, ò desbocado, que nós somos enviados do $enhor e acabamos de percorrer a Terra inteira. E posso dizer-te, ò ranhoso, que toda a Terra está em paz e repouso.
Ri-me às bandeiras despregadas e fixei o tipo com ar de censura, para que não pensasse que eu era totó! depois, com a minha lendária calma, ainda a rir-me, falei-lhe assim:
- E tu achas que eu não vejo as notícias, ò pázinho? desde quando esteve a TERRA INTEIRA em paz e repouso? olha, desampara-me a loja porque tu e o teu gado estão a violar  propriedade privada, tá? ou fazes já isso ou aqui o meu anjinho corre contigo !!!
O homem olhou para o meu anjinho que por sua vez contemplava a cena com cara de basbaque e desafiou:
- Quem, esse? nem vinte cromos como vocês os dois juntos! venham cá se forem homens e blá blá blá, blá blá blá...
E o gajo não se calava, só por ter um cavalo da Ferrari (era vermelho, lembram-se?). Estava tão farto de o ouvir que pisquei um olho ao anjinho, que era um sinal secreto entre nós!
Então o anjinho, com uma expressão de criança feliz,  levou dois dedos à boca e emitiu um assobio tão longo e prolongado que os cavalos e o cavaleiro desandaram dali num ápice. Eu também fugi, que o assobio daquele anjinho é como a voz esganiçada da minha mulher quando se zanga: não se aguenta!

2ª visão: os quatro chifres e os quatro artífices

Depois ergui os olhos e vi quatro chifres. Não, não foram dois encornados que vi: foram mesmo quatro chifres, por sinal bem rijos. Perguntei ao anjinho o que significava aquilo. Ele sorriu com cara de idiota e voltou a encolher os ombros. Aproximei-me um pouco mais e vi uma placa de latão junto a eles que dizia: « ESTES SÃO OS CHIFRES QUE DISPERSARAM JÁDEU - Inaugurada por Sua Excelência o Primeiro e Único etc...». 
Mal tinha lido isto vi surgirem quatro artífices, todos com caparro de Stalone na fase em que tomava testosterona. 
Antes que eu perguntasse quem eram, o mais encorpado deles disse-me:
- Não olhes para mim com cara de embriaguez que eu não sou nenhuma ânfora de vinho: viemos para destruir estes chifres que ontem serrámos das cabeças do Grande Bode e da Grande Cabra.
E mais não disseram nem mesmo depois de eu os ter bombardeado com mil e duas perguntas. Tive mesmo de me ir embora porque o mais encorpado já se estava a passar com a minha curiosidade! 

3ª visão: o cordel de medir

Então levantei os olhos e tive mais uma visão: Era um homem muito bem vestido e engravatado que tinha na mão um cordel de medir. Perguntei-lhe:
- Olha lá, ò moina: andas a medir o quê, na minha propriedade? 
O tipo encarou-me e disse com frieza: 
- Vai passar por aqui a nova auto-estrada.
- Oh oh - fiquei logo indisposto - isso é que era bom! com a miséria de compensações que dão? só por cima do meu cadáver!
-Isso pode-se arranjar - disse o homem com voz firme e assustadora - refiro-me ao teu cadáver, não à tua indemnização. 
Fiz o tal sinal ao Anjinho e ele assobiou como na primeira visão. Resultado: eu cavei dali para fora num ápice, o janota lá continuou a medir as minhas terras. Concluí então que só podia ser político: ERA SURDO AOS SONS EMITIDOS PELOS ANJINHOS!

Dito isto Maquias pegou no seu bordão e deu de frosques. O povo, como sempre, ficou a murmurar. Bem, quase todos murmuravam porque Gargantias  tinha goela aberta e uma voz de trombone, portanto todos (até Maquias que se afastava) o ouviram dizer:
- Aquilo ou é da droga que anda a tomar, ou do sol que apanha no deserto ou então lá descobriu o que a mulher anda a fazer quando ele se arma em eremita, coitado!



Saturday, July 30, 2011

O Senhor dos Aneis - Filmes da minha vida por Sir Frankie Goethe Wally Wood

Díficil desafio o de transpor para cinema a ímpar obra de Tolkien: é grande (também no sentido de volumosa), complexa (muitos lugares e personagens) e plena de prodígios (esta parte, hoje, com os efeitos especiais e seus especialistas, torna-se um impecilho pelas razões opostas às do passado: usa-se e abusa-se deste recurso, esquecendo muitas vezes que ele é um meio e não um fim em si mesmo).
Vou ser sincero: gostei, apesar de tudo, do filme. É certo que diante de tão colossal obra literária, havia que fazer opções de forma a não violentar o formato filme, de contrário, nem 24 horas consecutivas de filme narrariam todas as peripécias registadas na trilogia. Ainda assim, o filme saiu longo mas creio que o essencial da obra estava lá.
Preciosos (além do Anel) nesta obra, são o imaginário (bem conseguido no filme, quanto a mim, tanto nos cenários quanto na caracterização das personagens), a teia narrativa e as constantes alusões à Natureza do Mal Absoluto (isto é, a incomensurável vontade de domínio sobre a Natureza e as criaturas que dela fazem parte).
Talvez não por acaso escrita nos anos de chumbo da ascensão nazi, o autor sempre se recusou a estabelecer paralelos com a realidade mas tenho para mim que é impossível que ele próprio não tenha visto essas relações ou que pelo menos elas não tenham influenciado a sua obra.
Na verdade, «o Senhor dos Anéis» é uma epopeia que transcende a realidade específica de uma época e por isso bem fez  Tolkien em não a «empobrecer», colaborando numa identificação excessiva com a pesada realidade do seu tempo.
Reflexão quase metafísica sobre a natureza humana (porque além dos humanos propriamente ditos, os Hobbits, os Gigantes, os Elfos, os Orcs, os Trolls têm atributos tão humanos que não precisamos de um «tradutor emocional» para compreendermos as motivações de cada um deles), o primeiro golpe de genialidade da trilogia é colocar no centro da acção um objecto minúsculo e aparentemente insignificante (o Anel nº 1 de Sauron), símbolo de poder e poder efectivo, pelos prodígios que permite ao seu possuidor. 
Trata-se de um anel com vontade própria (reunir-se ao seu Senhor) que coloca, em quem o usa, uma extrema dependência , com muitas analogias às chamadas drogas duras (heroína, cocaína e...Poder precisamente, que é uma das mais duras drogas que alguém pode experimentar, com a vantagem de não estar ilegalizado).
Portanto, a necessidade imperiosa de possuir o Anel é enganadora porque, em última instância, é o Anel que possui quem o usa. Com a agravante de (tal como acontece com qualquer viciado), ser tão mais difícil ao «possuído» realizar a sua condição de servo, quanto mais tempo tenha ele estado sob o seu domínio e efeito. 
E o estigma é de tal ordem que mesmo já não estando sob o seu efeito directo, o uso do Anel deixou sequelas para toda a vida (compreende-se agora melhor, creio, o paralelo que faço com substâncias psicotrópicas e com o Poder).
Mas o grande fascínio de «o Senhor dos Anéis» não se esgota aqui: embora estejamos sempre em presença do Mal absoluto, encarnado por Sauron e pelos seus anéis e servidores, as personagens principais estão longe de representarem, por antítese, o Bem Absoluto: fracos e corruptíveis, os que lutam contra o poder das Trevas também sentem o seu apelo: Saruman, o feiticeiro acaba mesmo a servi-lo e Gandhalf, embora não ceda a tais impulsos, tem os seus acessos de ira e de impiedade para com os inimigos, quando não mesmo com amigos. Frodo, o pequeno Hobbit que carrega o fardo do Anel,  vive momentos de total submissão ao objecto e mesmo Golem, uma das mais repugnantes personagens do livro, acaba por ter um papel fulcral na vitória do Bem, ao despenhar-se no vulcão com o anel que nunca deixara de tentar recuperar. 
Em suma: nenhuma das criaturas que povoa esta obra épica foi esboçada a preto e branco: uma míriade de cores compõe cada uma delas, tornando-as capazes do bem ou do mal, dependendo das circunstâncias. No fim, suspeita-se até que Sauron terá também o seu lado bom, hipótese que já levou alguém a escrever a história vista por outro lado, pelo lado dos vencidos, apresentando os vencedores (Gandhalf, os Elfos, os Hobbits e restante coligação) como inimigos do progresso (obscurantistas). Não deixa de ser uma leitura tão legítima quanto outras, até porque quem a fez, estudou a fundo a obra de Tolkien e respeita plenamente o seu Universo.
Para concluir, deixo uma provocação aos que torcem o nariz a esta obra, sob o pretexto de ser fantasista: em que lugar existe obra (de Arte ou não) que não seja fantasista?. E em que lugar existe uma única criatura que não seja ficcionada? cada um de nós é uma ficção construída desde os mais tenros anos de infância. 
Porque desde que nascemos somos ficcionados, primeiro com um nome, depois com uma «história familiar» até que, na já na posse da linguagem oral e escrita, esse trabalho de ficção passa também para as nossas mãos, sem nunca ter saído de mãos alheias.
Ficcionemo-nos portanto, já que, sempre que falamos de nós, não sabemos fazer outra coisa!



Friday, July 29, 2011

CONSULTÓRIO DO SEXO: Pela Dra. M. Gustava de los Placeres y Morales

Aaaah! acabo de acordar e ainda estou a espreguiçar-me. Bom dia, madrugadores (a minha tarde hoje só começa lá pelas oito). Hoje vou falar-vos de uma «moda» que está a fazer furor nos dois lados do Atlântico: os assexuados. 
Não, não me refiro a quem não tenha um sexo mas a homens que se consideram homens e mulheres que se consideram mulheres que dizem não necessitar de sexo.
A moda não é, de resto, recente: eu é que fui atardando o assunto (hoje é tarde, portanto...).
Diante deste novo fenómeno, há quase tantas posições como as que envolvem o sexo, para quem dele gosta: 
1- os desconfiados (pensamento mais corrente: está bem, está, o que tu queres sei eu), 
2 -os silenciosos ( pensamento mais corrente: será que o tarado sou só eu?) 
3 -os curiosos (pensamento mais corrente:que droga terá posto esta gente assim?), 
4 - os perturbados (pensamento mais corrente: eh pah! e se um dia eu também fico assim?)
5 - os angustiados (pensamento mais corrente: por este andar, onde vai a humanidade parar?)
6 - os revoltados ( pensamento mais corrente: Eis o que a comida transgénica e as hormonas dos frangos fazem!) 
7 - para abreviar uns poucos (muito pouquinhos mas muuuito trendy) que gritam: viva, finalmente encontrei alguém como eu!|
A minha visão pessoal, sobre este assunto, expressei-a há dias a um amigo que assexuado se me confessou: 

- oxalá nunca ninguém te deseje fisicamente, rapaz, também para teu sossego.

Não sei porquê, acho que ele não gostou de ouvir isto, mesmo se eu só o disse por simpatia para a sua confessada condição. Juraria mesmo que se sentiu ofendido. Neste caso portanto, a confissão valeu o que valeu: ele estava só a armar aos cucos.
Mas acredito, firmemente, que possam existir pessoas que, de facto, não sintam o apelo sexual. O que não acredito é em «casais» assexuados (último grito dessa moda) que decidem juntar-se para...bom, eu nem sei bem para quê! 
Para viver juntos? decerto se pode viver com uma amiga ou um amigo (eu já o fiz várias vezes), mas se não há laços sexuais , porquê e para quê reclamar o estatuto de casal? eis o que me confunde!
O apelo da assexualidade (se apelo existe em tal coisa) quanto a mim, seria tanto maior quanto mais INDEPENDÊNCIA trouxesse ao indivíduo.
Ora se esta nova modalidade desvaloriza o sexo para enaltecer o chamado amor espiritual (ou platónico) mais uma oportunidade teria para quebrar limites e, liberto do peso da posse e do ciúme, construir um círculo alargado de amores desinteressados. Ao ligar-se a uma pessoa só, de uma forma que em nada se distingue da amizade, mas atribuindo-lhe uma carga que a amizade não tem (a exclusividade da relação), na minha modesta opinião, a vida afectiva destas pessoas «enconcha-se» e empobrece.
Não o digo para atacar ninguém mas para me defender de futuras investidas. Mulher de carne e osso, detestaria decerto que um qualquer homem a abordasse nestes termos que farão, talvez, as delícias das mulheres assexuadas, mas que provocariam calafrios a todas as outras:

- querida, amo-te muito, quero que sejas minha e só minha, mas atenção: não quero sexo contigo!

Amigas e amigos: antes esconderem o vosso sexo atrás de um A, ou de enaltecerem em demasia a abstinência e o amor espiritual, pensem bem, na vossa intimidade (aí ninguém precisa de mentir), se é disso mesmo que gostam...

Thursday, July 28, 2011

As famílias escapistas por Lilith Lovelace.

Que fazem as pessoas quando têm pela frente um daqueles problemas que parece insolúvel? 
Exceptuando uma muito reduzida minoria, que se atira de corpo inteiro para cima dos «cornos do touro», quase todos fazemos o mesmo: inventamos um problema mais pequeno e escondemo-nos atrás dele. 
Na maioria das vezes, o problema inventado é tão mesquinho e ridículo que só convence o seu criador: os outros, melhor ou pior, dão-se conta que o sujeito em causa está só a fugir de algo que ele (e às vezes só mesmo ele) considera  inominável .
A morte individual de cada um de nós é o exemplo extremo de como todos somos capazes de nos entreter diariamente com a vida, para não pensarmos no seu fim: vivemos como se não soubéssemos que vamos morrer e de certa forma, ainda bem que assim é pois a paralisia do medo da morte nada resolveria, só nos impedindo de desfrutar do que de bom a vida pudesse ainda ter para oferecer.
Há no entanto situações problemáticas menos extremas, não insolúveis, cuja resolução implicaria uma mudança de rotinas, esforço, concentração e um irredentismo que não está decerto ao alcance de todos. 
E outras que não exigiriam mais que alguma persistência, alguma coragem, algum amor-próprio.
Visto que humana sou e para humanos escrevo, não me vou dedicar aos grandes problemas metafísicos e também não sou das que sente grande prazer nos assuntos da morte e todas as existenciais questões que ela levanta. 
Terra-a-terra, quero apenas questionar-me sobre os grandes problemas solúveis a que quase todos continuamos a fugir. 
Perguntar porque hesitam tanto, tantos povos supostamente esclarecidos, em tomar o destino nas suas mãos, em lugar de os confiar aos mercenários da Alta Finança.
Porque neste ponto, já todos ou quase todos compreendemos a «natureza» da crise que vivemos: não é crise alguma mas um negócio altamente rentável para quem a produziu e agora a está a «gerir». 
Em País algum o sistema produtivo entrou em colapso. As transacções não deixaram de se fazer. As necessidades básicas não deixaram de existir, logo, continuaram a ter que ser satisfeitas, recorrendo ao mercado.
É certo que a emergência das novas potencias (os BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China) implicou maior pressão sobre as matérias primas e os recursos esgotáveis. Mas o essencial desta crise passou por outros processos de fabrico.
O capitalismo triunfante desde a queda do muro de Berlim, rasgou o contrato social e começou a olhar para a China como «glorioso modelo» da competição global: mão de obra escrava, processos de produção obsoletos e agressivos para com o meio ambiente (mas menos dispendiosos), em duas palavras: capitalismo selvagem!
Há anos que se pressentia e verificava a meteórica perda de direitos dos assalariados, a degradação dos serviços sociais e comunitários, a ruptura dos laços de solidariedade entre regiões.
Tal situação está a levar muitos países a verdadeiros confrontos civis. 
mas isto não preocupa os Senhores do Mundo (há até quem diga que esse é mesmo o seu objectivo último): eles bem sabem que quando a vítima não responde a uma agressão, alguém (que não o agressor) há-de pagar pelos maus-tratos (agressividade desviada?).
E é aqui que o Escapismo me revolve as tripas: custa-me que não se aponte hoje aos alvos certos porque sei que amanhã, sendo a situação ainda pior, sobretudo os tiros que acertarem hão-de duplamente falhar. 
Escapistas de todo o Mundo: não precisais de vos unir. A realidade, um dia, há-de fundir-nos a todos na mesma amálgama. Mas quanto mais não seja por razões egoístas (isto é, as vossas), não vos parece que já vai sendo altura de enfrentar a Besta?

Wednesday, July 27, 2011

OS «RAZÍADAS» por Luís Vaz de Cá (Mões, Beira Alta) Canto quarto, Estr. 21 a 24



21- E se a Pátria doente convalesce
Sempre negando sua condição
Fugindo dos males de que padece
Orgulhosa de seu corpo malsão
Senta-se no sofá e adormece
Ligando ( sem ligar ) à televisão:
Os dias vão sendo tão cansativos
Que de noite já só restam mortos-vivos


22 - Decerto não por falta de diagnose
Se bem que uns esquecessem da receita 
Outros olvidassem a recta dose
E uns terceiros, sabendo da maleita
Cuidassem que absorviam por osmose
A substância activa certa e perfeita
E assim um corpo bem debilitado
Vive ainda, optimista e esperançado


23 - ( Num lento mas esforçado suicídio
Indústrias, pescas e agriculturas
A troco de corrupto subsídio
Abatidas, como ignóbeis criaturas:
A quem trará ainda alívio
A hipoteca das décadas futuras
De uma Nação que, para minha surpresa
Por descuido se fez apetecível presa...)


24 - Sem anti-corpos, o corpo Nacional
Já por cima dele,  aves de agouro
Descrevem círculos, esperam o sinal
Que uma vida em débito e desdouro
Sempre emite no instante terminal
Já os credores lhe disputam o tesouro
E os herdeiros, sem projecto ou rumo
recusam-se a ver os sinais de fumo            

«os Razíadas» têm vindo a ser publicados neste blog desde o canto primeiro, por norma às quartas feiras (houve uma ou outra excepção).

Tuesday, July 26, 2011

História Universal da Cuskice - pela Dra. Glória d'Anais de Guerra e Antas

Vamos hoje entrar num novo capítulo da HUC. Falámos até agora, de forma muito genérica, da cuskice. Passaremos a mostrar, daqui em diante, exemplos  de cuskices que tiveram considerável impacto histórico. 
Como já abordamos a pré-história da cuskice, vamos saltar agora até ao berço da escrita (e logo da História sem pré): as grandes Civilizações Labregas. Voltamos portanto ao formato pergunta resposta:

Dra Glória: quais foram as primeiras personagens célebres a ser alvo da cuskice escrita? 

- Todas as evidências até hoje (até hoje, porque continuamos a cuskar no passado) apontam para o Indalastão como o sítio onde surgiu a primeira forma de linguagem escrita: o Trânscrito. E as primeiras vítimas, aparentemente, foram os milhares de Deuses e Deusas da Terra, que viram sua vida (sobretudo a íntima) devassada por mil e um relatos sobre as suas proezas. Assim, ficámos a saber que a tal de Kali (Kalidita para os amigos), era uma brasa de mulher, segundo alguns Vedas (vedados a leigos) a esposa de Shiva (que seria neste caso, o Deus campeão dos encornados), segundo outros ela é o próprio Shiva (o que faria dele o primeiro transexual)  que um dia perdeu a cabeça e, quando a reencontrou, ela tinha mudado tanto que se pensou ser não dela mas de uma «menina da vida». 
Em resultado disso, e como também vivia num país quentinho, aquele território tornou-se dos mais populosos do mundo, pois a miúda-deusa era insaciável.  À pala do seu eterno cio, imagina-se os milhões de filhos de pai incógnito que trouxe ao mundo!
Mas se Shiva não era dos ciumentos, já Brama não brincava em serviço: cansado dos torcicolos,  para melhor poder vigiar a amada sem ter de andar sempre a voltar o pescoço,  (uma tal de Satrupa que ele próprio criou) chegou a ter cinco cabeças (depois ficou com quatro, as razões disto não são pacíficas). Assim, quer a desgraçada estivesse do seu lado direito, seu lado esquerdo, à frente ou atrás, tinha sempre o olhar fixo e desconfiado do autor dos seus dias. 
Sem outra escapatória, a rapariga fugiu para cima e refugiou-se no Céu e então o tal de Brama criou a quinta cabeça, para olhar para cima! (estás a rir-te de quê, ò Joaquim? não estou a inventar nada!... ah Já sei: ganda maroto). 
Bom, pelos vistos nem aí lhe escapou pois Satrupa (também conhecida por Sarasvati) acabou por engravidar do seu Pigmalião dando à luz Suayambhuva Manu, Pai de toda a humanidade. 

Então as pessoas preferiam cuskar a vida dos Deuses em vez da dos vizinhos? isso é espantoso!

Nada disso: uma coisa não impede a outra. Vê como é ainda hoje: desde quando as revistas de fofocas impedem as Marias e os Manéis de falar sobre os vizinhos? às vezes até servem de aperitivo! Claro que os Deuses desta velha religião puseram-se a jeito, vindo viver para a Terra,. As estrelas de Hollywood são mais espertas: refugiam-se num qualquer Paraíso, longe dos mortais mas nem assim escapam à cuskice. Tal como Brama fazem as suas plásticas mas não as publicitam muito (excepto as mais desesperadas por ser notícia)...

Temos então: Kali, Brama, mais alguém? quem mais foi alvo de cuskice?

Todos os Deuses e Deusas sem excepção o foram. Mas como estou no início e já falei de Brama o Criador e Shiva o destruidor, falta-me falar do terceiro elemento da Trindade Vixnu, o conservador. 
Ao que parece Brama nem merece grande consideração, sendo alvo de culto em apenas um templo: criou o Universo, sim, mas depois foi dormir, o preguiçoso. Isto prova que desde sempre a criação foi considerada actividade menor, própria de preguiçosos. 
Vixnu ficou de capataz e para se resguardar, aparece sob a forma de avatar (nove já vieram, falta o décimo) sempre que um grande mal ameaça o Planeta (que é sua propriedade pois que o patrão anda por fora...). 
Há quem diga que ele está feito com Shiva o destruidor, que um implode de vez em quando umas coisitas para depois o outro construir por cima, muitas vezes sem serem acautelados os regulamentos de edificações Urbanas. 
Outros porém dizem que não é nada disso pois Brama, Shiva/Kali e Vixnu são todos a mesma e única pessoa mas sofrem de tripolaridade  (ou tetra?). 
Quem ler os livros sagrados na versão original (primeiro há que aprender a língua e a escrita que não estão no Google tradutor), livra-se de um só golpe de duas angústias de peso:
a) Informando-se sobre os deuses desta civilização,  seus traumas, seus vícios, suas neuroses e suas psicoses, encontra-se finalmente a razão porque a humanidade que eles criaram é o que é!
b) Fica-se a perceber esta coisa básica: os Deuses também se aborrecem. Adivinhem agora quem se prejudica (para não utilizar um termo mais colorido) sempre que o Tédio e a Fúria Devastadora se apodera deles? 
AHA!!! a última frase fez-me descobrir acidentalmente porque escolheram estes deuses viver entre os mortais!!!

P.S: As imagens representam (de cima para baixo): Kali, Brama, Vixnu.

Monday, July 25, 2011

este livro que despejo - por António Aleijo



Que direi da atitude
das gentes de Portugal?
se algo que por aqui mude
é para deixar tudo igual?


Presos a medos atávicos
comprando suas grilhetas
para delícia do sádicos
e lucro dos proxenetas


Com ânimo e galhardia
amam quem lhes faz a folha
e se der para a sodomia
há vários cremes à escolha


Escapistas e distraídos
com fogos de artifício
quanto mais descontraídos
mais pronto o orifício


Alguns gostarão -quem sabe?
não é coisa que me açule
mas se há quem p'lo acto pague
têm que ter quem os chule?




Nota: António Aleijo é um pseudónimo de Joaquim Silva, que por sua vez é um pseudónimo de António Gil (ignoro se António Gil não será, por sua vez, pseudónimo de alguém cujo verdadeiro nome nem eu  sei). Fica aqui o Link de António Gil, página de poesia no Facebook (mais intimista que esta):


https://www.facebook.com/pages/Ant%C3%B3nio-Gil/128669997211569









Sunday, July 24, 2011

Bíblia, Nova Ver$ão, Livro V- o Livro dos Provérbios.

...continuação do Livro dos Provérbios (iniciado no Último Domingo), escrito pelos assessores de Toleimão, o Rei-Juiz que se tornou célebre por não deixar que os processos prescrevessem...

Longe do Vista...- Perto do Windows XP
Quem o feio ama...- É porque tem  medo de ser encornado
Homem prevenido...- Não tem desculpa para faltar à reunião
Quem tem brio...- Tem que aguentar o briol
A galinha da vizinha...- Tem um cacarejar mais irritante do que a minha
Amigos, amigos...- Namoradas à parte
Pão, pão...- Estou farto de tanto pão, cadê o queijo?
Trabalho é trabalho...- Cognac é uma bebida francesa que faz muito mal ao fígado.
O comer e o rezar...- Acabam sempre por fartar
O que torto nasce...- Nem à chapada se endireita
Mão que dá o pão...- Ainda não aprendeu a vendê-lo.
A velhice...- Pode até ser um posto mas quem quer ser promovido?
O casamento e a mortalha... -Custam os olhos da cara
A beleza está nos olhos...- De quem tem os olhos bonitos
Homem chorão...- Ou é corno ou é político
Tão ladrão é o que assalta a vinha...- Como os que deram a palmada ao BPN, mas estes últimos roubaram muuuuuito mais.
O Mundo é uma bola...- Há por aí algum craque?
Homem velho e mulher nova...- É porque o gajo decerto tem «guito»
Mulher com pêlo na venta...- Está a precisar de uma Epylady, que com cera dói um bocado!
A rico não devas...- E a pobre não emprestes sem fiador, que é o que os ricos te exigem!
Quem tem filhos...- Ou os quis ter ou descuidou-se...
Para baixo todos os santos ajudam - Cambada de preguiçosos: é por isso que o País está como está!
Filho és, pai serás...- Não se aplica às mulheres nem aos homens que tomem as devidas precauções.
Quem dá o que tem...- Decerto foi obrigado!
A verdade sai da boca das crianças- Decerto foi uma criança mentirosa que inventou este: as crianças, tal como os adultos, só dizem a verdade quando lhes convém (eles podem ser pequeninos mas não são tolos)!
Só se pica quem...- Já não tem dinheiro para fumar chinesinhas!
Quem conta um conto...- Normalmente é vígaro. Ou galgas...
A mulher quer-se como a sardinha...- Quem foi o tarado que inventou este? com cabras e ovelhas já não seria taradice bastante?
Quem escuta...- Ou é calhandreiro ou trabalha para o SIS
Quem se mete por atalhos...- É porque gosta de ter tudo no Ambiente de trabalho, em vez de procurar em «todos os programas»
Querer é poder...- Ah ah ah: querias, não querias? mas não podes! 
Quem canta...- A caça (ou o peixe, se estiver a pescar) espanta!
Quem tem medo compra um cão - E quem tem medo de cães faz o quê?
Quem não deve...- Teme que lhe façam pagar a dívida que os políticos contraíram em nome do País!
parir é dor, criar é amor...- Não se aplica a quem cria abcessos!
Quem não se sente...- É porque não levou chapada bem assente!
Não se deve  pôr o carro à frente dos bois - Sobretudo se o CARRO for um Ferrari vermelho!
Chamemos os Boys pelos nomes...- Desculpem lá, mas agora não me apetece dizer palavrões!

Para rematar este livro, devo recordar aqui as três pessoas da Santíssima Trindade: Mãe, Pai e Filho (ou Filha). O Espírito Santo (BES prós amigos) é uma entidade criada com fins lucrativos e já mais de uma vez foi apanhado em negócios assaz escuros e malcheirosos.
De resto, pergunto: faria algum sentido ter Pai e Filho sem uma Mãe? que raio de taradice seria essa? e ainda há quem, defendendo tais perversões, se oponha ao casamento gay, sob o pretexto de não ser «natural»? em verdade verdadinha HÁ MESMO animais do mesmo sexo envolvidos em cenas não recomendáveis a menores de dezoito anos (refiro-me aos menores ditos «civilizados» que os outros, os ditos primitivos, não têm traumas desses). 
O que nunca vi decerto, foi animais (homo ou hetero) ligarem-se pelos laços do Sagrado Matrimónio (por civil ou por igreja, tanto faz). 
E então? se só vale o que é «natural» vamos acabar com o casamento? não seria melhor rever esse estulto argumento da Natureza, sobretudo quando dela se sabe tão pouco, ò fanáticos de todos os credos?...


Nota 1 : Sendo o autor destes comentários agnóstico assumido, convém dizer que respeita todos os crentes de todas as Religiões que não se sirvam do(s) seu(s) Deus(es) para justificar o que não tem justificação possível!


Nota 2 : A Bíblia, Nova Ver$ão, está dividida em duas Partes: o Testamento Póstumo e o Testamento Vital. No Próximo Domingo passaremos ao Livro VI, o último dos que integram o Testamento Póstumo (será o livro de São Maquias). 
Depois, serão publicados os quatro célebres Evigaristas (São Met'euros, São Mercos, São Lucros e São Jurão). Seguem-se os X-Actos dos @pós-tolos, as Cartas Pistolares (da autoria de Paulão) apontadas  à cabeça dos vários povos (aos Ramonos, aos Coristas, aos Cálotas, aos aos Enfézios, aos Filipensos, aos Calasensos, aos Tessalinocentes) vem depois as Cartas (ou raspanetes) dirigidas aos crentes da Nova Re£igião. 
Por fim, o livro do Sagrado Cifrão termina com o Bankeclipse segundo S. Jurão.



Saturday, July 23, 2011

O homem invisível- Os filmes da minha vida por Sir Frankie Goethe Wally Wood

Sou velhinho mas não tão velhinho que tenha vivido uma das mais fascinantes eras da literatura mundial. Nem sequer posso dizer que vivi também a mais fascinante era do cinema mundial. 
No primeiro caso, falhei por seis ou sete décadas esse período áureo de escritores geniais que justamente povoam ainda o nosso imaginário aventureiro: Allan Poe, Rimbaud, Joseph Conrad. Aldous Huxley, H.G.Wells, James Joyce, Oscar Wild, Mary Shelley, Bram Stoker e tantos outros que desbravaram territórios até aí impensados. 
No segundo caso, falhei menos duas ou três décadas, consoante os casos, gente tão genial como James Whale, Otto Preminger, Eisenstein, Luchino Visconti ( a lista seria quase tão grande como a dos escritores).
Dos acima citados, James Whale talvez seja o menos conhecido. Não por falta de curriculum: cineasta britânico radicado nos Estados Unidos da América, no seu tempo foi bastante popular graças a filmes como Frankenstein (1931), A noiva de Frankenstein (1935) e, filme que abordaremos aqui, O homem invisível (1933).
Obra do já referenciado H.G.Wells (ver artigo sobre a guerra dos Mundos), escritor prodigioso pela capacidade de antecipação, amigo do também já citado Joseph Conrad (ver artigo sobre Apocalypse Now), posso dizer que o filme, realizado três décadas depois, está neste caso bem à altura do livro, muito graças às técnicas desenvolvidas pelo fotógrafo Arthur Edeson, pioneiro daquilo a que hoje chamaríamos «efeitos especiais». 
Apesar da «velhice» do filme, o espectador surpreender-se-á com o profissionalismo das imagens, longe dos toscos efeitos a que alguns filmes seus contemporâneos nos habituaram.
De que trata então o homem invisível? de um cientista (Jack Griffin) que inventa a fórmula da invisibilidade e decide usar-se como cobaia. 
De início homem apaixonado e inquieto, desperta-nos bastante empatia: enquadra-se bem naquele arquétipo romântico do homem de conhecimento, do pesquisador incansável que vive para a sua ciência, desligado de quase tudo o resto. 
Ou seja, Jack Griffin nada parece ter de perverso e na verdade, antes de começar a tornar-se invisível, assemelha-se mais a um filho da Luz que a um mensageiro das Trevas. 
Apesar disto, à medida que vai saindo do mundo das coisas visíveis, os seus actos e prioridades, começam a mudar radicalmente: apercebera-se da sua impunidade, enquanto homem invisível. Perante esta alteração de personalidade, podemos ter duas leituras diametralmente opostas (nem livro nem filme apontam nenhuma delas):
1) a invisibilidade desumanizou a criatura, encerrando-a, definitivamente, dentro da impenetrável concha do seu egoísmo.
2) a invisibilidade limitou-se a ampliar certos atributos bem humanos, dando-lhes campo livre para que se expressassem sem constrangimentos.
O que separa os que optam por uma ou outra explicação é apenas o optimismo ou o pessimismo quanto à natureza humana pois quanto a consequências , nenhuma diferença faz a escolha. 
Em ambos os casos estaremos sempre diante do reconhecimento do quão irrisório é o conceito de personalidade: náufragos num mar de circunstâncias, jamais saberemos porque razão exacta, procedemos como procedemos. 
Estamos e estaremos por isso sempre expostos à possibilidade de bruscas viragens, passando a procurar o que antes nos merecia desprezo ou deixando de buscar o que em tempos se nos afigurou sublime.
Daí eu todos os dias agradecer, também às circunstâncias, terem-me tornado naquilo que sou hoje!

Friday, July 22, 2011

CONSULTÓRIO DO SEXO: Pela Dra. M. Gustava de los Placeres y Morales

Um radioso dia para as meninas e para os meninos que se portaram bem, que os que se portaram mal já tiveram uma radiosa noite (ou nem por isso, mas tentaram). 
Hoje vou falar de um assunto que para muitos ainda é tabú: ao contrário de alguém que conheço, não sou cara de pau, logo não preciso de passar a vida a esconder-me atrás dos ditos.  
Falarei de pedofilia, tema em voga mas nem por isso devidamente esclarecido. Para começar, desmontemos a palavra: se pedo significa criança e filia amizade, o equívoco começa logo aqui. Não duvido que um pedófilo empedernido finja  amizade para se aproximar das vítimas. O que me incomoda na palavra é tomar-se esta interesseira aparência por realidade: neste ponto os pedovioladores (devia ser esse o nome das criaturas) já estão a ganhar 1-0: é-lhes reconhecido uma nobreza de sentimentos que na verdade, não possuem. Porque um verdadeiro amigo de crianças não é, nem pode ser, pessoa malvada, pelo contrário: defender os mais fracos sempre será um sinal distintivo da verdadeira nobreza.
Uma criança, em princípio, confia sempre num adulto que lhe fale de forma maternal ou paternal. E mesmo que não confie, não tem estrutura física ou psicológica para recusar-lhe obediência por muito tempo (infelizmente também sobram adultos com estas características). 
É por essa razão que um «pedófilo» não é apenas uma criatura hipócrita, dissimulada e profundamente perversa: é acima de tudo um cobarde da pior espécie. Porque se serve da frágil condição dos mais pequenos para enganar, amedrontar e por fim chantagear, transferindo a culpa para a vítima que muitas vezes nada sabia da perversão de alguns «crescidos». 
Fá-lo de uma forma egoísta, nunca se angustiando com o sofrimento que provoca. O pior disto é que, não raro, os pedovioladores contam com uma misteriosa protecção policial,  judicial e religiosa quando não mesmo legislativa. Alguns são apanhados e logo soltos com a complacência e/ou conivência das autoridades ditas competentes. Outros nem chegam a ser intimados, embora se saiba onde vivem e de quem abusam. Repetem-se tratamentos de excepção a esta ou àquela figura pública e até a um ou outro figurão desconhecido. 
Tais repetições começam a acontecer em número demasiado elevado para poderem ainda ser encaradas como acidentais. Começa a ser minha convicção que somos todos súbditos de pedovioladores e que são eles que comandam o destino das Nações e do Mundo. Se não acreditas nisto, leitor, proponho-te o seguinte exercício: relê este texto substituindo as palavras pedófilo(s) ou pedoviolador (es) por político (s) e criança(s) por povo (s) verás como estas linhas continuam a fazer todo o sentido! 

Thursday, July 21, 2011

Elitist Families by Lilith Lovelace

I never got any satisfactory answear to this simple question: considering fair the economical triumph of the pigs, what is the justice of having, on the other side of the pig house, so much suffering and misery?, 
The central issue, for me, is less to know if the good lifers deserve what they have than finding out if the ones that suffer realy deserve their pain. 
I know there is a schizophrenic vision of the world, spread by the ultralibs and neocons of both sides of the Atlantic, according to wich richness and poorness are not comunicating vessels. In this kind of vision, the vessel of the rich can always get more and more filed without emptying (even more) the other side. 
In a time of furious demand of the finite resourses of the planet, (fossil energies, metals, water), I don't think I need to show more proves of the mental indigence of such a vision. 
Instead, I prefer to say I'll never find acceptable that one person (or family) has more money than hundreds of crowded nations, like it happens nowadays, without scandal of anyone.
The elitist families that roule today our world live out of this world: They live in Paradise Islands, served by small batallions of «employees», watched by videovigilance systems and guarded by efficient private armies.
Their goods, money included, is also not to mix with the savings of any working family, not even the bank accounts of the small bosses: a member of the Elitist Family would never accept this kind of promiscuity, even if we are talking of tradable things.
They find the simple concept of sharing so outrageous, that none of them should accept beeing observed by a doctor who had contact with other pacients, by a lawyer who should be working for other clients, and even less by a chef who was cooking for mor people or a hooker who was also serving (or should serve) someone else.
So they have to hire people in exclusive regime, a little like the domestic roman slaves, entirely dedicated to their masters.
Used to be the center of all atentions, even when they hide from the public view, they manage their public declarations as their silences in the same way they do with their money: always thinking in their own profit. In the moment of death itself, when they are religious, they'll have by their side an archbishop or even the Pope, otherwise what influence could a simple Preast over the All-Mighty?
This is, in fact, the only misery of this creatures: to remmember they haven't yet gathered enough money to buy eternal life. 
As consolation for such unhappiness, they expect that God, in His unlimited kindness, already did make a reserve for them in Paradise, according to their status, and so far way from the stinky population as they allways were on Earth!




Nunca tive uma única resposta que considerasse satisfatória a esta simples pergunta: Ainda que houvesse mérito no triunfo económico dos porcos, seria justo que do outro lado da pocilga se acumulasse tanta miséria e sofrimento? A questão que me incomoda, mais do que saber se quem tem boa vida a merece, é a de saber se quem sofre merece, realmente, sofrer. 
Sei que há uma visão esquizóide do mundo, divulgada pelos ultralib e neocons dos dois lados do Atlântico, segundo a qual riqueza e pobreza não são vasos comunicantes. Nesta visão, o «vaso» dos ricos pode continuar indefinidamente a encher sem que o outro vaso esvazie ainda mais. 
Numa época de desenfreada corrida aos recursos finitos do planeta (energias fósseis, metais, água), nem preciso de apresentar mais provas da indigência mental de tal visão. Interessa-me antes dizer que nunca considerarei aceitável que um indivíduo ou família possuam mais dinheiro (que compra aqueles recursos) que centenas de populosas Nações somadas, como se passa hoje em dia, sem que tal faça ninguém corar de vergonha.
As famílias elitistas que hoje comandam o mundo, vivem fora do mundo: habitam em fantásticas ilhas privatizadas, servidos por pequenos batalhões de serviçais, guardadas por sistemas de videovigilância e temíveis exércitos particulares. 
 Os seus bens, dinheiro incluído, também não se misturam com as contas poupança de qualquer família de trabalhadores, nem mesmo com as contas dos capatazes: jamais um membro da família elitista toleraria a ideia de tais misturas, mesmo entre objectos circuláveis. 
É-lhes tão atroz esse conceito de partilha que nenhum deles aceitaria ser observado por um médico que também tocasse outros pacientes, ou por um advogado que servisse outros constituintes, menos ainda por um cozinheiro que confeccionasse também refeições para outros, ou por uma prostituta que tivesse servido ou viesse a servir mais alguém, donde se lhes torna imperativo contratar gente trabalhe para eles em regime de exclusividade, um pouco como os escravos domésticos romanos, inteiramente dedicados aos seus amos.
Habituados a ser o centro das atenções mesmo quando se escondem da atenção geral, gerem as suas declarações públicas e os seus silêncios como o resto dos seus bens: sempre em função do interesse próprio.
Na própria hora da morte, se forem religiosos, com toda a certeza terão no leito de morte um arcebispo senão mesmo o Papa, pois como poderia um vulgar padre exercer a sua influência junto do Todo-Poderoso?, 
Esta é, de resto, a grande infelicidade que pode vitimar estas criaturas: lembrarem-se que ainda não conseguiram reunir dinheiro suficiente para comprar a imortalidade (não me refiro à imortalidade metafórica mas à real, à física).
Para se consolarem de tal infortúnio porém, sabem que Deus, na sua infinita sabedoria, já lhes reservou uma suíte  no Paraíso, condizente com o status, de preferência  longe da populaça mal cheirosa que, já em vida terrena, sabia bem ocupar o seu lugar...

Wednesday, July 20, 2011

OS «RAZÍADAS» por Luís Vaz de Cá (Mões, Beira Alta) Canto quarto, Estr. 17 a 20



17 - Estavam pelos lares temerosas
E de um infame medo quase frias
rezando as gentes, sempre tão piedosas
Prometendo jejuns e romarias
E eis que chegam novas belicosas
Os banqueiros pérfidas garantias
sacam do Estado, o tal a que gordo
chamavam (antes de o chuparem todo)


18 - Este ano sem arcos,  bandeiras
E sem balões de todas as cores
Até as populares brincadeiras
Se ressentiram de tais rigores
Mesmo no tempo seco que nas eiras
Os cereais deixaria  aos lavradores
(Não fora a desgovernada incultura
Ter já acabado com a Agricultura)


19 - Suspeitam as gentes  que este ano
Possa ser melhor do que o por vir:
Logo em doce embalo, grande engano
Escolhe refugiar-se em tal sentir
Donde decide, bravo e ufano
Que em grande se deve despedir
D 'um tempo que deixará saudade
Se aí vier a vera austeridade


20 - E assim se queimam os últimos cartuxos
alimentando a defunta quimera 
Uns vão a casinos, outros a bruxos
(há quem tire senha e fique à espera)
Inauguram-se fontes e repuxos
( E a Água como bem público já era
Um dia destes hão-de também privatizar
A luz solar, o vento e o luar )

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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