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Saturday, July 23, 2011

O homem invisível- Os filmes da minha vida por Sir Frankie Goethe Wally Wood

Sou velhinho mas não tão velhinho que tenha vivido uma das mais fascinantes eras da literatura mundial. Nem sequer posso dizer que vivi também a mais fascinante era do cinema mundial. 
No primeiro caso, falhei por seis ou sete décadas esse período áureo de escritores geniais que justamente povoam ainda o nosso imaginário aventureiro: Allan Poe, Rimbaud, Joseph Conrad. Aldous Huxley, H.G.Wells, James Joyce, Oscar Wild, Mary Shelley, Bram Stoker e tantos outros que desbravaram territórios até aí impensados. 
No segundo caso, falhei menos duas ou três décadas, consoante os casos, gente tão genial como James Whale, Otto Preminger, Eisenstein, Luchino Visconti ( a lista seria quase tão grande como a dos escritores).
Dos acima citados, James Whale talvez seja o menos conhecido. Não por falta de curriculum: cineasta britânico radicado nos Estados Unidos da América, no seu tempo foi bastante popular graças a filmes como Frankenstein (1931), A noiva de Frankenstein (1935) e, filme que abordaremos aqui, O homem invisível (1933).
Obra do já referenciado H.G.Wells (ver artigo sobre a guerra dos Mundos), escritor prodigioso pela capacidade de antecipação, amigo do também já citado Joseph Conrad (ver artigo sobre Apocalypse Now), posso dizer que o filme, realizado três décadas depois, está neste caso bem à altura do livro, muito graças às técnicas desenvolvidas pelo fotógrafo Arthur Edeson, pioneiro daquilo a que hoje chamaríamos «efeitos especiais». 
Apesar da «velhice» do filme, o espectador surpreender-se-á com o profissionalismo das imagens, longe dos toscos efeitos a que alguns filmes seus contemporâneos nos habituaram.
De que trata então o homem invisível? de um cientista (Jack Griffin) que inventa a fórmula da invisibilidade e decide usar-se como cobaia. 
De início homem apaixonado e inquieto, desperta-nos bastante empatia: enquadra-se bem naquele arquétipo romântico do homem de conhecimento, do pesquisador incansável que vive para a sua ciência, desligado de quase tudo o resto. 
Ou seja, Jack Griffin nada parece ter de perverso e na verdade, antes de começar a tornar-se invisível, assemelha-se mais a um filho da Luz que a um mensageiro das Trevas. 
Apesar disto, à medida que vai saindo do mundo das coisas visíveis, os seus actos e prioridades, começam a mudar radicalmente: apercebera-se da sua impunidade, enquanto homem invisível. Perante esta alteração de personalidade, podemos ter duas leituras diametralmente opostas (nem livro nem filme apontam nenhuma delas):
1) a invisibilidade desumanizou a criatura, encerrando-a, definitivamente, dentro da impenetrável concha do seu egoísmo.
2) a invisibilidade limitou-se a ampliar certos atributos bem humanos, dando-lhes campo livre para que se expressassem sem constrangimentos.
O que separa os que optam por uma ou outra explicação é apenas o optimismo ou o pessimismo quanto à natureza humana pois quanto a consequências , nenhuma diferença faz a escolha. 
Em ambos os casos estaremos sempre diante do reconhecimento do quão irrisório é o conceito de personalidade: náufragos num mar de circunstâncias, jamais saberemos porque razão exacta, procedemos como procedemos. 
Estamos e estaremos por isso sempre expostos à possibilidade de bruscas viragens, passando a procurar o que antes nos merecia desprezo ou deixando de buscar o que em tempos se nos afigurou sublime.
Daí eu todos os dias agradecer, também às circunstâncias, terem-me tornado naquilo que sou hoje!

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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