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Tuesday, August 30, 2011

História Universal da Cuskice - pela Dra. Glória d'Anais de Guerra e Antas

Antes de avançarmos um pouco mais na HUC, queria aqui aclarar alguns conceitos importantes para que o leitor estivesse apto a compreender os capítulos seguintes. Começarei por esmiuçar os vários tipos de cuskice ou fofoca (para as amigas e amigos brasileiros). Aqui vai:

Cusquice doméstica: é aquela em que os membros de uma família aproveitam a ausência de um ou mais deles para falarem abertamente das coisas que o ausente nem sabe que sabem dele. Num ou noutro caso, os parentes podem mesmo falar de coisas que o ausente nem sabe de si próprio. A vítima deste tipo de cuskice é quase sempre o Pai, que é quem passa mais tempo fora de casa, e também aquele que pior aceita críticas directas. Raramente os irmãos de idades próximas necessitam de se alvejar na ausência uns dos outros: aqui, a modalidade favorita é mesmo o insulto cara a cara e olhos nos olhos...

Cuskice inter-doméstica: é aquela que se faz nos salões de chá, nos cafés, nas manicures, cabeleireiros, barbeiros e outras casas semi-públicas. As vítimas são geralmente sempre gente das relações dos envolvidos: colegas, amigos, vizinhos. Mas também se fala de alguns famosos, para dar um ar mais sério e credível à coisa. O objectivo dos cuskadores ou fofoqueiros é, como no caso anterior, deixar claro que a pessoa visada é uma criatura miserável,  indigna do convívio de gente decente, que são todos os que estão a ouvir as suas historietas com ar aprovador. É errado portanto pensar-se que o cusko conta episódios sórdidos da vida dos outros SÓ por querer elevar-se: ele também está a querer enterrar alguém, de preferência bem fundo!!!


Cuskice inter-regional: é a que implica um razoável tráfego de informações entre cidades ou até regiões geográficas. Graças a este tipo de cuskice, as pessoas de uma dada região podem rir-se do ridículo sotaque de outras regiões e imitá-lo nas anedotas, pois que cada um sabe, intimamente, que o sotaque da sua própria região não tem gracinha nenhuma. Juntamente com o sotaque, um parolo do norte tenta copiar também outros tiques de um parolo do sul (e vice-versa) para mostrar aos seus conterrâneos porque razão são todos abençoados por não terem nascido abaixo do rio Y ou acima do Deserto Z. 
Tem de se compreender esta necessidade de afirmação pois muita gente não tem mesmo mais nada para inferiorizar os outros nem para se gabar a si própria!!!


Cuskice internacional: A natureza desta forma de fofoquice é semelhante à forma anterior. Há todavia aqui uma diferença de escala e, de certa forma, de objectivo, pois enquanto naquela o pândego que cuska e maldiz só pretende achincalhar o seu concidadão, nesta pode visar ainda mais longe. Falo, é claro, dessa profissionalização da cuskice que é a espionagem. Todos o País poderoso que se preze (e mesmo alguns Países que pouco podem e nada se prezam) têm agentes disseminados pelo mundo, no claro e cristalino intuito de espiar os pontos fortes (para copiar) e fracos (para saber por onde atacar) dos Povos que são seus anfitriões.
Como sabemos, a maioria esmagadora das Guerras ocorreram entre Nações. Ocasionalmente, houve Guerras Civis. Mas uma guerra entre cidadãos do mesmo País, todos o dizem, é sempre muito mais terrível: porque todos sabem mais uns dos outros do que seria saudável. Sabem onde apanhar o inimigo a tomar café e onde surpreendê-lo a beber o seu copo! Sabem a que horas voltam os maridos enganados e a que horas saem de casa as mulheres entediadas! sabem as horas da refeição uns dos outros e como interrompê-las com uma saraivada de metralhadora, só para estragar o apetite do inimigo. Pior ainda: sabem quando são os jogos de futebol, que é quando o inimigo se concentra num espaço que às vezes parece concebido como uma ratoeira...

(continua na próxima semana)

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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