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Saturday, August 27, 2011

Os Filmes Catástrofe por Sir Frankie Goethe Wally Wood

Catástrofe de filmes seria melhor designação para um género de ficção que sempre considerei um sucedâneo do masoquismo. 
Observar cidades e metrópoles familiares submersas por vagas desmesuradas, atingidas por meteoros que abrem gigantescas crateras, ver como os seres humanos, finalmente reduzidos à sua insignificância e impotência são trucidados por ciclones apocalípticos, por tremores de terra que abrem brechas com a imponência do Grand Canyon, por incêndios que fariam de qualquer inferno sobrenatural uma fogueirita risível, observar o formigueiro humano na sua desvairada busca de salvação, assistir ao caos em escala e intensidade nunca vistas, sabendo que no fim, uma ou talvez mais famílias de «eleitos» conseguirá, graças a quase sobrehumanas capacidades, o que milhões tentaram em vão: sobreviver!
É caso para dizer: aniquilaram (ainda que simbolicamente) grande parte da humanidade e a isso chamaram entretenimento! 
Consta que também assim acontecia, nesse velho Império que cedeu os seus símbolos ao actual: a Águia, o Senado, os poderosos Tribunais, a Moeda Universal. 
E creio que sempre sucedeu com uma certa classe de indivíduos que, tendo todas as necessidades (as básicas e até outras) asseguradas e até dupla folga (a do tempo e a do dinheiro ) para o lazer, descobrem horrorizados o vazio das suas vidas, o tédio, a lassidão, as fobias, as paranóias, as neuroses.
Um amigo (de um País que muitos considerariam do terceiro mundo) dizia-me, com certeira objectividade, que a sua Township era pobre mas que as pessoas que lá viviam eram mais felizes do que os ricos: os meninos brincavam na rua, os amores eram fáceis, a solidariedade entre as famílias não era palavra vã. Os ricos, dizia ele, viviam em condomínios fechados, criavam filhotes de aviário e eram todos castrados emocionais, ineptos para viver no planeta real, sempre com medo de serem roubados, violados, raptados, assassinados.
E é aqui que entra a minha explicação para o sucesso dos filmes catástrofe.
Considero que aquilo a que chamamos civilização pouco alterou o bicho-homem naquilo que ele tem de mais básico e instintivo. 
Pela coerção (das normas Religiosas, primeiro, hoje das normas Legais) os seres humanos reprimiram muitos dos seus instintos, de facto, mas não os eliminaram. 
Eles regressaram e, como seria de esperar, fizeram-no com a força torrencial de tudo o que é reprimido e impuseram-se aos cidadãos amolecidos, entediados, decadentes. 
Constatamo-lo todos os dias, nos meios urbanos, observando a sofreguidão com que pacatos transeuntes acorrem aos lugares de acidente, dificultando muitas vezes o trabalho dos paramédicos, dos bombeiros, das polícias e de outros agente em missão de socorro. 
Uma qualquer urgência ou febre de sangue parece apoderar-se desses rostos afogueados que perguntam, com mal disfarçada excitação, pelos mórbidos detalhes do acidente: como foi, que carros e quem esteve envolvido, de quem seria a culpa e um ou outro prognóstico sobre o estado das vítmas: aquele talvez se safe, o outro já nem respira, um terceiro ainda vai vivo mas já não terá hipótese de resistir até ao Hospital.
Tudo, ou quase tudo, gente que se diz crente na Religião da Paz e do Amor (designação que cada uma delas atribui a si própria) e que afinal obedece a Leis que nunca ninguém ousou escrever, com medo do que sucederia se «as pessoas» soubessem!
E o que seria assim tão perigoso que as pessoas soubessem? que somos animais? que temos instintos? que esses instintos podem ser contrariados mas que há sempre um alto preço a pagar por isso, pois eles voltam sempre, com a força avassaladora das grandes torrentes?
Sejam quais forem as respostas (não as tenho), quero recordar um velho provérbio inglês: sê cauteloso no que desejas pois às vezes os teus desejos podem tornar-se realidade!
Ora ainda há coisa de 10 anos, uma pequena catástrofe se abateu sobre uma cidade famosíssima, derrubando duas torres imponentes. Pouco depois, na sequência de um furacão que ficou célebre (Katrina), uma histórica cidade do Estado da Lousiana ficou praticamente submersa. 
Não foram catástrofes com a dimensão que nos habituámos a ver nas superproduções Holliwoodescas, mas qualquer um pressente que para quem as viveu, o impacto foi terrível! Decerto essas pobres pessoas não comeram pipocas nem beberam refrigerantes enquanto olhavam, num estado de quase transe, o próprio Armagedeão ...

Hoje, dia 26 de Agosto, o corredor mais povoado dos Estados Unidos (o litoral Nordeste) vai estar em Estado de Alerta por causa da passagem do Furacão Irene. Cerca de 50 milhões de pessoas podem vir a sofrer, com mais ou menos severidade. a força destrutiva destes ventos e descargas de água, que poderá culminar em Nova York. Oxalá tudo corra pelo melhor: se já nem na ficção suporto assitir a estas «façanhas» imagine-se o que odiaria ter de ouvir os idiotas de costume perorar sobre essa escória do cinema, classificando-os de «filmes proféticos»!

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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