Este é o país em que um senhor que vive numa casa de milhões na Quinta da Marinha não tem, conclui o Tribunal, bens para ser penhorados.
Este é o país em que um burlão condenado que, além de muitos outros, roubou um clube de futebol, foge para Inglaterra onde tem uma vida santa entre as 5 estrelas e a impunidade.
Este é o país em que um indivíduo gravado a tentar corromper é obrigado a pagar uma multa mixuruca e quem o denunciou às autoridades muito mais.
Este é o país em que o banqueiro que arruinou uma instituição e, com ela, as poupanças de tanta gente, publica um livro autobiográfico sobre a sua excelência profissional.
Este é o país em que o edifício da PIDE, que deveria ser preservado como memória de um tempo terrível, à porta do qual pessoas foram assassinadas no último desespero da ditadura, é hoje um condomínio privado de luxo.
Este é o país onde um actor que plagiou um filme e dele fez uma peça de teatro de sua ‘autoria’ continua a ser requisitadíssimo como se nada fosse.
Este é o país no qual dirigentes desportivos escutados a combinar resultados e chantagens se mantém na plena posse das suas funções.
Este é o país onde um processo de crianças violentadas, uma ignomínia que a todos deveria envergonhar, demora anos a ser resolvido - e ainda aguardamos.
Este é o país que, tendo uma das maiores reservas de ouro mundiais bem como uma das maiores Z.E.E., recorre pela 3ª vez à versão planetária da esmola.
Este é o país que volta a registar uma vaga de emigração entre os seus jovens enquanto imigrantes são recrutados para agitar bandeiras eleitorais a troco de comida.
Este é o país no qual nenhum criminoso do fascismo cumpriu pena enquanto heróis da revolução morreram no esquecimento, penúria ou ambos.
Este é o país onde um boy do poder registado a tentar manipular órgãos de comunicação social sai de uma empresa estatal com uma indemnização milionária.
Este é o país onde presidentes de Câmaras municipais a braços com a justiça não suspendem funções.
Este é o país no qual as florestas ardem, as filas de espera na Saúde aumentam e os preços disparam.
Este é o país no qual classes profissionais saem à rua quase por inteiro em protestos sucessivos - e em vão, fazendo crer que a nossa democracia já praticamente só o é de nome. Resta construir um ‘manifestódromo’ e cobrar bilhete.
Este é o país em que, a pouco e pouco, jornais vão fechando – e os raros que não pertencem a grupos económicos são alvo de fiscalizações e providências cautelares.
Este é o país em que empresas num factual regime de monopólio no sector pagam obscenidades como ‘prémio’ aos seus administradores, a terra onde políticos acumulam pensões e governantes saem dos cargos de serviço público para entrar nas chefias do sector privado.
Este é o país onde o enriquecimento ilícito… não é crime.
Este é o país onde quem manda ignora uma figura como o Dalai Lama enquanto se passeia de braço dado com personagens como Khadafi ou Chávez.
Este é o país onde o Presidente da República desconfia que lhe violam o correio, o Procurador-Geral da mesma acha que lhe escutam os telefonemas e conversas suspeitas entre altas figuras do Estado são mandadas destruir sem mais, desautorizando juízes e procuradores – que deveriam ser sinónimos de independência.
Este é o país que forma doutores e engenheiros para o desemprego enquanto desertifica o seu interior, deixa terras férteis ao abandono e esquece aquela que é provavelmente a sua maior riqueza, e sempre foi – o mar.
Este é o país onde, apesar da maior recessão na história da democracia, o TGV avança. Como?
Este é o país no qual, apesar dos estudos que comprovam e quantificam a sua importância no PIB, o apoio à Cultura tende a extinguir-se.
Este é o país onde um primeiro-ministro desistiu, outro decidiu trocar o cargo por um de maior ‘prestígio’ e um terceiro lá chegou sem ser eleito.
Este é o país cuja esmagadora maioria das suas grandes personalidades… não vive nele.
Este é o país onde os trabalhadores a recibo verde pagam impostos, segurança social e, em troca, não têm 13º mês, subsídio de férias, seguro de saúde, perdão… podia ter poupado tempo e palavras ao leitor: de retorno recebem NADA.
Este é o país onde o primeiro-ministro, envolvido num corropio de manchetes obscuras, desacreditado por promessas mirabolantes não cumpridas, enredado em comprovadas e repetidas ‘inverdades’ (como tanto se diz na gíria política) ainda colhe, segundo as sondagens, as intenções de voto de um terço dos eleitores.
Este é o país que dia 5 de Junho volta às urnas. Parafraseando Jorge de Sousa Braga, este é o país que – apesar do escriba ter 33 anos – ‘me faz sentir como se tivesse 800’. Seremos demasiado resignados, velhos ou fatigados para mudá-lo?
Com a devida vénia ao autor do texto, Luís Filipe Borges, revista TABU (semanário SOL),
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=20225
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=486483
http://octopedia.blogspot.com/2011/05/demolicao-controlada-da-economia.html
http://www.youtube.com/watch?v=tSukOWr1_vw&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=MzdoKfX0Izc&feature=related
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