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Sunday, May 8, 2011

O Livro de Jemerias & Sócios

Resumo dos episódios dos Domingos anteriores: Daniel (Dani para os amigos) é um jovem profeta nascido na Gabalónia, entre o povo escravo dos Abreus, que conquistou certo prestígio interpretando sonhos. Infelizmente, Nabuco, o Imperador, não gostou da explicação de um dos seus sonhos (o do Gigante com cabeça de ouro e pila de barro) e condenou-o a ser devorado por cinco leões. Dani untou-se com umas bagas azuis e, graças a isso, os leões cheiraram-no mas recusaram-se a fincar-lhe o dente. O jovem profeta dominava a linguagem leonina e, ao cair da noite, conseguiu «enrolar» os bichos, que o ajudaram a escapar da fossa onde todos estavam...

Uma vez cá fora, Dani pensou rápido: estava fora de causa tentar saltar os muros do Palácio e também não era boa ideia tentar passar de fininho pelos guardas. Escondido atrás de uma palmeira, ouviu então o toque de render da guarda. Exultou: sabia que os guardas do novo turno dificilmente estariam informados do que se passara durante o dia. Logo que achou oportuno, dirigiu-se às descaradas ao guarda solitário que vigiava o portão do Jardim Suspenso nº 69 e falou-lhe assim:
- Salvé, garboso soldado! há novidades?
O guarda olhou-o desconfiado. Àquela hora da noite, a pele azul do profeta parecia negra, cor comum a muitos povos que integravam o Império
- Quem és tu e o que queres?
- Oh, só fui dar uma espreitadela ao fosso dos leões. Sou o novo domador e queria assegurar-me que eles tinham cumprido a sua missão. E cumpriram mesmo, eh eh eh: só sobrou a cabeça do desgraçado. Andam a  jogar com ela como se fosse uma bola: passam-na uns para os outros mas não têm muito jeito: precisam de uns treinos extra. Por falar nisso: os teus colegas do turno da manhã não foram lá muito espertos...
-Porquê? -perguntou o guarda que era gordinho mas um tanto macambúzio.
- Porque nem «depenaram» o desgraçado. Podiam ter-lhe tirado, ao menos, as braceletes de ouro, para já não falar do fio de 200 voltas... 
- Hummmm!...se calhar era ouro falso...
- Achas? só se o nosso Senhor, o Grande Nabuco, dá presentes de pechisbeque! não te esqueças que antes de cair em desgraça, ele recebia bons presentes, a troco de uns bitaites sobre os sonhos Imperiais...
. Eh? não me digas que foi o tal profeta que se quinou?...pois! esse devia ter ouro verdadeiro sim...
-Até no escuro aquilo reluz, pá! eu se não estivesse sozinho, arranjava maneira de pescar as peças mas... espera! tu tens essa lança comprida, pá! deve dar para sacar as jóias do fundo do fosso...
- Pois, talvez!...só que não posso ir lá! tenho de ficar no meu posto...
- Porque não ma emprestas? eu posso tratar disso. Metade para mim, metade para ti, de acordo?
-Hummm! é proibido ceder a lança a não-profissionais. Achas que te despachas?
- Claro que sim, não custa nada! vou num pé e venho noutro...
-Tá bem, então, toma!...
E passou-lhe a lança, o idiota! Dani nem pestanejou: trespassou-o logo, trocou de roupas com ele e arrastou-o até ao fosso, atirando-o aos leões que lhe chamaram um Figo: comeram-no logo antes que ele os enrolasse também, com histórias de transferências lucrativas ou coisas assim
- Estão a ver, bicharocos que eu não sou tão mau como chegaram a pensar? - gabou-se Dani - sempre vos dei algo para meter à boca...
-Então agora - disse o leão de juba malhada - cumpre o que prometeste e tira-nos daqui...
-Ei, calma lá - respondeu Daniel olhando-os de cima- não sou mau mas palerma também não, que eu cá aprendi com políticos: prometer não custa mas já quanto a cumprir...e a mim dá-me um jeitão que vocês continuem na fossa! Até porque, com esse cadáver aí, todos vão pensar que vocês me comeram. Agora vou para o posto do imbecil que acabam de trucidar, aguardar a hora de render da guarda e depois...pisgo-me daqui, a passo lento, pela porta principal. E calhando até o soldo me pagam eh eh eh...
E assim fez, não sem antes de se lavar, para que a sua cor azul não despertasse suspeitas logo que nascesse o sol. Os leões, desesperados, passaram a noite toda a rugir mas em vão: só Daniel compreendia a sua linguagem, que não era bonita de se ouvir, tantos os insultos ao tipo azul que, com falinhas mansas os tinha, mais uma vez, enrolado! 
- Ingratos!- vociferou ainda o profeta já de lança em riste- atiro-lhes um gajo anafadinho para comerem e ainda protestam.  Se eu fosse mesmo treinador deles eu dizia-lhes. Que Paciência vai ter que ter o tipo para os aturar!!!
A madrugada chegou e com ela o fim de turno. Daniel foi substituído por um soldado da tribo dos Medos que mal falava Gabalónio e não viu nada de estranho na postura do jovem Abreu. Saiu sem problemas pela porta principal não sem antes se voltar para trás e ameaçar, entredentes: «Nabuco, não tarda muito voltarei para te curar, de vez ,os problemas de disfunção eréctil ah ah ah...»
Bem sei que, mais uma vez, o leitor achará estranho que os Leões se tenham deixado enrolar uma segunda vez. Mas em verdade verdadinha vos digo, irmãos, que quem assim pensa não anda atento ao que se passa ainda nos dias de hoje pois jamais alguém viu uma aliança com homens azuis funcionar a favor de outros que não...os homens azuis. Que o digam as Águias, que também já cometerem esse crasso erro no passado, com os resultados que se conhecem. E como veremos, não será sequer esta a última vez que, os Leões serão ENROLADOS pois o seu próximo treinador-domador é também, ele próprio, um homem nascido, crescido e formado na escola azul. 

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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