História Universal da Cuskice - pela Dra. Glória d'Anais de Guerra e Antas

- Dra Glória: já vimos o papel que a Cuskice desempenhou na invenção e desenvolvimento das artes, da escrita e da aritmética. Já só lhe falta dizer que também nas diversas Religiões ela desempenhou papel fundamental. Chegará a Dra. ao ponto de defender tal coisa?

- Mas é claro que sim, Joaquim Silva. Comecemos pelas Religiões Politeístas, que foram as primeiras.  Qualquer mitologia, seja arcaica ou clássica, o comprova. Pense-se nisto: quando um qualquer Deus ou Deusa, descia à Terra para seduzir as gajas boas e os «garanhões» que por cá pululavam, que faziam? disfarçavam-se de mil e uma coisas, certo? de touros a bodes, passando por simples mortais, não havia estratagema a que não recorressem para seduzir as cachopas e os mocinhos mais apetecíveis que habitavam este Vale de Alegrias, de acordo?.

 Ora bem, Joaquim, porque acha que Eles e Elas actuavam dessa forma? achará o meu amigo que lhes era desvantajoso apresentarem-se como Deusas e Deusas? ora não me faça rir! se até os mortais não desdenham de mostrar as suas posses e talentos para lograr atingir os seus objectivos neste campo, que faria Um Deus ou uma Deusa, que por definição tem sempre muito mais Beleza e Poder do que os (e as) Magnatas do dinheiro e da Beleza deste mundinho?

Não é óbvio que, se eles se davam ao trabalho de se disfarçar, com isso pretendiam apenas evitar ser alvos da cuskice alheia? qual cuskice? Pois da dos outros Deuses, Deusas mas também (e não menos temível) a dos mortais de ambos os sexos! 

  Decerto que tais argúcias jamais lhes serviram de nada pois que sempre se veio a saber de tudo! a Cuskice está em toda a parte, no Olimpo, no Céu como na Terra! E as historietas antigas bem o provam, ou alguém ignora quem era o Touro que violou a Europa, quem era o Pai de Hércules ou quem engendrou o Minotauro? tudo se veio a saber, apesar das artimanhas, ou não?. 

  Falemos agora das religiões Monoteístas, que se desenvolveram apenas e só graças à cuskice. Como começaram elas (as três mais conhecidas, que são as que mais seguidores têm, actualmente)?. 

  Ora bem, todas começam com um qualquer maduro que vai para o Deserto e vem de lá com historietas inacreditáveis, não é verdade? Se bom senso houvesse, as pessoas que ouviram estes delírios sobre sarças ardentes, anjos anunciadores, camelos voadores e outras patranhas do mesmo quilate, atribuiriam estas visões ao sol que os putativos profetas apanharam na mona, durante o tempo em que andaram a espremer cactos e a alimentar-se de insectos repugnantes. 

  Mas não foi isso que aconteceu, pois não?. Todos  (bom, quase todos) acharam que se estava diante de revelações magníficas, decerto segredos com algo de verdadeiro (quem se exporia a tal ridículo sem que nisso houvesse algo de substancial?) e logo começaram a espalhar a palavra, mesmo sem jornais, revistas, rádios ou t.v.'s!. 

  Por outro lado, que raio de Deus omnipotente, omnipresente e omni-tudo, precisaria de se anunciar a uma só pessoa, se não soubesse que essa pessoa ia dar com a língua nos dentes? vou colocar a questão nestes termos: qualquer Deus com tantos talentos como o das Religiões Monoteístas teria facilidade em reunir toda a gente e fazer-lhes um anúncio inequívoco, que todos vissem e que ninguém pudesse questionar! e a quem questionasse, zás, aqui vai raio fulminante, para aprenderem a não pôr em causa a Palavra do Big-Boss, o que constituiria decerto, uma lição que todos recordariam, pelo menos por algum tempo. 
  Só que esse tal Deus não é tão totó assim e, em vez disso, preferiu atrair um alucinado qualquer ao Deserto, fazê-lo ter visões do arco-da-velha e sussurar-lhe baixinho ao ouvido: «agora vê lá hein? isto fica entre nós, ok? nem uma palavra sobre o que acabas de ver e ouvir, está bem?.» 

  E Porque agiu assim o Todo-Poderoso? porque sabia bem que, mal regressasse à sua comunidade, o tipo não ia calar aquela matraca e ia contar, tintim por tintim, tudo o que tinha visto e ouvido, e até inventar, quiçá, mais pormenores, só para impressionar toda a família, os vizinhos e outros cuscos! 

  E um tal Deus faria isto, não só para poupar trabalho, mas também porque sabia que assim seria bem mais eficiente do que apresentar-se diante de todos e dizer logo quem era e ao que vinha! 

  Porque neste segundo caso, Ele, Deus, bem sabia que, com a memória de galinha que caracteriza a maioria dos hominotes, no dia seguinte já teriam esquecido tudo, os seus mandamentos à cabeça, porque estas criaturas só recordam o que lhes dá jeito!    
 Portanto, o melhor foi mesmo seguir a estratégia da cuskice, que era remédio santo para divulgar a sua mensagem e evitar que a coisa caísse no esquecimento, o que o obrigaria a voltar vezes sem conta para refrescar a memória dos recalcitrantes.

  Desta forma a sua mensagem difundiu-se, não só ao longo do Espaço como ao longo dos Tempos, sem ter de andar sempre a repetir o mesmo e sem ter de andar sempre a aplicar castigos porque, parecendo que não, castigar também cansa. 

  Que o digam os pais das novas gerações que tantas vezes desistem de educar os seus filhos só para não terem de andar a repetir sempre as mesmas coisas!. 
  Portanto, que a cuskice teve um papel predominante no aparecimento e divulgação de todas as Religiões e isto só não vê quem não quer!

 E note-se que, para não ferir aqui susceptibilidades, nem refiro aqueles rumores sobre quem foi (ou não foi) o Pai de uma certa criança, supostamente nascida de uma Virgem, história essa que, pelo nível de maledicência que decerto provocou na altura, desempenhou, sem dúvida, o seu papel na divulgação da religião a que o menino deu origem!

  Ou aquela outra história de saber se um tal caixeiro-viajante, que deu origem a outra dessas Religiões, tinha ou não o hábito de fugir para o Deserto só para se livrar da sua esposa que tinha mais vinte anos do que ele, e que o vigiava constantemente para verificar se ele não andaria metido com as garotas lá do burgo.

  Ou a outra história, ainda mais antiga, de um filho adoptivo do Faraó que fugiu para evitar ser preso pelo assassinato de um egípcio que contou uma anedota racista sobre o seu povinho de origem!

  Há alguma dúvida sobre toda a cuskice que envolve todas as Religiões? mas como pode haver, ò homens de Deus? está tudo nos livros que uns e outros escreveram para que nunca mais ninguém deixasse de contar as peripécias que envolveram Mestres, Discípulos e Perseguidores dessas crenças, expondo diante dos olhos de todos as vicissitudes, incongruências e demais pormenores ridículos de cada um! 

  Tanto assim é que ainda hoje se fala nisso, bolas!