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Sunday, May 22, 2011

Livro IV- O livro dos Jobs (e dos Boys)

Um dia em que os «boys» do Todo Proprietário se apresentavam diante diante do seu Senhor, o inimigo Sá Tenaz foi junto com eles. O senhor disse-lhe então: 
- Vês como eles me obedecem, os «boys» dos Jobs? não há ninguém à face da Terra tão obediente como eles. 
Então Sá Tenaz enfureceu-se e retorquiu:
-Pois pudera! porventura eles te servem desinteressadamente? não lhes deste, em abundância, tachos e tachinhos? não lhes pagas, a todos, ajudas de custo enquanto outros alombam com gasolina e portagens para trabalhar todos os dias? não dás a muitos carros, motoristas, assessores e guarda-costas enquanto todos  os outros pagam impostos para sustentar os teus boys e suas mordomias? Pois eu, em verdade, verdadinha, te digo: retira-lhes tudo o que lhes dás de mão beijada e verás se não te amaldiçoam e tentam derrubar-te! no dia em que o faças, vais ver como elas (e eles) te mordem, ò autocrata!
- Ah ah ah- riu-se o Omnipossuidor- achas que caio nessa? eu cá não me deixo levar como o  da outra Bíblia! bem sei que são todos uns interesseiros mas o interesse deles também é o meu interesse. Embora eu até os ache a todos desinteressantes, vou continuar a sustentar-lhes os vícios para que louvem o meu nome e votem em mim nos Congressos! nem que para isso tenha de ir pedir dinheiro emprestado aos Infernos (isto é, a ti e aos teus sócios) vou continuar a proceder como até aqui. E tu nem te vais importar, porque também lucras com isso. Podes pois ficar com as almas deles, ò parceiro, que eu daí abaixo não vou...
- Almas? -indignou-se Sá Tenaz- para que eu quero almas? já lá vai o tempo, ò Todo Proprietário, em que as almas valiam algo. Tu não segues as cotações da bolsa? em verdade verdadinha te digo, ò distraído que, desvalorizadas como estão, as acções das almas hoje em dia não valem o papel em que foram impressas. Eu cá quero é juros, juros, percebes? e quanto mais tempo passar sem que me paguem, mais subo os juros! por enquanto, os totós que ainda pagam impostos ainda julgam que um qualquer milagre os vai devolver ao Paraíso mas não perdem pela demora. E depois quero ver como lidas com o descontentamento do povinho!
- Ora -disse o Omnicobrador de Impostos- o povinho tem mais paciência do que o Job da outra Bíblia. Posso tirar-lhes casa, carro, demais bens e ainda levar-lhes os filhos como mão de obra escrava que nem uma palha mexem. E no fim, ainda me agradecem pois pensam que os amo, só porque sou o Amo eh eh eh. Vais ver como vão andar atrás de mim com bandeirinhas, quando chegar a altura das eleições. Convenci-os que eles são o meu povo eleito mas são eles que, ao botarem a cruzinha no boletim de voto, me elegem como seu Senhor, e carregam a minha cruz eh eh eh.
- Faz como quiseres, ò cleptocrata. Mas já sabes que não vos vou perdoar. O povinho ignorante vai achar que empresto a massa para vos salvar o coiro a todos ah ah ah. Mas quando chegar a altura de pagar juros é que vão ver de que massa sou feito!
- Está bem, está bem, vai-lhes dizer que já me disseste, para ver se eles acreditam. Esses plebeus ainda acreditam em almoços grátis e milagres. Não vês como rastejam e caminham quilómetros para agradecer coisas que eu nem lhes fiz? gostam de se sentir importantes, é o que é! julgam que são os meus favoritos cada vez que se livram de um pequeno mal. E nem se questionam porque faria eu favores a uns e não a outros. Para mim, eles são todos iguais! todos escravos dados a crendices...
- Bom, assim sendo, vamos lá ao empréstimo. Mas alguém tem de assinar e, como eles não sabem ler nem escrever (mesmo os que acreditam que sabem) tu vais ter de assinar por todos: por ti, pelos teus boys e pelo povão. Ora bota aqui a tua assinatura. Comecemos com 5 % de juros mas aviso-te já que, daqui a pouco tempo arriscas-te a pagar 25% como já acontece com outros a quem adiantei algum...
E o todo-Proprietário nem pestanejou: assinou de cruz e sem sequer olhar para as letras miudinhas do contrato. Pudera! ele jamais teve intenção de contribuir com um cêntimo que fosse e já se via a comprar, com grande parte daquele dinheiro, uma frota de carros novinhos (quem está no top dos que gama só pode ter um topo de gama, é claro), para si e para os seus mais dilectos boys. E não ficaria por aí: em breve compraria outros brinquedos caros. Feita a assinatura, ainda teve a distinta lata de dizer:
- Olha, sabes? acho que é melhor seres tu a impor ao meu povão as regras que vão ser necessárias para assegurar o pagamento! podia ser eu, mas não tenho tanto jeito para negócios como tu e ainda me arrisco a perder o controle desta coisa. É que isto é mesmo muita massa! que dizes pah?
- De acordo- disse logo Sá Tenaz sem se fazer rogado- mas isso vai custar-te mais algum que cá eu não trabalho de graça!
- Certo, certo - concordou logo o Capataz dos capatazes, esfregando as mãos de contente- trata então disso que eu vou tirar umas merecidas férias, ok? depois diz qualquer coisinha.
E se assim disse, melhor o fez: em poucos segundos PUFFF!!! já estava num resort com vista para um mar privatizado, rodeado de acepipes e de criados com maneiras. 
- Isto é que é vida - constatava feliz - acima de mim, só os F-16 que sobrevoam a MINHA PRAIA, que é este País à beira mar desplantado em troca de subsídios. E mesmo esses avioezitos só estão acima de mim para me proteger o coiro eh eh eh...

(continua no próximo Domingo)

2 comments:

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  2. Com a falta de memória e de sentido crítico, com a proliferação dos egoísmos e a mesquinha e estúpida vassalagem, haverá mais do mesmo. Até, quiçá, escassearem os jobs (também) aos boys e o cleptocrata perder o estatuto de amo. Será esperar demasiado do rebanho, mas oxalá.
    Abrir este Livro pode ajudar a aprender a ler.

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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