os ‘Razíadas’ por Luís de Cá , Mões (Beira Alta), Canto terceiro, Estr. 17 a 21

17 - Mas já Escrocas inquieto, revolvendo
As gentes incitava ao seu trabalho
Sua mãe, como ele ao fisco escondendo
As transações que fizera, por atalho
Iam-se as dúvidas primeiras desfazendo
Como acontece ao sol, o frio orvalho
Oh, onde a gente que tanto assim devore
E tudo esconda em recôndito off-shore?




18 - E de nova vitória cobiçoso
Já não descansa o pulha, até que veja
Novo estrago, como este, horroroso
Que à Nação sua trupe já deseja
Não tarda muito, o povo receoso
Se confunde co'a eleitoral peleja
Sem saber que é vã a pose heróica
Pois qu'o Governo está entregue à Troica




19 - Finje o laranja que ao rosa acusa
Poder fazer diferente e bem melhor
Enquanto negoceia a Pátria Lusa
Nos mesmos termos que o anterior
E de tanta perfídia bem abusa
Nos juros, o indiferente credor
E enquanto dentro o PEC esconjura
Lá fora bate a pála, à usura




20 - E algum do povo ingénuo ainda crê
Que outra cor escolhendo inda evita
O descalabro que o sensato bem vê
E a veloz marcha dessa atroz desdita
que só será nova para que não lê
A cláusula em letra miúda escrita
- Escravatura-clama quem de fora observa
E o tolo responde: venha a verba




21 - Duas versões terá porém a sentença
Uma para dentro, outra para fora
Exulta o Banqueiro co'a nova avença
Folgam as costas de quem tudo ignora
Mais eis que o Pau já desce sem detença
E se o algoz o detém -só por agora
É porque pelas eleições inda espera
Para acabar de vez co'a quimera




(a continuar na próxima quarta feira)