Bom diiiiiiiiiiiiiiiia, gente com pinta, como os meus ii. Cheia de força, aproveitarei o sol para pôr tudo às claras. O País anda expectante como uma virgem prestes a ser (mal) desflorada. Aqui e ali excita-se, solta um ou outro risinho nervoso, mas no fundo, no fundo, bem sabe o que o espera. Mal conduzido na dança diária da sobrevivência, vai levando umas pisadelas valentes mas finge que tudo está bem. Espera pela hora do jantar e mal sabe que desta vez vai comer pão duro e beber água da fonte. Depois, há-de ainda esperar por um passeio romântico à beira-mar, e também isto não lhe há-de correr bem: quem lhe der o braço para tal passeio, embora abonado, não disporá de uns reles euros para lhe comprar um simples creme solar. Portanto, vai dar escaldão, daqueles que arrancam a pele e deixam os corpos quase em carne viva. Por fim, já a caminho de casa, há-de dar-se conta que lhe resta a rua para o acto que fantasiou pleno de lances românticos e ousados. O enigma é saber se, depois de tanta canalhice, o País ainda vai permitir o acto brutal de violação, em público e diante de todos os olhares, cujo script há muito foi esboçado. Vamos à carta de hoje.
Cara Dra Gustava:
As más línguas andam já aí a dizer que me casei com o Paulinho Reportas. É mentira: trata-se de uma união de facto, por conveniência, como de resto é assumido por ambas as partes. De resto, já não é a primeira vez, que alguém da minha família junta os trapinhos ao manganão: o último ainda esteve junto com ele uns anitos, antes de fugir para a Europa. As minhas inquietações têm muito a ver com este facto: a minha família não gosta dele, nem da sua família. A sua família, também não morre de amores por mim, nem pela minha família. Mas uns e outros nada dizem, por enquanto: aparentemente, não se insurgem contra a nossa união de facto, mas também não dão pulos de entusiasmo. Sei bem que enquanto uns e outros retirarem vantagens da nossa vida em comum, ninguém há-de pronunciar uma palavra quanto à nossa escolha. Tudo estaria bem se ambos fôssemos criaturas de bom-senso mas infelizmente, o meu parceiro não é uma pessoa muito estável: não preciso de ser bruxo para antecipar que não tarda muito, a sua hiperactividade vai dar azo a comentários desagradáveis. Isto é tanto pior quanto a estrela do casal devia ser eu, visto que a minha família é maior e mais poderosa. Só que ele é um espalha-brasas. não consegue dominar os seus bichos carpinteiros nem se estivesse sob efeito de uma caixa de Ritalin. Já estou a ver toda a gente a dizer: «olhem, lá está o serigaito a dar nas vistas, nos ouvidos e no que mais haja para dar, e o Poças Coelho, com aquele ar de prisão de ventre, caladito, como sempre». Ora é este tipo de coisas que eu queria evitar! Dra, que me recomenda para manter o comportamento do meu parceiro dentro de padrões aceitáveis de decência? isto para bem das nossas duas famílias, é claro!
Poças Coelho, Lisboa-Vai-Ela
Caro Poças:
Como bem sabe, sou das que se opõe a relações de conveniência. Acredito mesmo que só nos convém quem é alvo do nosso amor e/ou das nossas fantasias mais íntimas. Mas pronto, não julgo ninguém que faça opções diferentes das minhas: escolheu uma «Ralação» dessas, tem mais é que a aguentar, se quiser, senão, deixe-a estoirar. Também não aconselho ninguém a meter as famílias nos casamentos ou uniões de facto: é muita gente e isso dá sempre promiscuidade. Ainda por cima entre a sua família e a do seu parceiro, venha o Diabo e escolha: na verdade nem as distingo bem, talvez por terem em comum muito mais do que uns e outros pensam e dizem: más-línguas, metediços, convencidos que são os reservatórios de todas as virtudes, intolerantes, abusadores do Património alheio, gastadores, vaidosos, quase não há defeito que eu não lhes encontre. Portanto, amigo Poças, em vez de se perguntar como há-de salvar o que talvez não mereça ser salvo, devia perguntar-me o que fazer para acabar de vez com tão ímpia aliança e aí sim, eu saberia dar-lhe muuuitos conselhos, todos eles de eficácia várias vezes testada e aprovada. Mas como não é esse o tipo de «dicas» que me pede, não vou aqui dar-lhe ideias: digo-lhe apenas para pensar duas vezes quanto à situação que você criou para si próprio. Para o desenganar desde já, digo-lhe que escusa de ficar descansado, pois faça o que fizer, vai correr mal: o seu parceiro é dos que faz tudo para destruir uma relação mas depois é suficientemente habilidoso para fazer todos acreditar nas culpas alheias. Quando tudo acabar, ele vai fazer o seu choradinho, culpá-lo de todas as maldades que ambos fizeram a terceiros e aí as vossas famílias voltam a zangar-se, como já no passado aconteceu. E para piorar as coisas, não se esqueça que a vossa casa vai ser governada a partir de fora. Não tenho mais nada a dizer-lhe senão isto: quanto mais cedo puser termo a este «erro de casting», menor será a humilhação para si e para a sua família. Quando quiser as tais dicas para apressar a «separação de facto» disponha!
Dra. M. Gustava de los Placeres y Morales
Já que tudo nos falta, que nunca nos falte o humor.
ReplyDeleteEstá fantástico...:))
Parabéns!