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Thursday, June 9, 2011

A família dos Eleitos por Lilith Lovelace

À pergunta quem os elege, os ingénuos costumam responder: o povo. Ora acontece que o povo não existe: já alguém tomou café com ele? já alguém lhe telefonou ou encontrou na rua, nem que fosse para com ele trocar o mais breve dos olhares? quem é, então o Povo, ou melhor, o que é o Povo?
O Povo é uma entidade abstracta, semelhante a Deus: como não tem voz própria, qualquer um pode falar em nome dele. 
Tal como tantos Religiosos dizem, sem qualquer espécie de pudor que Deus gosta disto e reprova aquilo, que recompensa estes actos mas castiga aqueles, sem nunca lhe terem perguntado nada ( e muito menos esperado resposta), também os que enchem a boca com a palavra Povo não só não dispõem de nenhuma procuração deste, como expressam, usando e abusando desse nome, as suas próprias opiniões, num exercício de ventriloquismo que nada tem de espectacular e tudo tem de megalómano. 
Portanto, amigos, os eleitos, se eleitos forem de facto, selo-ão por outros seres com mais realidade material do que o fantasma Povo. Quem serão os eleitores, então? os militantes dos respectivos Partidos? formalmente, sim. Na prática porém as coisas passam-se de outro modo. Um eleito, antes de o ser é, ele próprio um militante, ou seja, uma criatura que participa na vida partidária, executando tarefas que nada têm a ver com os atributos que muitos ainda crêem ser apanágio dos governantes: cola cartazes, apoia candidatos a lugares apetecíveis dentro das estruturas Partidárias, bate palmas ou vaia aqueles que apoia ou pretende derrubar, vota moções, não porque as tenha lido e com elas tenha concordado, mas porque «apoia» aquele que as mandou escrever. 
Se esse militante (chamemos-lhe Zé Pagode) fez as escolhas erradas, isto é, se apostou em candidatos perdedores, nunca subirá na hierarquia do Partido nem que, por milagre, de vez em quando até tenha umas ideias catitas sobre as matérias em discussão. 
Já se esse militante (chamemos-lhe Xico Esperto) apostou nos «cavalos» certos, o seu futuro será, com toda a certeza, risonho e promissor, pois os «chefes» que ajudou a eleger têm de o recompensar de alguma forma, visto saberem que não há «moços» grátis, e que caso não lhe «adocem» a boca, o Xiquito pode bem trocar de camisola e passar a apoiar os rivais ou até mudar de Partido. 
Posta a questão nestes termos, até parece haver uma certa democraticidade nisto, pois de uma forma ou de outra, a subida na hierarquia do Xico parece depender apenas das suas capacidades (de previsão do vencedor e também do seu sucesso na arregimentação dos membros). 
Portanto o Xico irá sendo promovido, até constatar que chega a um ponto (que coincide com os cargos mais suculentos do Partido) em que a benção do suposto líder e o apoio das bases, já não basta para assegurar a continuação da sua escalada. A isto, noutras profissões, chama-se «o princípio de Peter» mas nesta devia chamar-se «o fim da xico-espertice», porque a ascenção a partir deste ponto passa a depender de factores exógenos e não das estruturas partidárias.
Porquê? bom, toda a gente sabe que os partidos não vivem do ar, ou das quotas partidárias que pouco diferem deste elemento. Significa isso que ALGUÉM (normalmente vários) financia estas instituições e decerto não o faz desinteressadamente. Portanto, quem se «chega à frente» com o «guito», não aceita qualquer Xico Esperto em lugares de relevo, por razões óbvias a saber:
1- Os financiadores não confiam em qualquer um para cumprir os seus «programas de auto-governo» e desconfiam particularmente dos que têm ligações muito fortes àquilo que se chamam «as bases»
2- A quase totalidade dos Xico-Espertos não possuem qualidades mediáticas que possam assegurar vitórias eleitorais, sem o que, o tal programa de auto-governo fica irremediavelmente comprometido
3- Nenhum Xico- Esperto é capaz de pensar muito além dos seus limitados horizontes: se lambem as botas dos chefes, é por si que o fazem e não pela preocupação com o aspecto do calçado daqueles. Logo, se um destes energúmenos se visse numa situação de «liderança» teria a tentação de romper os compromissos com os Finaciadores para, apoiando-se nas bases, instaurar um poder autocrático que lhe asseguraria sempre proventos suficientes às suas ambições.
4- Os Xico-Espertos são normalmente pessoas emocionais e emocionáveis, o que tem como consequência a sua imprevisibilidade. Como estas características agradam ao homem da rua, pouco dado a elaborações intelectuais, são sempre muito perigosas (não só para os Financiadores)
5- Os Xico-Espertos são pouco dados a distinções entre o que é o Património Pessoal e o Património Partidário, logo representam também um grande risco para os Financiadores que gostam de «Líderes» que confundam o Património Estatal com os bolsos deles (finaciandores) e os bolsos próprios mas, no que toca ao dinheiro fornecido aos Partidos gostam de honestidade e contas limpas! (é que este dinheiro sai dos seus bolsos, porra!)
Mais razões haveria mas creio que estas já são elucidativas para demonstrar que, a partir de um certo ponto, os eleitos passam a ser escolhidos pelas cúpulas e não pelas «bases». 
Como diz António Gil, meu amigo de infância  (Indústrias do Absoluto, edição Areias do Tempo): «...e nesta  divina lide/dominando a propaganda/ mandatado por quem manda/ eleito por quem decide...» ou ainda «tenho uma vocação rara/ pra tecer sublimes teias/ aplaudo certas ideias/ faço outros dar a cara...».
Caras alugadas, meus amigos, é o que são os ditos eleitos: maus actores, pricipescamente pagos. Oh ,meu caro Shakespeare, devias voltar cá abaixo para escrever sobre isto!

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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