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Sunday, June 12, 2011

O Livro dos Jobs e dos Boys

Naqueles tempos, os Boys andavam mui inquietos com o Todo-Mandão, pois anteviam a desgraça que se avizinhava: O povo andava fartinho de sacrifícios e tudo indicava que em breve os seus Jobs estavam em risco. 
Não era decerto a perda de trabalho que os afligia, pois eles, em bom rigor, não faziam nada que se visse: o que os angustiva era perderem as benesses que esses Jobs lhes asseguravam. 
Em pânico, começaram pois a conspirar contra o  Altíssimo, em mui secretas reuniões, tentando chegar a um consenso quanto a um novo Manda.chuva. 
Não era fácil essa decisão, não por causa das qualidades de quem ainda ocupava o Trono, mas antes porque todos se sentiam capazes de o fazer. Tentaram vários métodos, um dos quais era a votação secreta: todos terminaram empatados com um voto, não sendo difícl concluir daí que cada um tinha votado em si mesmo. 
Quando tentaram o voto de braço no ar, as coisas não melhoraram: por pudor ninguém votou em si, mas nenhum dos nomes propostos recolheu votos. 
Para sair do impasse, decidiram então que cada um devia explanar as suas ideias e projectos, devendo-se então votar não em pessoas mas em programas ou moções: também não resultou porque ninguém tinha sequer uma ideia, quanto mais um projecto. 
O melhor que alguns sabiam fazer (e mesmo assim não eram todos) era papaguear lugares comuns quase decalcados dos «princípios» que «norteavam» o grupo. 
O desânimo começava a instalar-se quando um deles (de nome Seia Thodinha), que chegou à reunião só neste ponto, sem pedir qualquer desculpa pelo atraso, subiu para cime de uma cadeira e assim falou:
- Amigos, não careceis mais de lutar por este posto que guardado estava para quem o iria ocupar. Acabo de ser eleito o vosso novo Deus, ò tansos!
Fez-se primeiro um pesado silêncio, logo seguido de  comentários indignados à mistura com gargalhadas dementes. 
Foi Mordaki quem, ainda limpando as lágrimas dos olhos de tanto rir o interpelou para lhe dizer:
- E diz-me ò meu Palhaço, quem te elegeu se quando nós votámos tu nem cá estavas? pensas que isto é algum circo, assim tipo Parlamento, onde quem falta ou se atrasa pode na mesma assinar a folha e ainda por cima votar no que já lá vai?
Sem perder a dignidade, Seia Thodinha esboçou um sorriso e desenrolou uma foto em formato de poster, onde se podiam ver e reconhecer várias pessoas: os financiadores daquela agremiação e, sentado na mesma mesa, ele próprio. Falou então assim:
Foram estes senhores que me elegeram, enquanto vós, por aqui, discutiam coisitas com menos interesse do que o sexo dos anjos, ò inefáveis anjinhos!
Algumas interjeições, umas de pura dor, outras de protesto, ainda se elevaram um pouco mas não passaram do tecto: morreram ali mesmo, abafadas pelo ar rarefeito daquela bizarra assembleia. 
Tendo  pensado melhor, muitos dos que tinham chegado a protestar, concluíram que o dinheiro que recebiam era demasiado importante para discordarem da referida «eleição». Mais valia portanto «colarem-se» ao novo Querido Líder, para não fazerem parte da facção derrotada: assim como assim, era melhor ser-se número dois dele do que ser-se número nada de ninguém. 
Mas isto não era ainda o fim do conflito, pois os muitos que aclamaram a proposta (e que eram a maioria) tinham outra coisa em comum, além deste apoio: exigiam ser eles o nº dois do novo elenco.
A querela tornou-se gritaria,  esta tornou-se quezília, a quezília tornou-se ameaça do género «agarrem-me senão eu saio» mas como ninguém ligava a este tipo de ameaças (antes se regozijavam com elas pois seria sempre menos um concorrente para os cargos apetecíveis) e estava-se já perto da bordoada da grossa, o Dr. Seia Thodinha tomou da palavra para dizer isto:
- Acabou-se a papa doce, ò indisciplinados bardinas: serei eu o número um, sim, pois sou eu quem assegura, junto dos nossos patrocinadores, o carcanhol necessário às nossas actividades. E como isto não merece contestação, serei também quem vai escolher o meu número dois, o número três, o quatro, o cinco e por aí fora, até fechar a lista dos elegíveis para lugares de responsabilidade. Os outros, os dos cargos intermédios, deixo escolher aos restantes. Creio que mais democrata do que isto não há, portanto, ou comem e calam ou continuam a gritaria e não comem nada que se veja, ou nunca ouvistes o provérbio «ovelha que berra, bocado que perde»?!?
Posta a questão nestes termos, todos se puseram a fazer as suas contas, o que lhes tomava muito tempo, trabalho e lhes provocava muitas dores de cabeça, pois eram todos péssimos a Matemática, e como não sabiam que resposta dar a uma tal investida, fizeram o que faziam quando não sabiam o que fazer: começaram a dar graxa ao novo auto-designado líder, na esperança de subirem nas «sondagens» (isto é de ocuparem, na cabeça da nova Divindade, um lugar honroso que lhes permitisse subir na vida, sem nenhum esforço, mérito ou outro atributo). 
Assim adorado, o novo Deus despediu-os a todos com um gesto magnânimo, tirou do bolso o telemóvel, marcou um número e logo que do outro lado atenderam, disse:
- Pai: estou Deus! fez-se tudo de acordo com a minha vontade!

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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