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Thursday, June 16, 2011

A Família dos revoltados por Lilith Lovelace.

«O Homem Revoltado», ensaio de Albert Camus em torno da «ontologia da revolta», é uma reflexão sobre um estado de espírito que atravessa, como um calafrio, a espinha dorsal da Humanidade de todos os tempos e lugares. 
Mas é importante dizer que, a revolta de que Camus trata, é parte menor do que hoje se entende sobre o tema. Aqui, a Revolta é um acto mais íntimo do que qualquer outro aspecto da vida privada: é uma questão visceral, que atira homens e semi-deuses contra os desígnios do Olimpo,  marcada por «pontos de viragem» decisivos em que o sujeito sacode, ou pelo menos tenta sacudir, o seu jugo.O castigo mitológico anda perto e está assegurado para todos os prevaricadores. 
De Prometeu e sua figadeira renovável entregue à águia insaciável, ao desgraçado Sísifo, trabalhador a recibos verdes que tem de fazer durante um dia de trabalho, o que há-de desfazer à noite, sem direito a horas extraordinárias, abundam os exemplos de pecados exemplares e seus exemplares castigos. 
A questão que se coloca é saber o que é um revoltado hoje:  haverá mesmo uma família de revoltados? se a revolta se «sente na rua», como é que ela não passa de um murmúrio, uma breve corrente de ar que tem o condão de fechar janelas e fazer bater as portas? 
Comecemos por distinguir QUEM É de QUEM ESTÁ, revoltado, que é questão decisiva. 
- É um REVOLTADO  todo aquele que, por uma decisão íntima e irrevogável, entrou em rota de colisão com o(s) seu(s) amo(s).
- ESTÁ revoltado aquele que atribui a sua temporária situação a uma «falha» corrigível do sistema. 
Esta segunda «apanha» de «revoltados» não costuma fazer nada que se veja, além das habituais lamúrias de auto-comiseração que não correspondem aliás, a qualquer desejo de mudar algo. 
Não se trata pois de uma «segunda linha» de revoltados mas de mais uma «corda de segurança» do sistema.
Donde se deduz que os verdadeiros REVOLTADOS têm estado dispersos, sem formas de potenciar essa dispersão com um plano de acção verdadeiramente coordenado. Até agora, pelo menos. 
Entretanto, todos os dias um ou mais dos verdadeiramente revoltados, descobrem um novo amigo verdadeiramente revoltado. A Congregação da Família dos Revoltados é o lento regresso a casa de todos os banidos. Um novo Futuro vai avançando, embora poucos notem.
Amigas e amigos revoltados: tenho esta boa notícia para vós: a História não está escrita, de uma vez por todas. Temos também umas coisitas a propor. Vamos começar a escrevê-las. Renovemos então as resmas de folhas, a pele da ponta dos dedos e os tinteiros...

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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