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Tuesday, June 7, 2011

História Universal da Cuskice - pela Dra. Glória d'Anais de Guerra e Antas

- Ora bem Dra. Glória, então, segundo o seu ponto de vista, a Cuskice está na base das Artes, dos primeiros progressos Técnicos e até da Religião. Já só falta dizer que também deu origem à Política! atrever-se-á a Dra a ir tão longe?
- Ora, Quim, nem parece sua, essa pergunta! em que seria, uma tal asserção, sinónimo de «ir longe»? mas que é afinal a política senão uma aliança de uns tantos espertalhões contra outros espertalhões, utilizando uns e outros, os papalvos de costume para atingir os seus fins? e como se faz isso sem cuskice e má-língua? analisemos a questão de PERTO, indo LONGE nos exemplos históricos. 
No início, o Grande Grunho não precisava de apoiantes, porque o seu grupinho era pequeno e ele tinha força suficiente para partir os dentes, quando não mesmo os maxilares, a quem fosse suficientemente maluquinho para lhe fazer frente, ou suficientemente incauto para se atirar às suas posses, muitas delas resultantes da extorsão que levava indiscriminadamente a cabo na tribo, roubando descaradamente a velhos e a novos, a homens e mulheres, a granditos e a pequenitos e chamando a isso «Governar». 
Um dia porém, o grunho Patranhas , seu súbdito apenas por razões de força maior (a força do Chefão, é claro), pois era um pouco mais esperto que os outros, fartinho de passar os dois tipos de fomeca (a literal e a outra, pois o Grande Grunho também fazia questão de monopolizar as fêmeas), notou que podia utilizar contra o tirano, a táctica que já ele e o seu amigalhuço Patacoadas utilizavam na caça, isto é, conjugar esforços no intuito de cercar a presa. 
A primeira tentativa que fez de arregimentar o compincha para a causa comum, não obstante todas as razões invocadas (a exploração de que ambos eram alvos, as fêmeas a que nunca tinham acesso sem ser à socapa, as humilhações, etc) fracassou por duas razões fundamentais: a primeira porque Patacoadas, embora grande fanfarrão, não passava de um enorme caguinchas e ainda tinha fresca na memória a última tareia do Chefão que lhe custara a perda de dois incisivos, um canino e um molar. 
A segunda razão era que Patacoadas, apesar da falta dos referidos dentes, mordia pela calada: aproveitava a distração do Grande Grunho para lhe assaltar a dispensa que também servia para alimentar as suas esposas e crias e, uma vez por outra, para se fazer às esposas do chefe que também não desdenhavam de «carne fresca», pois também não andavam felizes com a partilha de um macho que nem sempre dava assistência a todas. 
Ora este conhecimento das actividades secretas do seu amigo era precioso, porque podia ser, caso ele não alinhasse consigo, usado contra ele. À primeira vista, isto de bufá-lo ao Chefão, pode parecer sacanice, mas Patranhas sabia bem que Patacoadas era bem menino para o denunciar primeiro, desde que concluísse que isso lhe podia ser vantajoso, até porque gozava de melhor reputação junto do Grande Grunho, dadas as suas características de bajulador hipócrita donde, por questões de sobrevivência, resolveu antecipar-se. 
Como sabia porém que o autocrata confiava menos nele do que em Patacoadas, em vez de denunciá-lo directamente, começou a cuskar a vida do compincha, e não tardou a descobrir onde ele guardava tanto os alimentos que surripiava da toca comum da tribo (primeira versão de «desvio» abusivo do erário público) como as peças de caça e recolecção de frutos que não entregava ao Chefe (primeira versão de fuga aos impostos). 
Esse local que deixara agora, graças à cuskice, de ser secreto, situava-se junto de um riacho que passava não longe da gruta tribal, sob algumas pedras que o espertalhão empilhara para melhor proteger o seu espólio também de outras feras (além do Grande Grunho). 
Então, num  dia de calor e modorra em que o Grande Grunho se deixava catar pela sua favorita, a rechonchuda Willendorfa (Dorfinha prós amigos), Patranhas esperou que Patacoadas se afastasse sorrateiramente (como sempre fazia quando tencionava comer sozinho) e, quando calculou que ele já tinha chegado ao seu esconderijo secreto, colocou-se a distância segura do Grande Bicho, começando a arremessar-lhe pedras e a chamar-lhe nomes feios. 
Isto teve o efeito que pretendia, pois o Grandalhão levantou-se furioso e perseguiu-o sem tréguas até ao local que sabemos, pois Patranhas, na sua fuga, sabiamente até aí o conduziu. 
Aí chegados, o Chefão apanhou Patacoadas com a boca na chicha, e ficou confuso: quem havia de desancar primeiro, o malcriadão ou o ladrão? esse momentâneo estado de confusão foi-lhe fatal, pois Patranhas fez finalmente compreender a Patacoadas que, ou se juntavam contra o brutamontes ou ambos acabariam por levar da medida grossa. 
O resto, fê-lo a experiência de caça em conjunto! o primeiro atirou-lhe uma pedra rombuda que lhe acertou em cheio na têmpora, o outro, aproveitando a confusão e a dor do atingido, desferiu-lhe uma paulada certeira no lombo. 
Depois de algumas dentadas, unhadas e mais umas pauladas e pedradas, os dois companheiros levaram de vencida o Chefão, tendo logo de seguida feito dele um churrasco que comeram com redobrado prazer: foi o festejar da primeira vitória eleitoral.
Portanto, sem a Cuskice, a Política não teria nascido, como vimos e ainda veremos, posto que desde aí, embora (só um pouquito) mais refinados, os métodos de conquista do poder pouco mudaram: continuam a ser necessárias Patranhas e Patacoadas para substituir um autocrata por outro autocrata. 
Sim, porque não se pense que a seguir, os dois compinchas formaram um dueto para se governarem à custa do resto da tribo pois numa coisa os primitivos eram mais evoluídos e sábios que os contemporâneos seus descendentes: compreendiam que já era suficientemente duro sustentarem um lambão à custa dos outros e portanto, nenhuma tribo que se prezasse toleraria mais que um inútil!
Ora sabendo disto, Patranhas livrou-se do seu aliado logo a seguir à patuscada: deixou-o encher a barriga, esperou que ele fosse tirar uma sesta para debaixo de uma bananeira e, logo a seguir, sufocou-o numa folha daquela árvore de fruto e cortou-o em tiras finas que nessa noite ofereceu à tribo esfomeada. Daí vieram portanto três expressões ainda hoje muito usadas: «deitar-se à sombra da bananeira» que significa descansar sem acautelar os seus interesses, «Fazer a folha a alguém » que significa apanhá-lo desprevenido para lhe limpar o sebo e «fazer alguém ao bife» que todos sabem muuuito bem o que significa!
Amigos, até para a semana, na próxima terça há mais! (para si também Joaquim e veja lá se lê os meus livros e aprende umas coisitas que os historiadores oficiais, são como os pasquins e os canais de televisão cá da terra: só andam a impingir tretas ao pessoal)!

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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