7-O Todo-Proprietário contemplava a sua obra e via que estava tudo mui bem feitinho. Fora uma boa ideia pôr tanta gente a trabalhar para si. Ah, aquele regato, aquela árvore ciciando ao vento....e zás: Uma inesperada gritaria interrompe o seu Divino descanso. Ao espreitar pela câmara de circuito interno, vê Ressac, um fedelho insuportável, urrando como um animal ferido. Era demais e o Patrão dos Patrões, passou-se dos carretos:
- Mas que falta de respeito é esta? – trovejou- Agora nem já no seu Jardim um Deus pode descansar? -e zás!, lá vai raio que falha o alvo por questão de décimas de milímetro.
- Ah, escapaste, não faz mal, eu acerto contas com o teu pai...
E lá vai ele, mui célere e mui não-me-toques ter com o labrego nas horas vagas e pastor nas outras (ou seria ao contrário?) e apanha-o à entrada da taberna e assim lhe fala, sem papas na Divina Língua:
- Ouve lá, ò meu parolo, é para isto que Eu te deixo pastar as ovelhas nos meus terrenos? Para deixares lá o teu filho a guardar cabras enquanto tu vens para aqui emborcar?. Que fique bem claro: ou pões mão no teu filho e o proíbes de gritar, ou sais deste filme num piscar de olhos, entendeste?
Apesar de ébrio, o homem pareceu entender que podia ser despedido: prometeu-Lhe logo, logo que resolvia o assunto que isto da ameaça é sempre uma linguagem universal: todos parecem entendê-la muito bem, sem necessidade de tradução simultânea ou gestos grandiloquentes.
O Todo-Proprietário voltou pois, mui gáspeas e afoito ao seu refúgio e já jazia ledo e descansado quando...mal pregado ainda o olho , nova gritaria O retira do Doce Embalo...
Espreitando para baixo, mui molestado, viu a turba em volta do ancião repreendido, e guinchos aflitos de porco antes da matança e antes que a coisa descambasse apareceu por cima deles a tempo de ver Rabaão, de faca em punho, segurando o filho pelos cabelos, em deplorável espectáculo público com vincado cariz de crime de violência doméstica.
Um forte clarão, seguido da respectiva banda sonora (tipo BRROONNDOOBBOONNBBOONN) e eis o Ente Divino, aparecido e assim falando:
- Ei, ò grunho, também não precisas de exagerar: eu disse castigar, não degolar. O teu filho não é um carneiro, porra! Umas cinturadas bem dadas, por mim, é quanto basta!
A ruidosa maioria do povo achou isto mui sensato da parte do Patrão, aprovando tal recomendação com expressivos meneios da cabeça e dos punhos, e de punhos contra cabeças até ficar tudo a doer...
(A continuar aos domingos...)
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