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Sunday, April 24, 2011

O Livro de Jemerias & Sócios

(continuação do último domingo )

Breve resumo: Daniel foi chamado à presença de Nabuco, imperador dos Gabalónios, para interpretar o célebre sonho do gigante com cabeça de ouro, tronco de prata, braços de cobre, pernas de ferro e...pila de barro. Após breve diálogo, o Rei dos reis, passou-se com a explicação dada pelo jovem profeta e ordenou que o lançassem num fosso repleto de leões...

Ansiosos por mais um espectáculo grátis, os soldados agarraram em Daniel e arrastaram-no para o pátio, onde o jogariam aos leões. Ouvia-se já o rugido das feras esfomeadas quando o jovem sentiu uma enorme vontade de urinar. Antes que pudesse fazer algo, sentiu o líquido correr-lhe pelas pernas abaixo. Foi então que se lembrou do pormenor (era mesmo um pormenor) da pila de barro. Não ousara tocar nesse assunto porque receara a reacção do Senhor dos senhores. Mas agora, que estava prestes a servir de pasto às feras, já não tinha nada a perder. Encheu os pulmões de ar e gritou desesperado::
- NABUCO!!! ESTÁS A OUVIR-ME? EU AINDA NÃO TINHA ACABADO A MINHA INTERPRETAÇÃO!!!...FALTAVA-ME AQUELA PARTE DO CORPO QUE ERA DE BARRO...VAIS OUVIR-ME EM PRIVADO OU QUERES QUE EU FALE DISSO EM PÚBLICO? OLHA QUE DAQUI À FOSSA AINDA DÁ PARA CONTAR A HISTÓRIA TODA!!!...OOUVES-ME Ó MEU SENHOR?...
Teve sorte por gritar assim, pois o Imperador tinha vindo à janela para assistir ao espectáculo e, receoso que aquele segredo de Estado pudesse ser revelado em voz alta, ordenou aos guardas que trouxessem de volta o profeta, nascido entre o povo escravo dos Abreus.
Fechou-se com ele na sala do Trono e olhou-o furioso dizendo-lhe assim:
- Pois meu linguarudo, fica sabendo que por menos do que isto, já ordenei que se fritassem os tomates (em óleo de palma) a muito chico-esperto, sem os mandar seccionar primeiro. Será bom que tenhas algo útil a dizer-me senão, vais ter inveja dos muitos que mandei servir de sobremesa aos leões...
- Piedade, meu nobre, grande e generoso Senhor! mas eu sei que vos posso ajudar. Conheço maneiras de resolver o vosso problema. Tanto o do tamanho como o...bom, da falta de firmeza, se é que me entendeis...
- Entendo-te bem, ò parolo, que te mijaste todo pernas abaixo só por causa de uns leões que estão na fossa. Despacha-te lá com o que tens a dizer que eu tenho um compromisso com a Roxana, uma das muitas concubinas boazonas do meu harém e não quero fazer má figura...
- Bom, nobre Senhor: quanto ao tamanho, eu conheço uns acessórios que os homens menos dotados do meu povo usam, para enganar as miúdas. Quanto à rigidez, conheço um unguento que se esfrega e...bom, faz milagres. Diz-se que vem lá das Áfricas, onde nenhum homem padece desse mal que tanto aflige os machos da Gabalónia...
E assim o profeta ganhou tempo, pois Nabuco não ousou fazer-lhe nada enquanto não experimentou as duas receitas. O unguento até funcionou, mas o tal acessório via-se bem que era isso mesmo: uma prótese que, ainda por cima, lhe retirava sensibilidade e que nem por isso dava gozo às suas insaciáveis concubinas. Ora acontece  que tanto estas escravas como os eunucos eram muito calhandreiros e a emenda (literal, neste caso) foi pior que o sómeto (tipo de poema obsceno muito popular deste tempo e lugar). Em breve, por todo o Império Gabalónio, os arautos (declamadores) glosavam o tema com abundantes pormenores marotos. Deixo-vos apenas dois exemplos (a tradução é minha, que domino as línguas mortas de todas do Minguante Estéril):

«Por ter pila de menino
o tal qu'esta rima acusa
enfaixou-a com velino
e perdeu, de vez, a tusa...»

Ou, noutra versão ainda mais licenciosa:

OH! que ideia tão tonta
mas quem t'a deu, ò trouxa?
Antes pequena e com ponta
do que grandita mas frouxa

Claro que Nabuco foi informado logo, logo, da chacota de que era alvo, pois não faltavam lambe-botas estúpidos e delatores idiotas no seu vasto Império. Estúpidos e idiotas claro, que o Rei dos Reis exigia que lhe declamassem essas quadras para aferir da sua veracidade. E aqui, não havia salvação possível:: ou lhe obedeciam e eram mergulhados em Pez fervente, por terem memorizado frases Lesa-Majestade, ou eram devolvidos às famílias, por episódios (primeiro o mindinho, depois a mão, etc...até que o corpo ficasse completo para ser enterrado).
E o nosso Daniel? bom, esse foi mesmo juntar-se aos Leões na fossa. Não foi o fim dele, pois tratava-se de um rapaz cheio de recursos, como veremos. Mas isso fica para o próximo domingo, pois é preciso manter a coisa «suspensa» como os tais famosos jardins da Gabalónia...


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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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