23- «Ò vós, que fingis inda ter piedade
Da desgraçada Nação Lusitana
Que, com tanta miséria e adversidade
Ignorais do Povo a força insana
E crêdes que, por toda a Eternidade
Haveis de impor vossa lei desumana
Ouvi: de vós, o mal que recebemos
Já só com mal maior pagar podemos
24- Vós, que da Nação tornastes
O mar estéril, o solo infecundo
E pelos amigos distribuindo andastes
O pecúlio desse saque imundo
Pelo rosa e pelo laranja que comprastes
Com os dinheiros gamados do Fundo
Inda que viva eu, sem fama ou glória
Hei-de mostrar ao povo, que sois escória
25- Isto dizendo, pra que outrém veja
A hipócrita perfídia, cujo dolo
Já não escapa a quem ver deseja
( Que o Povo, se ainda se faz tolo
É porque a violência não deseja
Qu'Ele bem sabe a que leva o descontrolo
Quando o pão falta e a falsidade
Já não cobre o «cheque» da verdade)
26- Mas depois de já tudo ser notado
Mesm'o simples, qu' inda ontem pasmava
Hoje sai já de seu leito, irado
E na fúria da reacção que tardava
Se arremessa, qual escravo libertado
Contra quem, sorrindo, o maltratava
Pois que já se esvai, a anestesia
Que o cegava para tanta aleivosia
(continua às quartas-feiras)
No comments:
Post a Comment