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Sunday, April 3, 2011

O Livro do Juízes (ou do pouco juízo)

De entre estas célebres Cidades Estado de base económica manifestamente labrega muitas se destacaram embora nem todas pelos bons motivos. Falemos pois apenas dos bons exemplos, daquelas se mantiveram fiéis ao Todo-Proprietário, o Único, ou que pelo menos abrigaram, melhor ou pior, os seguidores do recto caminho, também conhecido por caminho do recto.
Na presente cena, veremos como Davida, um pequeno rapaz da tribo dos Abreus limpa o sarampo a um líder muito carismático do povo dos Camafeus. Começaremos então a filmar, em plano afastado, uma coorte de soldados comandados pelo próprio Engolias em pessoa, levantando uma nuvem de pó no horizonte, alternando com imagens de Davida, o rapaz pastor que, vítima da exploração de mão de obra infantil muito em voga na altura, se aborrecia a matar gafanhotos com a fisga. Aborrecia-se sim, porque se achava digno de melhores alvos e por isso rejubilou ao dar pela progressiva aproximação daquele exército que, a julgar pelo chinfrim de trompetas e tambores só podia mesmo ser de Camafeus. 
Ainda mal refeito da surpresa, olhou para trás de si e viu que, do outro lado do desfiladeiro se aproximava também uma chusma de homens mais maltrapilhos e bem pior equipados: os soldados do seu próprio povo. Receando ser apanhado na troca de setas, Davida pensou rápido e, como conhecia melhor o desfiladeiro de Hasdkavir que a cor do seu buço, escondeu-se numa gruta cuja entrada só mesmo um pequeno rapaz como ele podia utilizar.
 Emboscou-se então, e escolheu uma pedra bem rombuda que tratou de aguçar mais, tremendo de excitação. Não tarda nada, vê-se, filmado da própria gruta, o frente a frente dos dois exércitos, se é que tal coisa se pode chamar ao ajuntamento de uns tantos camponeses maltrapilhos que, parados diante dos camafeus, se deixavam seduzir pelas armas, armaduras e arreios militares do inimigo.
- Viste aquele Puro Sangue, conduzido pelo próprio Golias? Aposto que, apesar de rápido, o bicho nem come muito. Fará no máximo dez fardos de palha às cem léguas, que achas?...
- ...Não sei, às vezes um grande cavalo não é o mais caro. Eu prefiro-os seguros, que obedeçam bem, que saibam dar nas canelas quando queremos mas que travem em pouco tempo.
- Para não haver despistes desnecessários é sempre preciso ter em atenção o estado do lajeado, se está húmido, gelado, etc, bem como substituir regularmente as ferraduras para que não fiquem carecas.
  É neste momento que a câmara troca de campo, passando a filmar Engolias, gingando no seu nervoso cavalo, da ala esquerda para a direita, só para fazer ainda mais inveja aos peões maltrapilhos à sua frente e, já agora, aos  invejosos dos seus próprios lugares tenentes e demais subalternos. 
Assim falou o general em Chefe dos Camafeus, enquanto esporeava o seu  cavalão de um lado para o outro:
- Ratos de esgoto, Pois que estais aí fingindo que tendes intenções pacíficas, caminhai à nossa frente que nunca se sabe se as estradas (e sobretudo as pontes) deste país são de confiança...
- Sim sinhor Engolias, disse submisso o chefe daquele arremedo de exército.
  E o pequeno Davida, ali, encafuado no buraco, a chorar de impotência, raiva e vergonha por ter sido testemunha daquela lamentável humilhação do seu povo. 
  Foi então que, numa voz que ele tentou que parecesse grossa, gritou a plenos pulmões, uma frase que foi amplificada mil vezes por um eco formidável:
- ENGOLIAS IAS IAS IAS!-
- QUEM OUSA DIZER O MEU NOME? –gritou mas sem os efeitos de som que rapaz dispunha por estar dentro daquela gruta.
- REZA PELA ALMA PELALMA ELALMA LALMA SEU GABAROLA BAROLA AROLA ROLA.
Atet-komo, o magnífico cavalo estancou a uma esporada do Chefão (mostrar plano aproximado do cavalo empinado à Ferrari). Falou mas parecia muito atento, como se estivesse a tentar descobrir de onde viera aquela voz.
- OUVE-ME BEM, Ò RATO, EU SEI QUE ESTÁS ALGURES NUM DOS BURACOS DESTE MALDITO DESFILADEIRO E AVISO-TE: UMAS QUEIMADAS BASTAM PARA FAZER SAIR QUALQUER BICHO DA TOCA.
  Mas nesta altura o garoto não estava interessado em responder: concentrava-se no alvo (fimagem do interior da gruta, mostrar a cabeça de Engolias a meio do V da fisga) com a mesma frieza com que apontaria a um passarito que ao seu alcance pousasse. E lá vai, em câmara lenta, a pedra atrás do elástico que se contrai, cruza o espaço entre a forquilha da fisga enquanto Engolias, soltando perdigotos (close dos perdigotos saindo-lhe de entre os dentes ) totalmente alheado do perigo, continuava a metralhar basófias:
- POIS BEM: EU CAIA JÁ AQUI  SE NÃO TE DER UMA LIÇ...
E não é que caiu mesmo, atingido na cabeçorra pela pedrada do puto?...


PS: por lapso, este artigo da «Nova Bíblia, Livro $agrado» saiu trocado, na ordem cronológica, com o último, pois que todos sabem que o Rei Toleimão era filho do Davida aqui referido que, após este episódio foi escolhido para Rei do seu submisso Povo. Inaugurou-se assim uma nova era, após o qual o povo dos Abreus deixou de ser explorado por cleptocratas estrangeiros, passando portanto a ser «espoliado» por reis nacionais, que se revelaram bem mais competentes no assunto, até por saberem melhor onde ir buscar «os carcanhóis» do seu povito. (continua no próximo Domingo).  

1 comment:

  1. Muito bom.
    Também nós estamos prestes à sujeição ao toque rectal que precederá a intervenções invasivas, profundas, sem pudor nem anestesia.

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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