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Monday, March 28, 2011

O Livro do Juízes (ou do pouco juízo)

A sentença de Toleimão:

Ao fim destas aventuras e trabalhos, achando-se merecedor de algum bom trato, decidiu o Manda-Chuva desta história retemperar forças na Estalagem Divino Refúgio, tendo para o efeito encomendado lauta refeição de carnes biológicas (sem vestígios de nitrofuranos e quejandos) devidamente regada com o néctar da região, por sinal produtora de boa pinga. Depois de tantos deleites e iguarias , ainda antes do prelúdio que antecede a entrada das bailarinas desses exóticos países onde as mulheres não devem mostrar o rosto mas, caso mostrem arte, conquistam privilégios bamboleando o ventre ao léu, o Ser Supremo retirou-se para os Seus Aposentos e quase se sentiu passar pelas brasas quando ouviu novo alarido, desta vez sob a forma de gritos de mulheres, na praça ali em frente. Dignou-se então o Rei dos Reis a dar, mui asinha, um saltito lá baixo para ver o que se passava, (devidamente escoltado que nos dias que então corriam, nunca se sabia) quando maravilhado viu, de rojo, diante do Rei Toleimão, duas mulheres, em cena que, sem desrespeito para com as peixeiras, chamamos de grande peixeirada:
  • É meu!!! Vês os caracolinhos, como os meus? Os olhinhos, iguaizinhos aos meus? A boquinha pequenina como a minha? O nariz pequenino como o meu? Como é que tu, sua grande nariguda, podes dizer que o bebé é teu?
  • Ora!!!- gritou a outra de pronto- os bebés têm todos o nariz pequenino, e tudo pequenino, aliás. Lá porque tens cara de bebé, isso não quer dizer que todos os bebés do mundo sejam teus!
  • Bebé, eu? Ah, eu esgadanho-te toda, eu arranco-te os cabelos um por um. Olha que Eu sou muito mulher, ouviste? O teu marido que o diga!!!
  • O meu marido? Ele lá sabe o que é uma mulher a sério? Só se mete com garotas...
  • Basta- gritou Toleimão que já estava um tanto atrasado para a inauguração oficial do Templo da sua Santa Terrinha- Eu já não preciso de ouvir mais nada, já vi o filme todo...
    Fez-se um silêncio de cortar à faca e então, desembainhando a sua reluzente espada, o Rei aproximou-se da criancinha
  • Que vais fazer, ò nosso Rei? - Perguntaram muito a medo, as duas mulheres
  • Que vou fazer? Como sou um Rei justo e equitativo e, de facto, não tenho meios de saber qual de vós é a mãe biológica deste enfezado, vou cortá-lo ao meio para o dividirmos por ambas. Ah!!! E tragam-me duas tijelas que eu faço questão que o sangue também seja distribuído em partes iguais
Já a ralé, satisfeita com a oportunidade única de assistir ao esquartejamento em directo e ao vivo da pobre criancinha meneava a cabeça em sinal de aprovação à sentença, quando uma voz incógnita no meio da multidão, pôs uma mui pequena mas mui influente minoria daqueles grunhos a pensar, tal a acuidade da questão que colocou:
  • Mas- estarás tu bom da caixa dos parafusos ò nosso Rei? Um bebé não é nenhum bolo que se possa cortar às fatias para dividir pelos presentes...
  • Quem está de fora racha lenha – discordou uma das mulheres- o Rei sentenciou, está bem sentenciado Nunca ouviste dizer que palavra de Rei não volta atrás?
  • Não, o meu bebé não!!!- gritou a outra muito aflita- prefiro que a dêem à outra inteiro que a mim só metade. Tem piedade de mim, ò generoso Rei, que hoje em dia os funerais custam os olhos da cara dos vivos
  • B...BASTA!!! agora é que nem o dou a uma nem a outra!!! Como é que este bebé pode vir a ter um crescimento saudável e tornar-se um bom soldado nas minhas fileiras se ouvir, desde os primeiros dia da sua vida, vozes tão estridentes?
  • Soldado? Pois fica sabendo, seu autocrata, que filho meu não há-de ir à tropa: Era o que faltava que, na idade em que eles já não dão prejuízo e até começam a dar algum lucro, mo viesses buscar, só porque gostas de andar a brincar aos generais com os Soberanos da vizinhança
  • Ah agora não queres tomar conta dele, não é? Pois então eu também não quero, sua interesseira!!!
  • Caluda as duas!!!- gritou o Rei desesperado - como castigo pelas repetidas insolências, a partir de hoje, sem salário digno desse nome, condeno-vos a cuidar dos duzentos e cinquenta e seis fedelhos que as minhas concubinas deram à luz. Que dizes, primeiro ministro? Hã? Já são trezentas e sessenta e cinco? ...pois, é possível, sabes que é difícil um gajo andar actualizado nesse capítulo: até o nome das mães eu não sei de cor. São muitas, e muito barulhentas sabes?...
    E o povo, impressionado com aquela manifestação espontânea de Justiça, aplaudiu a magnificência do seu Grande Juíz Toleimão...

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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