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Sunday, March 6, 2011

G€N€SIS: A NOVA VER$ÃO (continuação)

10- Zé, filho de Ressac, foi vendido por seus irmãos a um caçador de cérebros e levado para o Egipto. Como arranjou bons padrinhos, agora está diante do Faraó, num desses palácios de encher o olho (e a página, se eu gostasse de descrições gabarolas.)
- Sabes por que te chamei, Zé? –pergunta o Rei dos Reis.
- Para interpretar mais um dos teus sonhos? –pergunta o jovem.
- Nem mais! Tu realmente és muito melhor augure do que os inúteis dos meus astrólogos, adivinhos e outros vigaristas...
- Sou todo ouvidos, caro faraó.
O Rei dos Reis levantou-se, cofiou a pêra e começou a falar.
- Esta noite, sem que tivesse bebido mais que o habitual, tive o mais estranho de todos os delírios. Vê lá tu que vi, junto ao Nilo, sete vacas gordinhas, de tetas reluzentes, serem engolidas por outras sete vacas, estas famélicas e secas como pedras. O mais estranho é que as últimas, após terem devorado as outras, não engordaram nem um bocadinho...
- Mau sinal- disse setencioso o nosso Zé...
- Sim? –perguntou o Faraó em pulgas- e porquê?
- Porque andamos nós a ensinar as criancinhas que as vacas são animais vegetarianos e ruminantes, para agora virem criadores sem escrúpulos alimentá-las com farinhas feitas dos cadáveres de outras vacas. Por este andar, qualquer dia não serão só os bichos a enlouquecer...
- Importas-te de falar mais claro? Vocês adivinhos e a vossa linguagem obscura às vezes irritam-me um bocadinho...
- O que quero dizer, ò nobre faraó, é que doravante te deves recusar a comer carne de vaca, a menos que a sua origem seja certificada.
- Porquê? se estiver estragada, os meus provadores oficiais é que se lixam!!!
- Sim, mas só daqui a sete anos. A doença das vacas canibais leva um certo tempo a manifestar-se...
- Oh diabo, sete anos sem comer um bife é realmente um bocado de tempo. Que sugeres?
- Que faças a tua própria criação de vacas, em pastos de áreas demarcadas, e que controles as condições sanitárias nos matadouros e talhos.
- Faça-se como dizes. Ficas tu responsável pela fiscalização de todos os talhos do Alto e do Baixo Egipto...
- Quanta honra, meu Rei, a de ser o vosso carniceiro-mor. Tivestes mais algum sonho que eu possa desvendar?
- Não! já não te chega, este monopólio? Olha vem lá Cimotapas, o meu arquitecto...
- Salvé Faraó, salvé Zé...
- Olá rapaz, que bons ventos te trazem?
- Estão ali uns tipos com mui mau aspecto que querem falar com José...
- Ah sim? –perguntou José de maus modos- diz-lhes que eu hoje não estou...
- Mas eles dizem que são teus irmãos e que vieram de longe...
- Então, Zé? Já te esqueceste das origens? Manda-os entrar- ordenou o faraó.
E lá entraram todos os manos de Zé, a barba e as repas cobertas de pó do deserto e os olhos encovados da fomeca que passaram.
- Oh, Zé, que alegria em ver-te rico e bem nutrido- disse Zabulão caindo de joelhos-que bem fizemos em vender-te ao enviado do faraó...
- Vamos lá deixar de lamechices e toca a dizer o que vos cá trouxe. Se é por causa das partilhas, esqueçam, não quero nada do que o pai tinha, dividi-o por vós que eu, graças ao Altíssimo, não preciso de tais migalhas...
- Oh, mas nós precisamos de migalhas, mano – disse Benjamim- de há uns anitos para cá, seca atrás de seca, as colheitas diminuíram a um ponto que, se não nos acodes, morremos todos à míngua...
- Eu bem vos disse que aquela terra não tinha futuro – respondeu José distanciado.
- Eh lá, ò Zé – interrompeu-o, chocado, o faraó.- tu vais deixar os teus irmãos morrer à fome?
- Oh tu não os conheces –disse Zé pouco comovido- se eu lhes der trigo, vão logo a correr para a Abreia vendê-lo no mercado negro a preços proibitivos. E hão-de dizer que a culpa é minha porque já o compraram caro.
- Hmmm...mas olha que deixares morrer assim o teu povo à fome, tu que até já fizeste um bom pé de meia, não ajuda a subir nas sondagens, vai por mim que sei de política...
- Eu não tenciono deixar que morram à fome: por mim, estou até disposto a alimentá-los mas vão ter de trabalhar para isso, que eu sou contra os subsídios...
- Que tencionas fazer, mano, perguntou Issacar aterrorizado com a perspectiva de ter de dar no duro
- Vou criar um campo de refugiados em Jassem para que, quem tenha fome, possa ter o seu prato de sopa. Dentro desse mesmo campo, existirá um centro de emprego que encaminhará os homens para o sector da construção, a civil e a religiosa, e as mulheres para o trabalho doméstico...
- Vamos ser escravos?- perguntou horrorizado Benjamim...
- Tu não, Benjamim, tu até vais ter alguma sorte comigo porque eras menor de idade na altura em que os tansos dos teus irmãos me venderam, sem sequer regatear o preço, por poucos talentos. Quanto ao resto, ser escravo no Egipto, é o sonho de qualquer emigrante clandestino: a bucha é boa, a pinga também, há cuidados médicos mínimos, formação profissional que permite aos escravos mais espertos fazer um bom pé de meia e progredir na carreira à custa de umas larachas....
E os manos agradeceram a oferenda e retiraram-se submissos e mui impressionados com o sucesso que seu mano Zé fizera por aquelas terras cheias de vivendas magníficas e edifícios públicos diante dos quais os turistas se faziam retratar em folhas de papiro, por artistas de rua que, já então, diziam mal do sistema.
- Não tens saudades da tua terra, Zé??- perguntou o arquitecto Cimotapas mal os seus irmãos saíram.
- Achas?- escandalizou-se José- e porque deveria ter? aqui há muito mais sítios para um gajo se divertir, à noite. E as Egípcias são muito mais giras que as Abreias: tomam banho e tudo...

1 comment:

  1. ...esse Zé tem uma lata de bradar aos céus, parecido com um Zé luso, bem trafulha, vigarista que escraviza a juventude, dando aos seus(dele) compinchas subsídios e gratificações por fazerem e camuflarem trafulhices!! Só vejo um senão, o Zé luso parece (diz-se por lá, coscuvilhice pura), que gosta da capital por favorecer o seu gosto por gajos!! Não é que arranjou uma namorada postiça(também ela virada) a quem prometeu casamento, mas ...a conjuntura deu ao Zé um arcaboiço de falta de vergonha que acabou com o casamento!!
    Descarado!!!
    Me desculpem tanta conversa, mas esta versão da GÉNESIS, que sigo fanaticamente,é tão interessante que me leva a "caminhar"...!!

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Viseu, Beira Alta, Portugal
autor satírico, cartoonista pseudónimo de António Gil, Poeta e Ficcionista, Não sectário, Agnóstico, Adepto Feroz da LIberdade de Imprensa e de Opinião...

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